30 de dezembro de 2008

(para a... bem, ela sabe quem é...)

Passeio pelo que escreves. É o mesmo que passear pela tua alma. Desenhas com finos traços a tua alma cada vez que decides manchar a tela com os teus pensamentos, as suas sensações, as vontades irreprimíveis que assolam o teu Universo interno, as tuas lágrimas, os sorrisos… Ah, sim… os sorrisos. Queria eu sorrir como tu, com uma simplicidade que em ti revela a sensibilidade que os outros cega e que teimam em não ver. Para quê complicar? A Vida não o é já o suficiente? Tivesses tu o céu estrelado como tecto, e o mar como coberta, e não precisarias de mais nada… pois, simplifico: precisas das pessoas porque são elas o teu mundo; precisas tu dos “teus” porque são eles o teu Universo. Também eles estão no teu sorriso. Está lá tudo, aliás, é algo transparente como a água que veneras, o reino onde tu reinas…
Ao som da intocável matéria vais bordando na tela o teu ser. O que tu não sabes é que é ela também a tua Alma. Faz parte do nosso património colectivo, de todos… nós só retiramos um bocadinho para que nunca nos esqueçamos do que somos, sendo únicos e indivisíveis. Flutuando pelas águas do Tempo, muitas vezes entramos em deriva, perdendo o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste… e ela, o nosso primeiro Amor, é a nossa tábua de salvação, o nosso porto de abrigo… também ela é Amor.

“A story without Love, isn’t a story worth telling.”

Tu sabes. Sempre o soubeste. E por isso bebes a Vida em tragos gostosos de Amor, intensos em Paixão (ou apaixonadamente intensos?...), loucos de Luz. E sempre com a serenidade que transportas para dentro de todos quanto o queiram. Porque tu, sensível, porque tu, a audaz. Porque tu,… porque quererás tu amarrar-te a um porto? Porque terás tu, agora, (ainda por cima agora) medo do teu reino? É o TEU reino, lembras-te? Não o conhecerás tu melhor que ninguém?... Ah, sim, falas-me em invasões, mas diz-me: quem pode invadir o inexpugnável? o inatingível? o intangível?... Pois, só aquilo que tu entenderes, por paixão, entregar…
Reina, Princesa, reina – que é como quem diz: vive Criança, vive. E Sê.

27 de dezembro de 2008


E era uma vez uma reino mágico... Bem, todas as histórias começam assim, "um reino mágico" mas o que interessa realmente é o que esse reino mágico contém. Para mim, ele continha um Bem em muito raro no resto do Mundo: Amor. "Oh", dizem vocês, "mas isso é uma coisa que há em qualquer lugar... E além disso como é que podes medir isso?". Fácil, digo eu! Basta ver passear pelas ruas e ver quantas crianças estão a sorrir! E, já agora, quantos adultos também.
Pois neste reino mágico, a magia era mesmo a do Amor. Mas os habitantes deste reino (escolham você o nome) sabiam trabalhar o Amor: sabiam moldá-lo, temperá-lo, enfeitá-lo e mostrá-lo com uma magnificiência a toda a prova. Isso era prova do seu avanço científico! Eles tinham passado grande parte da sua existência como povo a estudá-lo. Consideravam o Amor um tema de ciência de elevada relevância e importância estratégica para o seu país: cedo perceberam que sem Amor, nada pode avançar.
Se esperavam que agora vos dissesse que nesta terra, um dia, alguma coisa de má tivesse acontecido, enganam-se - outra coisa que eles tinham aprendido foi que o Amor é a maior força do Universo, sinónimo de Luz, e onde está a Luz, a Escuridão (que é a ausência de Luz) não pode entrar (é uma questão de Física, e uma das primeiras descobertas desse povo)...
Parafraseando o homenzinho naufrago "Eu quero voltar para a ilha!"... E quem não quereria voltar? Bem, é possível voltar, sim, mas só por uns tempitos... primeiro, tem que fazer as malas: largar todas as frustrações, preocupações, trabalhões, "coisas sem-importanciões" (aquelas coisas de pessoas adultas, sabem?) e ficarem só com o que de mais valioso têm - o vosso Coração, a vossa Alma, a vossa Essência; a seguir (esta é mais difícil) têm de largar o Medo - para isso têm de o vencer porque é ele o Dragão que guarda as fronteiras desse país (um pouco como vencer a burocracia para se obter um visto e um passaporte); isso cada um saberá como fazê-lo porque este tal Dragão é meio camaleão (pela parte da mãe) e disfarça-se "à medida do freguês". Por ultimo, peguem em vocês e vão fazer o que mais gostarem e que verdadeiramente vos faça sentir únicos, "preenchidos", como se cumprissem a vossa Existência com esse gesto. E, enquanto o fazem, "saiam" um bocadinho de vocês e sintam o prazer que têm ao fazê-lo... Bem vindos à vossa Terra!

24 de dezembro de 2008

Synchronicities

(o "reptil foi, mais uma vez, lançado pela ©, a foto é, mais uma vez, minha...)


