12 de julho de 2008

Olho para trás, vejo tudo quanto escrevi e penso: serei este mesmo Eu? Penso na imagem que poderei dar ao escrever todas estas letras, todos os pequenos textos em que me exponho, em que tenho exposto toda a dor que me vem assolando (a qual é bem maior do que aquilo que descrevo) e chego à conclusão que devo parecer uma pessoa horrível, amargurada e totalmente desiludida com a Vida.

Estão certos.

No entanto, esse grau de desilusão a que cheguei permite-me largar todo o ser tendencial que existe numa pessoa que não desceu ao fundo do poço (será?) e poder tentar avaliar, imparcialmente, o valor que esta Vida tem.
É de noite e, por isso, as minhas palavras poderão sair mais... benevolentes. Hoje dei por mim a pensar, seriamente, que só as pessoas que receberam muito más notícias a seu próprio respeito e que vêm o seu futuro limitado é que (dizem) conseguem ver a Vida em todo o seu esplendor e beleza, dar o seu "real" valor (seja o que isso for). Pois nestes dias, apercebi-me que já dava à Vida algum valor no passado mas, no fundo, tudo acaba por correr em auto-gestão, ou seja, damos sempre tudo por garantido, que todas as coisas sempre estarão lá. Ora isto, quanto a mim, poderá ser duplamente perigoso: por um lado, isso é uma ilusão perigosa que, assim que se desvanece, mostra o quão periclitantes somos; por outro lado, desvanecida a ilusão em que se vivia, e tomado a consciência daquilo que aparentemente somos - um "grão" fugaz ao vento desta realidade - corre-se o sério risco de nos acharmos ainda mais diminutos e irrelevantes ao tomarmos consciência em simultâneo que, apesar de partirmos a qualquer instante, o mundo continuará, impassível e inamovível, como se nada fosse. "Céus, é a minha vida! Ao menos tirem um diazito de folga para pensarem no que se perdeu!", pensam então, e eu pergunto, vocês pensam nos milhares que estão a morrer de fome, de doenças, nos que estão a lutar contra doenças incuráveis, que dariam tudo para ter mais um dia como tiveram em tempos idos... o que eles não davam pelos tempos idos... Quando esses partem, lembram-se deles? Sabem sequer que eles partem? Não, pois não?... Por vocês também só os que vos são chegados é que se lamentarão mas o mundo continuará a girar e as pessoas a cantar no carro e a jantar alegremente em redor da mesa, enquanto que, ao redor de outra mesa, outras pessoas choram porque se extinguiu aquilo que para elas era uma Luz. E essas pessoas não serão as mesmas porque tudo na vida nos muda, e afinal, o mundo não é o mesmo porque essas pessoas mudaram. Porque o mundo somos nós. "Mas ele nao vai parar quando partirmos!!". Pois não. É angustiante, não é? Muito para além da mítica depressão de adolescente em que nos apaixonamos por correntes filosóficas que exploram essa vertente angustiante da Existência da vida.

A Existência? O que é isso?

Eu não sei e gostava que me explicassem. Porque as explicações que eu tenho, tenho-as tirado do que me acontece e, mesmo assim, não é com a frieza lógica de um raciocínio, o que contribui para uma franca confusão. São mais as excepções que a regra, antes, é mesmo a lógica de "cada caso é um caso". E é com base nisto tudo que olho e vejo (quando não estou perdido de nauseas e vertigens, deixando-me terrivelmente pessimista) que a Vida é, de facto, um milagre. Não o digo por ser bonito, não o digo tendo-o em mente todos os dias (nem de semana a semana, se calhar), não o digo porque estou quase a deitar-me e foi mais um dia que passou e ainda estou grato por estar vivo sem saber o que o amanhã me reserva. Digo-o porque é de facto um milagre, um milagre existirmos, um milagre termos essa capacidade de podermos mudar o mundo, de poder ter consciência do que nos rodeia (para o Bem e para o Mal), de apreciar (quando temos cabeça para isso) as coisas boas da vida, de sentirmos o Bem, o Amor, a Felicidade, a Alegria, a Vitória, o Mal, o Ódio, a Tristeza, a Desilusão, a Perda... Parafraseando o slogan de uma campanha, "É seres Humano, estúpido!". Se estou vivo, porque é que não hei-de aproveitar isso mesmo? É que mais facilmente estamos mortos (numa La Palissada de génio)! Isso sim, é que é para sempre! E aí é que não poderemos gozar nada (quem me conhece sabe que não sou totalmente desta opinião), não podendo usufruir, pelo menos, de tudo o que temos no presente. E essa história do Presente ainda é outra: sendo tudo tão fugaz e irrepetível porque é que não se há-de aproveitar tudinho até ao fim (desde que possamos)? Até as lágrimas, até as saudades...

É que somos um "grão", sim... mas um "grão" de Ouro!

3 comentários:

Nocas disse...

Mais palavras para quê? Compreendo-te perfeitamente e tenho perfeita noção de que a Vida é mesmo um milagre! (apesar de neste momento não o conseguir sentir)
Seja bom ou mau resta-nos aproveitar aquilo que temos agora, porque o Amanhã ninguém sabe como será.
Bjs

Unknown disse...

Costumo pensar muitas vezes que cair é a coisa mais fácil! Levantarmo-nos ja é outra conversa... Mas de facto, nós aprendemos a andar! Deixamos de gatinhar e, apesar das pernas nos tremerem muito e de muitas tentativas falhadas começamos a equilibrarmo-nos e a pôr um pé à frente do outro. Fico contente por ver que pelo menos já consegues ter força para te levantares! Lembra-te que este processo é demorado e tem muitos altos e baixos! Muitas vezes pensamos que nunca iremos ter força para caminhar mas acabamos sempre muito surpreendidos quando descobrimos a força que temos. Os teus amigos podem-te apoiar, mas apenas tu podes andar por ti mesmo. Força Hé... tu és capaz!

Zaracotrim disse...

De facto pareces uma pessoa horrível! :P
Todos nós temos várias facetas e ainda bem que és uma enorme mescla dos teus antagonismos - isso faz de ti a pessoa peculiar q és e tu és uma pessoa cheia de força!
Beijocas grandes e aparece.