Para uns é o acaso... para outros "estava escrito"... Para mim, é uma coisa e a outra!... É difícil de explicar mas vou tentar...
Às coincidências chamo-lhes outra coisa - sincronicidades. O termo não é meu, nem a definição mas a verdade subjacente é limpa e fácil de entender. Para nós, comuns mortais, quando algo acontece que calha (sem que façamos esforço para isso) na hora H, no momento M em que "dá jeito", o pessoal diz "olha! calhou!", ou "isso foi uma grande coincidência!". Mas agora imaginem que as nossas vidas de Humanos têm o seu timing próprio, têm o seu ritmo, cada qual com o seu destino, cada qual com as suas lições a aprender... Ora, convém, já que estamos todos interligados, que (de quando em vez) os nossos ritmos pessoais coincidam com os de outras pessoas. Isso pode acontecer intencionalmente - o que chamamos de encontros marcados, entrevistas e afins -, e pode acontecer sem querer - o que chamamos de coincidências. Quer num caso, quer no outro, isso são sincronicidades (do gr. Syn (ao mesmo) + chronos (tempo)). A diferença é que uma é propositada, e a outra não. E é esta última que mais nos espanta, acima de tudo quando é uma boa sincronicidade.
Mas a palavra a reter aqui não é a greek-derived. A palavra a reter aqui é LIÇÃO. Ah, e PROPÓSITO. Porque todas as sincronicidades têm um propósito, termo não só utilizado no sentido mais corrente, mas também no sentido "estava escrito". Assim tinha de ser, tem uma razão. E tinha de ser porquê? Lição. Ao aceitarmos uma sincronicidade estamos a aceitar a potencial lição ou o potencial pacote de lições que lhe estão intrinsecamente ligados. As lições podem ser as que bem imaginarem, cabe a cada um identificar (caso contrário não se terá aprendido nada). E há, como é óbvio, umas mais fáceis de engolir, mais adoçadas, e outras mais amargas e duras... quais delas duram mais na nossa memória? e quantas não se voltam a repetir? (sincronicidades fora, claro...)

21 de dezembro de 2008

Transparência



E se não fossemos feitos de carne? Se fossemos feitos de uma material volúvel, de composição variável, que mudasse sempre que o nosso estado de espírito também mudasse, estilo "Mood-ring" dos loucos anos 70's mas não só em cor, em textura também, e em flexibilidade e todas as outras propriedades físicas. É uma divagação de humano mas a verdade é que, naquilo que realmente somos, nós somos assim. Aquela sensação que temos ao levar uma nega, ao "engolirmos um sapo" no trabalho, ao aturarmos um chefe que implica connosco porque sim, ao encontrarmos uma "princesa" (ou um príncipe, no caso das senhoras) na rua que nos faz acelerar o rítmo do coração, ao receber uma notícia que nos deixa muito feliz, ao entregarmo-nos ao prazer, tudo isso é um reflexo que esse algo em nós, que eu acredito ser a Alma, está a mudar de forma e de consistência. E há mesmo sinais físicos de que o balanço interno está a ser alterado: as lágrimas, a Alma líquida que só apetece fugir do corpo em regatos, o sorriso que brilha quando a Alma irradia felicidade, o corpo que se agita e dança quando a Alma quer vibrar ao som da música, o olhar que se endurece, os músculos que ficam tensos quando a Alma coloca um letreiro à porta com os dizeres "BACK OFF!" ou "Não estou nem aí!".
Todas estas coisas, todas as suas formas, são uma forma, é, aliás, "A" forma que a Alma tem de deixar transparecer o seu estado. São nesses momentos que somos transparentes, tão transparentes que, tantas vezes, temos medo e sentimos uma necessidade gritante de esconder o estado da nossa Alma (seja por que motivo for).

Mas, qual é a necessidade de esconder?

Nada na nossa maneira de ser como Humanos, em qualquer aspecto (físico/biológico, espiritual, mental - estando tudo interligado) é futil ou despiciendo. Se temos uma dada reacção natural, porquê contrariá-la? Se a nossa Alma quer mostrar o seu estado, porquê obstruí-la?

20 de dezembro de 2008


Cena 1: Sonhei com amigos, sonhei com lugares onde há muito não vou, sonhei com presentes que me deixaram de boca aberta e... acordei.

Cena 2: Sonhei com adversários, lutas antigas, conflitos ardentes, discussões inúteis, personae non gratae, cenários de horror e... acordei.

Que há de diferente nestes dois acordares? Independentemente do cenário que neles desenrola, no meu caso, isto acaba por me influenciar para o resto do dia. Os sons, as cores, os gestos e movimentos do dia e da noite podem-nos influenciar... e quando nos transportamos para um mundo onírico? Qual é a impressão que transportamos do mundo de Morfeu para esta realidade? Será isto a acção da Alma?

Há convenções culturais que nos influenciam. No binómio dinâmico "influência externa-projecção externa", nunca se saberá qual terá maior preponderância em nós. Agora, que essa preponderância se manifestará em nós de maneiras diferentes, isso acontecerá sem dúvida. E, concordando com a ©, é a Alma o grande filtro. No entanto, acredito que muita da associação bom tempo/dia - bom estado de espírito, é um forte "imprint" socio-cultural.
Eu gosto de dias cinzentos. Gosto, aliás, de sair nos dias cinzentos, e ainda mais de ir para a beira-mar, caminhar na areia e sentir a chuva na cara. Quando estava em Gent, houve grandes chuvadas, alturas nas quais eu olhava para o céu e desejava que tivesse um meio de transporte rápido para me levar até à beira do mar do Norte (algo que nunca cheguei a fazer, fizesse chuva, fizesse sol).
E que dizer do sol forte das 11h-15h? Para mim, desde há uns anos, é uma altura profundamente deprimente. A polaridade da Luz (não sei se já vos contei) dessa fase do dia deixa-me muito rabugento e meio perdido. Se calhar é essa sensação de desorientação que me irrita, aquela luz sem cor, forte, que não gera sombras com significado, que dilui todas as cores numa única cor de pouca variação, mortiça e desértica.
Nunca ninguém me levou a isto, aliás, as memórias dos dias mais felizes que me lembro acontecem sempre em dias de Sol e sempre por volta dessa hora. E também nenhuma vez fui à praia em dias de chuva. Será esse imponderável, ou fora-da-razão, o factor Alma?

Mas... o que será a Alma? Quanto de nós é Alma, quanto de Nós é Emoção, quanto de nós é Razão? E que peso terá cada uma dessas partes nos nossos gostos, nos nossos "filtros"?

(sinceramente, e actualmente, após ter aprendido que a busca da razão das coisas não é um fim e pouco mais prazer traz, prefiro ir saboreando o que me aparece (nem que por isso vá apanhando uns 'amargos de boca') e levantar as perguntas quando a Vida a isso me leva, mas mais por piada que outra coisa, e esperar que a resposta, se assim for suposto, me chegue como as perguntas me chegaram)

...mas também o Dia pode ser o Estranho que se recolhe, a Sombra que oculta alguém, o Silêncio dos corredores das escolas entre as aulas, o Isolamento em si mesmo de alguém que passa, a placidez da calmaria numa planície solarenga, a imponência de montanhas ao Sol do meio-dia, o repouso do agricultor de ferramenta na mão (secando o suor), o turista que apanha o sol na esplanada (cobiçando-o só para si), o Sol que tudo incandeia de Branco...
E... a Noite, no seu manto, também é a Festa que celebra a Vida, a ocasião que reúne os Amigos (em alegria), a Energia que se vai buscar "sabe-se lá onde" para se fazer "sabe-se lá o quê", o destino desconhecido numa Viagem inesperada, o espaço e o tempo da Criação da Alma, o negro do Céu e do Mar, o Vento turbulento que tudo agita, o Festival das "Cities of Light", o glamour, a classe, tempo de Expansão major. Tudo isto enquanto uns dormem, enquanto outros trabalham, enquanto outros amam, vivem, São.

(obrigado pela frase inspiradora, ©!)



18 de dezembro de 2008

Experiências


Numa cidade de luzes mil, o que é a noite e o que é o dia?

E o que preferirá a Alma?



(cliquem nas imagens para ampliar... ficam melhor...)

20 de outubro de 2008

Oh brother I can't, I can't get through
I've been trying hard to reach you
Cos I don't know what to do...
Oh brother I can't believe it's true
I'm so scared about the future and
I want to talk to you...
Oh I want to talk to you...

You can take a picture of something you see...
In the future where will I be?
You can climb a ladder up to the sun
Or write a song nobody has sung, or do
Something that's never been done...

Are you lost or incomplete?
Do you feel like a puzzle?
You can't find your missing piece
Tell me how do you feel?
Well I feel like they're talking in a language I don't speak
And they're talking it to me...

So you take a picture of something you see
In the future where will I be?
You can climb a ladder up to the sun
Or write a song nobody has sung, or do
Something that's never been done, or do
Something that's never been done...

So you don't know where you're going
But you want to talk...
And you feel like you're going where you've been before...
You'll tell anyone who will listen but you feel ignored...
Nothing's really making any sense at all

Let's talk
Let's talk...

Let's talk
Let's talk...

Coldplay - X&Y - 2005

17 de outubro de 2008


Apetece-me entrar... E eu vou.

... so help me God.

11 de outubro de 2008

The man who writes about himself and his own time is the only man who writes about all people and all time. - George Bernard Shaw

Era de noite. Ele olhara-a com uma nítida noção que o tempo não tinha passado entre a imagem que ele tinha na sua cabeça e a imagem que ele tinha diante de si. A noite passava, assim, correndo e ia tomando conhecimento de coisas que o faziam tremer por dentro, mesmo não sabendo como é que as coisas se desenrolariam no futuro.
Nessa madrugada, as coisas evoluíram na forma de uma criatura de duas cabeças: por um lado, o desejo imediato, puro, sanguíneo, de que as coisas brilhassem com a intensidade de mil Sóis, como se não houvesse um Amanhã, aquele de todos os dias, um momento em que tudo pára e tudo corre ainda mais veloz; por outro, a permanente certeza que esse Amanhã viria, inexorável, pétreo, a nítida claridade que aquilo era, apenas e só, um momento, sem certezas, com todas as dúvidas, aquele instante em que o jogador faz as suas apostas e que sabe que tem mais hipóteses de perder do que ganhar...

No entanto, constante e transversal a tudo isso, a Esperança.

Mais do que o conflito entre os interesses entre pessoas, a questão fulcral de tudo está no conflito interno, entre os interesses que uma pessoa tem. Todos o que possam haver, surgem de igual para igual. A diferença está no peso que cada um adquire, conforme as nossas crenças, as nossas convicções. E aí o verdadeiro conflito: entre aquilo que desejaríamos, de todo o coração, sem olhar a tempos, sem olhar a situações, e aquilo que se afigura como uma hipótese real. E, infelizmente, normalmente a voz do coração fala mais baixo, perante a dureza ígnea do que intuímos como realidade, do palpável. Do que é que se abdica nessas alturas? Sabê-lo-emos? Teremos a profunda consciência de tudo aquilo que estamos a abdicar, ao olharmos ao que julgamos ser uma necessidade mas que não passa de algo tão fátuo e transitório como uma fagulha que passa de ar quente ao ar frio?
E quantas, quantas vezes, a verdade das coisas está à nossa frente, mais forte do que a realidade sombria dos nossos medos, daquelas ideias pé-concebidas, embebidas no nosso cérebro desde tenra idade, que nos impedem de ser verdadeiramente felizes, que tomamos por tão reais como a pedra que está à nossa frente...

Dia nasce...

... a criatura devora-o...

Ele regressou a casa com uma única certeza e uma miríade de dúvidas: tinha feito, no momento, o que o seu Coração tinha pedido. Sentia-se feliz e isso alimentara-lhe a Esperança, aquele Algo que se alia à sua profunda crença que o Amor é a maior Força Existente e que o fazia acreditar que um dia (um dia...) faria com que as pessoas ouvissem mais o seu Coração do que a Máquina que traduz o que Ele diz e à qual damos (quase) sempre o crédito de ser a Voz Única da Realidade em que mergulhamos... Até lá (e para além disso), só lhe restava pegar de novo na sua mala (por instantes pousada), e seguir Caminho...

27 de setembro de 2008

"If you would be a real seeker after truth, it is necessary that at least once in your life you doubt, as far as possible, all things." René Descartes

O cérebro humano tem uma propriedade prodigiosa: esquecer-se que tudo o que está à nossa volta é transitório. E dentro desta segurança nas coisas, está o facto de acharmos que muitas coisas há que são eternas e que estarão sempre lá. Aliás, essa tendencia de pensamento começa logo desde cedo: o normal comportamento de um adolescente é de fazer as coisas achando-se Imortal. A morte é, nessa idade, uma daquelas coisas que está mesmo muito muito longe... Há planos que se fazem tendo em conta isso mesmo. Aliás, um plano, para existir, pressupõe uma base solida e consistente.
O que fazer, então, quando essa base, na realidade, não existe?

Reparem, a Dúvida Sistemática de Descartes não é a negação da Existência das coisas. Uma coisa existe... mas também pode não existir. É uma espécie de plano de contingência. E, para mim, uma maneira de verificar a veracidade, a realidade das coisas. Descartes pensava da seguinte forma: "só tenho uma certeza: eu existo." Aliás, é dele a celebre frase, que eu parafraseei dando origem ao título deste blog: "Penso, logo existo (Cogito, ergo sum)". E a partir daí constroi-se todo um sistema de pensamento. A dúvida sistemática leva à evolução das coisas. Porque é como se se pusesse todo o Universo a trabalhar, a mover-se. Ao questionar as coisas, e tudo o que lhes diz respeito, adquire-se uma nova perspectiva, avaliando a necessidade da existência das mesmas coisas, a sua pertinência, se são adequadas, o que se deve mudar, como se deve mudar, entre outras belezas do género. Para tudo isto, é necessário um forte sistema lógico e a constante verificação das premissas de base, garantia que a dedução final é válida e logicamente real.
Podemos, com tudo isto, incorrer no erro de aceitar pressupostos e "realidades" de outros como nossas. Mas isso é um erro que vai contra a premissa fundamental "só eu existo (porque penso)". É importante questionarmos tudo, ams tudo mesmo. Não é, como se vê, um imperativo de cariz espiritual (ou só desse cariz). É um imperativo da Vida. Há que duvidar das coisas, duvidar da sua certeza, procurando justificar a sua existência com razões e provas válidas.

A busca de provas é algo que se prova, muitas vezes, infrutífera. A dúvida sistemática não obriga à procura de provas, mas simplesmente, raciocinando sobre a existência das coisas. É um princípio básico dos racionalistas e, como é natural, um racionalista só pens em termos teoricos, para depois poder aplicar as suas deduções à realidade. É claro que a teoria é a mãe da prática e, como boa filha, esta fornece à mãe as provas... quando lhe convém e elas sejam possiveis de ser entendidas pela nosso limitado aparelho sensitivo. É por isso que eu prefiro aplicar a dúvida sistemática como um ponto de partida. Mas não é fácil lembrarmo-nos de o usar. Como disse no início, o nosso cérebro gosta de ter dados seguros e certos sobre os quais trabalhar e, quando não os têm nem sabe se os terá, assume que eles existirão, algures... é um erro que causa muitos transtornos mas que pode ser evitado. Mas não se preocupem (as almas mais perturbadas por falta de solo firme). Porque assim que começarem a duvidar sistematicamente das coisas, rapidamente encontram pressupostos mais logicos e realistas que vos deixarão mais tranquilos quanto ao futuro (um futuro, lembro, do qual nunca fomos nem seremos donos). E assim, sem saberem, terão evoluido mais um bocadinho.

21 de setembro de 2008

Ele avançou pelo pavilhão adentro. Trazia o seu instrumento na mão e algum receio. "Está na hora", pensou e assim, levantou a cabeça. O que traria aquela noite? Uma coisa era certa: memórias, e isso já estava a trazer.
Sabia que mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. Era inevitável, tal como ele sabia pela experiência anterior, que os dois grupos teriam que se encontrar para "medir forças". Não era fácil para ele estar agora no "outro" grupo, um grupo que ele próprio não via com bons olhos aquando da sua primeira passagem por aquelas paragens.

Metam isto na cabeça: nunca nos livramos completamente das situações que nos foram importantes. Mais cedo ou mais tarde acabamos por ir parar ao "local do crime". Mas as boas notícias são que as coisas nunca são iguais duas vezes. Ou antes, cabe a nós que as coisas não sejam iguais duas vezes. Vocês gostam de comer duas vezes seguidas (em duas refeições) a mesma coisa? Isso pode sempre acontecer mas está tudo nas nossas mãos, se gostámos da ultima refeição e queremos repetir, ou se queremos mudar. Deixando as dicas gastronómicas, são às lições do passado que devemos ir buscar as raízes das nossas escolhas, se é que queremos que tudo corra da melhor maneira possível, se queremos que alguma coisa mude, se queremos que as coisas sejam ainda melhor.

"-Tenho uma coisa para te dizer...
- Força!
- Lembras-te do quanto eu vos fazia a vida negra?
- Se lembro. Aquilo era terrível...
- Pois era. Na altura eu era um grande sacana, bastante diferente, acho daquilo que sou agora. E é por isso mesmo que te quero pedir desculpa por todas as coisas que eu te fiz e aos outros."

N. não respondeu. Continuou a falar das coisas estúpidas que lhes chegou a fazer mas ele reconheceu nos olhos de N. que este ficara surpreendido com o pedido de desculpas. Estava na altura de acertar contas e ele sabia-o. Assim o fez e isso trouxe-lhe um pouco mais de tranquilidade no meio de todo aquele remoinho de emoções. Foi com muita comoção que reencontrou velhos companheiros de caminhada, que suaram ao Sol com ele e apanharam chuva, que partilharam glórias e derrotas, com os quais se riu e chorou, com os quais partiu à descoberta de novos mundo, e, mais importante que tudo isso, com os quais cresceu. Reencontrar tais anjos no caminho é um prazer ao qual raramente se dava. No final, a ansiedade que antecipou o acontecimento deu lugar a uma tranquilidade e alegria que fez com que não quisesse sair dali. Afinal, há passados que vale toda a pena relembrar...

13 de setembro de 2008

Nuvens. Ontem vi algumas. Mas não eram nuvens normais. Achei estranho o carácter tão ténue e negro daquelas nuvens (se é que lhes posso chamar isso). Eram umas nuvens muito ligeiras, muito finas, não muito altas (tanto que pensei estar embrenhado nas mesmas) mas muito escuras. Nada mais havia no céu sem ser essas nuvens... e um pôr do sol magnífico. Era isso que me "perturbava", o carácter único dessas nuvens, no meio de um cenário tão positivo. E, além disso, notava-se claramente que elas estavam a ser sopradas desta zona para fora...
Olhei e sorri. "Que bela analogia!". As nuvens que se tinham aglomerado sobre a minha cabeça lentamente tinham começado a ser sopradas para bem longe, onde se podiam ver o quão ridículas eram, comparadas com tudo o resto que se passava à minha volta. No entanto tinham sido o suficiente para estragar a paisagem.

Tudo na Vida é uma escolha. É muitas vezes difícil de analisar imparcialmente, em absoluto (haverá absolutos na vida?) a dimensão, a gravidade de algo, a sua importância, o seu peso. Sabemos na pele o quanto nos afecta (quando nos afecta), o quanto dói e isso muda dramaticamente a nossa perspectiva sobre as coisas. Mas há que transcender as coisas, aquilo que nos acontece e eu sei o quanto isso é tão difícil, assim que começamos a centrarmo-nos em nós mesmos. É preciso olhar, abrir os olhos, se não formos capazes por nós, que procuremos alguém ou algo que nos ajude a fazê-lo. O poder está dentro de nós, é só querer mesmo alcança-lo, com propósito puro, com todo o coração e ver o que, querendo, aparece sempre. A Luz, como todos (consciente e inconscientemente) sabem, conquista sempre a escuridão, sendo que o contrário nunca se verifica.

Uma curva, outra curva, agora uma recta... acelerou. A paisagem deslizava suavemente a seus pés, os cenários sucediam-se a uma velocidade confortável. Estava com pressa, é verdade, mas sabia que aquele momento era irrepetível, que aquela manhã não voltaria a acontecer e, depois, tudo era novidade, tudo era fresco como o riso de uma criança. Apreciou pois. Memórias distantes assomaram à sua cabeça e ele riu-se. As nuvens, para ele, já estavam longe. Visíveis (ainda) mas longe. O seu coração era de novo isso mesmo: seu! Sentia-o no mais profundo do seu ser, sentia que a sua Vida (mais do que nunca) era isso mesmo: sua! Sabia também que a Vida iria ter as suas quezílias, chatices, lágrimas; era um facto assumido. Não agora. Ao rolar por aquelas estradas simples, rodeado de tão agradável paisagem, sentia que a sua Vida era como o cenário em que se deslocava; nublada ou solarenga, ela Era assim, em toda a sua plenitude e todas os seus matizes. Agora, era altura de aproveitar o Sol.

9 de setembro de 2008

Como pode um som nos fazer voltar à inocência perdida de outros tempos? uma aragem, um aroma regressar a tempos há muito passados, como se de um eco se tratasse? Subitamente o que julgávamos perdido volta. Não é doce, nem amargo, apenas é. Sempre esteve lá, sempre ocupou o seu lugar, sempre marcou a sua presença inequívoca que nós quisemos esquecer no dia-a-dia, concentrados em algo que entendemos que deveria acontecer.
Olhou para o telhado, para aquela pequena esquina onde quase se pendia, meio quebrada, uma simples telha e, sem dar conta, viajou no tempo a uma altura em que não havia electricidade ou gás, somente o calor humano de uma casa, um pequeno pedaço de lenha a arder sobre o lar e as conversas soltas (com mais ou menos entusiasmo) se faziam sentir entre as paredes. Passeou à chuva da manhã, da tarde e da noite, escutou silêncios que não voltam mais e chorou silenciosamente sem ninguém ver, entalado entre a emoção da perda e da descoberta das coisas que, espante-se, não mudaram.

Fez uma pequena curva. "Hoje vou por aqui...". Entrou num túnel e, tangivelmente, era um túnel do Tempo. Outro. Regressou à idade dos risos, das despreocupações, do epicurismo inconsciente que é a infância. Respirou fundo e pensou que, não podendo ser tudo, certas coisas haviam de ser sempre iguais... pelo menos o estado de espírito com que se vivia, se não noutras vidas, nesta vida, que, no fundo é aquela que importa. Mas sabia que as coisas têm que mudar, perdendo coisas, pessoas, lugares pelo caminho...

(...e, até que ponto, não nos perdemos a nós também? Creio que do ponto de vista (certo ou erróneo) que nós somos aquilo que nos rodeia e com o qual convivemos, se perdermos essas coisas à volta, acabamos por perdermos aquilo que somos. E a isto eu pergunto: aquilo que somos, ou aquilo que já não precisamos de ser? E esta pergunta acaba por eliminar o pressuposto que nós somos o que nos rodeia. Porque nós NÃO somos SÓ aquilo que nos rodeia. Isso, aprendi ultimamente, são meros sinais do ponto em que estamos. Também é, mas não somos só. Mais do que isso, podemos sempre voltar sempre àquelas coisas que ficaram para trás, sem que nos tornemos naquilo que éramos nessa altura.)

Mas, naqueles dias, tudo lhe parecia fora do vulgar. Parecia não existir neste mundo, sentindo-se um mero transeunte a observar e vigiar o que o rodeava. O porquê, não o sabia. Passava pelas coisas e as coisas não deixavam nele, por vezes, a mínima marca. Outras, as mais simples por vezes, deixavam nele uma indelével marca e faziam-no mergulhar numa espiral de pensamentos sobre o seu propósito no mundo. O mundo não era, a seus olhos, o mesmo mundo em que crescera, não se sentia integrado nas coisas, sentia que as coisas que fazia eram soltas como uma folha à deriva na superfície de um lago. Antes, sentia-se como que bem enquadrado numa figura, onde tudo o que fazia era suposto e tinha uma razão. Agora não conseguia perceber o motivo pelo qual as coisas aconteciam. Irritava-o esse desconhecimento ignóbil mas já tinha desistido de tentar perceber, por isso, (a contra-gosto) deixava-se levar. A incerteza dessa vida era angustiante por um lado). Ele não gostava de surpresas e não saber o que aí vinha era desesperante. Afinal, uma vida passada a régua e esquadro tinha sido o seu ideal até há uns tempos. Agora, nem isso. Era angustiante para ele sentir-se trancado numa esquadria que outros tinham desenhado por si, ou com o seu auxílio. Saber que o dia-a-dia seria sempre assim deixava-o fora de si.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

O meio termo é difícil de encontrar por vezes, e outras, (como é provavelmente o caso) está mesmo à frente e uma pessoa até desconfia por ser tão fácil. Fácil até pode ser, mas o busílis está em, dentro de nós, aceitarmos que, de facto, é mesmo aquilo que procuramos. As coisas nem sempre se apresentam na forma que esperamos. E no meio deste chorrilho de (creio eu) lugares comuns alguma coisa há-de ser verdade.
Na vida dele, a Verdade era algo que era e que não era. Acostumado a certas verdades, agora mentiras, encontrava mentiras de antigamente que se revelavam verdades estranhamente absolutas. Tentem reconstruir uma casa num terreno que não conhecem e verão. Ele não conhecia este terreno e, apesar de ter entrado nele de livre e espontânea vontade, não lhe agradava.... para já... Preferia muito mais, de vez em quando, voltar a visitar as pessoas, lugares e caminhos em que tinha vivido, voltar aqueles sítios segurinhos, bonitinhos (nos quais gostaria de ter ficado tranquilo - a ganhar mofo e desperdiçado, talvez) procurando (qual vampiro) alimentar-se dalguma da atmosfera que ainda aí se poderia sentir, voltando a sentir-se, por breves instantes, inteiro. Mas, por ora, a visão daquela telha, meio quebrada, com musgo, serviu para fazer virar uma pagina que, não querendo que existisse, teve que existir para que pudesse sentir/perceber que um ciclo se fechava e, assim, pudesse crescer.

27 de agosto de 2008

E eis que, no rescaldo de um fim de dia (de ontem) magnífico, e não querendo tornar este blog num lyrics book (se bem que já é tarde para isso, mas eu prometo que os "lençois" hão-de voltar), aqui fica a letra do "som"...

Wake up kids
We've got the dreamers disease
Age fourteen
They got you down on your knees
So polite
You're busy still saying please
Frienemies
Who when you're down ain't your friend
Every night
We smash their Mercedes-Benz
First we run
And then we laugh 'till we cry

But when the night is falling
And you cannot find the light
If you feel your dream is dying
Hold tight

You've got the music in you
Don't let go
You've got the music in you
One dance left
This world is gonna pull through
Don't give up
You've got a reason to live
Can't forget
We only get what we give


Four a.m. we ran a miracle mile
We're flat broke
But hey we do it in style
The bad rich
God's flying in for your trial

But when the night is falling
And you cannot find a friend
You feel your tree is breaking
Just then

[refrão]

This whole damn world can fall apart
You'll be ok follow your heart
You're in harms way I'm right behind
Now say you're mine

[refrão]

Fly high
What's real can't die

You only get what you give
You're gonna get what you give
Just don't be afraid to leave

Health insurance rip off lying FDA big bankers buying
Fake computer crashes dining
Cloning while they're multiplying
Fashion mag shoots
with the aid of 8 dust brothers Beck, Hanson
Courtney Love and Marilyn Manson
You're all fakes
Run to your mansions
Come around
We'll kick your ass in!

Don't let go
One dance left

New Radicals - Maybe you've been brainwashed too - 1998

Houvessem mais destas assim...

30 de julho de 2008

I'm not afraid
Of anything in this world
There's nothing you can throw at me
That I haven't already heard
I'm just trying to find
A decent melody
A song that I can sing
In my own company

I never thought you were a fool
But darling, look at you. Ooh.
You gotta stand up straight, carry your own weight
'Cause tears are going nowhere baby

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment
And now you can't get out of it
Don't say that later will be better
Now you're stuck in a moment
And you can't get out of it

I will not forsake
The colors that you bring
The nights you filled with fireworks
They left you with nothing
I am still enchanted
By the light you brought to me
I listen through your ears
Through your eyes I can see

You are such a fool
To worry like you do.. Oh
I know it's tough
And you can never get enough
Of what you don't really need now
My, oh my

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment
And you can't get out of it
Oh love, look at you now
You've got yourself stuck in a moment
And you can't get out of it
Oh lord look at you now
You've got yourself stuck in a moment
And you cant gt out of it

I was unconscious, half asleep
The water is warm 'til you discover how deep
I wasn't jumping, for me it was a fall
It's a long way down to nothing at all

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment
And you can't get out of it
Don't say that later will be better
Now you're stuck in a moment
And you can't get out of it

And if the night runs over
And if the day won't last
And if your way should falter
Along this stony pass

It's just a moment
This time will pass

U2 (2000) - Stuck in a moment - All that you can't leave behind album


Pronto, eu sei que é U2 (sem minimizar, claro, mas nao é das minhas bandas favoritas) mas houve "Alguém" que pôs isto a tocar na minha jukebox mental e não pude resistir... Fits like a glove! ;) E "Eles" sabem...

P.S. - Como é natural nestas coisas, ao ir à procura da letra encontrei o video. Recomendo-o, como complemento do sentido com que postei a letra. Adoro a cena final! ;D

23 de julho de 2008

Surgiu-me nos últimos dias uma pergunta para a qual não tenho tido resposta: porque é que queres tanto dar a mão a alguém que não está, e ignoras as que estão estendidas?

Bem, é uma pergunta manhosa. Não tenho resposta e, francamente, sinto-me um pouco constrangido. Porque pareço ingrato, pareço desprovido de qualquer sentido de reconhecimento por aqueles que me cedem o seu tempo e boa-vontade, vendo-me mais em baixo (ou mais em cima), continuando-me a focar em quem não devia ter nenhuma consideração ou impulso de lembrança. O que é passado, passado está. No entanto, a nossa mente continua a processar e a lembrar-se de coisas perfeitamente inúteis ou que, existindo, só servem para nos magoar. Não é esse o caminho que quero mas também sei que bloquear-se esse tipo de pensamentos é inútil, uma perda de tempo e, em última análise, podemos ficar seriamente magoados. Que fazer então? Que fazer para esquecer a saudade do que nos fazia sentir bem?
A resposta óbvia é arranjar novas memórias, fixarmo-nos no presente e viver um dia de cada vez. Ora, isto, mais uma vez, não é fácil, e, de momento, é um trabalho de paciência. E essa foi outra coisa que me apercebi hoje. Este é um tempo para estar quietinho, esperar e ter paciência. Muita paciência. A inquietação e anseio por tempos antigos, em que a vida corria a 1000 à hora e pouco se pensava nela, pode assolar-nos de quando em vez mas há que reconhecer que tudo está certo no momento em que as coisas acontecem (como me vou rir quando reler isto). Não o tinha reconhecido até agora. Revoltava-me estar "quieto" em casa, não poder sair, ter sempre o mesmo dia-a-dia e, acima de tudo, esperar quando sentia (e sinto) que tudo à minha volta corre sem parar. "E eu aqui parado a olhar!", revoltava-me eu. Mas é suposto ficar a olhar (nem tudo o que é suposto sabe bem, não é?). É tempo disso. E, assim, esperarei.

12 de julho de 2008

Olho para trás, vejo tudo quanto escrevi e penso: serei este mesmo Eu? Penso na imagem que poderei dar ao escrever todas estas letras, todos os pequenos textos em que me exponho, em que tenho exposto toda a dor que me vem assolando (a qual é bem maior do que aquilo que descrevo) e chego à conclusão que devo parecer uma pessoa horrível, amargurada e totalmente desiludida com a Vida.

Estão certos.

No entanto, esse grau de desilusão a que cheguei permite-me largar todo o ser tendencial que existe numa pessoa que não desceu ao fundo do poço (será?) e poder tentar avaliar, imparcialmente, o valor que esta Vida tem.
É de noite e, por isso, as minhas palavras poderão sair mais... benevolentes. Hoje dei por mim a pensar, seriamente, que só as pessoas que receberam muito más notícias a seu próprio respeito e que vêm o seu futuro limitado é que (dizem) conseguem ver a Vida em todo o seu esplendor e beleza, dar o seu "real" valor (seja o que isso for). Pois nestes dias, apercebi-me que já dava à Vida algum valor no passado mas, no fundo, tudo acaba por correr em auto-gestão, ou seja, damos sempre tudo por garantido, que todas as coisas sempre estarão lá. Ora isto, quanto a mim, poderá ser duplamente perigoso: por um lado, isso é uma ilusão perigosa que, assim que se desvanece, mostra o quão periclitantes somos; por outro lado, desvanecida a ilusão em que se vivia, e tomado a consciência daquilo que aparentemente somos - um "grão" fugaz ao vento desta realidade - corre-se o sério risco de nos acharmos ainda mais diminutos e irrelevantes ao tomarmos consciência em simultâneo que, apesar de partirmos a qualquer instante, o mundo continuará, impassível e inamovível, como se nada fosse. "Céus, é a minha vida! Ao menos tirem um diazito de folga para pensarem no que se perdeu!", pensam então, e eu pergunto, vocês pensam nos milhares que estão a morrer de fome, de doenças, nos que estão a lutar contra doenças incuráveis, que dariam tudo para ter mais um dia como tiveram em tempos idos... o que eles não davam pelos tempos idos... Quando esses partem, lembram-se deles? Sabem sequer que eles partem? Não, pois não?... Por vocês também só os que vos são chegados é que se lamentarão mas o mundo continuará a girar e as pessoas a cantar no carro e a jantar alegremente em redor da mesa, enquanto que, ao redor de outra mesa, outras pessoas choram porque se extinguiu aquilo que para elas era uma Luz. E essas pessoas não serão as mesmas porque tudo na vida nos muda, e afinal, o mundo não é o mesmo porque essas pessoas mudaram. Porque o mundo somos nós. "Mas ele nao vai parar quando partirmos!!". Pois não. É angustiante, não é? Muito para além da mítica depressão de adolescente em que nos apaixonamos por correntes filosóficas que exploram essa vertente angustiante da Existência da vida.

A Existência? O que é isso?

Eu não sei e gostava que me explicassem. Porque as explicações que eu tenho, tenho-as tirado do que me acontece e, mesmo assim, não é com a frieza lógica de um raciocínio, o que contribui para uma franca confusão. São mais as excepções que a regra, antes, é mesmo a lógica de "cada caso é um caso". E é com base nisto tudo que olho e vejo (quando não estou perdido de nauseas e vertigens, deixando-me terrivelmente pessimista) que a Vida é, de facto, um milagre. Não o digo por ser bonito, não o digo tendo-o em mente todos os dias (nem de semana a semana, se calhar), não o digo porque estou quase a deitar-me e foi mais um dia que passou e ainda estou grato por estar vivo sem saber o que o amanhã me reserva. Digo-o porque é de facto um milagre, um milagre existirmos, um milagre termos essa capacidade de podermos mudar o mundo, de poder ter consciência do que nos rodeia (para o Bem e para o Mal), de apreciar (quando temos cabeça para isso) as coisas boas da vida, de sentirmos o Bem, o Amor, a Felicidade, a Alegria, a Vitória, o Mal, o Ódio, a Tristeza, a Desilusão, a Perda... Parafraseando o slogan de uma campanha, "É seres Humano, estúpido!". Se estou vivo, porque é que não hei-de aproveitar isso mesmo? É que mais facilmente estamos mortos (numa La Palissada de génio)! Isso sim, é que é para sempre! E aí é que não poderemos gozar nada (quem me conhece sabe que não sou totalmente desta opinião), não podendo usufruir, pelo menos, de tudo o que temos no presente. E essa história do Presente ainda é outra: sendo tudo tão fugaz e irrepetível porque é que não se há-de aproveitar tudinho até ao fim (desde que possamos)? Até as lágrimas, até as saudades...

É que somos um "grão", sim... mas um "grão" de Ouro!

4 de julho de 2008



Esta é sobre ti. Tem amor e ódio é para ires
ouvindo nas tuas horas de ócio.
Ínfima parte de um sonho perdido, libertei-o já
o tinha esquecido. É o sinal.
Espero um momento na sombra da rua, ouço
uma voz que me lembra a tua.
Passei pelo risco de sofrer por não ler
os teus sinais.
É o sinal para recomeçar.

Quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera

quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera
.

Leva-me às areias quentes que mastigam os
sentimentos e me deixam nua perante os
elementos. Ensina-me a escavar objectos sem
estragar, para que sorrir seja sempre vulgar.
Dá-me de beber finas gotas desse mel, para
que o meu saber não esteja só no papel.
Incita-me a lembrar do teu gosto pelo mar para
que um dia fique pronta a zarpar.

Espero que amanhã tudo seja diferente
e que tu possas estar presente.

Refrão (x2)

Incita-me a atirar os dados sem soprar
para que te vencer seja vulgar.

Refrão...

Mesa - Esquecimento - 2003(ou 4)

3 de julho de 2008

"In all affairs it's a healthy thing now and then to hang a question mark on the things you have long taken for granted."
B. Russell (o que eu adoro este homem!...)

Uhhnn?? A sério???...

Ao que eu adiciono (já mais a sério): e se nao formos nós a fazê-lo, a Vida trata disso.

29 de junho de 2008


Olhei-me há pouco ao espelho e não gostei do que vi. Não gosto do que vejo. Estou cansado, cansado demais para tudo. Sou a imagem da derrota, sinto-me derrotado por tudo, de inúmeras batalhas contra inimigos invisíveis, fantasmas, monstros horríveis, muitos dos quais que fazem parte do meu Eu físico. Dói-me tudo - corpo e alma. Sinto-me irremediavelmente perdido, só tenho vontade de chorar e não consigo, as lágrimas não me saem e ainda fico mais irritado por isso. E depois, pergunto-me: para quê? Para quê chorar, para quê entrar num pranto se vou continuar a sentir-me mal-disposto, derrotado, fraco, muito fraco... E prossigo, contendo tudo, tendo medo de tudo o que faço e de todos quanto encontro porque me sentirei mal e não posso sentir-me mal, "é uma vergonha, um homem assim e a sentir-se mal, olha para a figura que estás a fazer... Fraco, fraco!!..." Falta-me o ar, respirar fundo não ajuda, não me tira a dor, o mal-estar, não afasta os fantasmas, os dias passam e são somente "mais do mesmo"... a luz angustia-me, deprime-me (ainda mais, quem sabe), certos sons deixam-me atordoado, ainda mais mal-disposto, é a náusea que me invade e me persegue a cada momento do meu dia... é relato de dor este... de nada adianta contar mas esperava, secretamente, que ajudasse... no entanto, pelos vistos, este "mal" não desaparece nem por nada... é o fundo do buraco, é a Escuridão no seu pior, o espesso Medo para o qual resvalei e me fui afundando, estilo areia movediça... o Medo cerca-me em tudo o que faço, desde o primeiro acordar até ao ultimo bocejar antes de fechar os olhos... cada esquina da Vida me assusta, antes, o dobrar de cada esquina assusta-me, sem saber o que me espera mas sempre antecipando uma dor permanente e injusta... não há uma razão só para isso são muitas e muitas, com raízes profundas, de modo que agora cada coisa desconhecida que me apareça, cada coisa nova (mesmo com boas perspectivas) leva-me a uma desconfiança e falta de esperança atroz. Não esperar nada de bom é um pesadelo que ninguém deveria viver. Creio ser, até, contrário à natureza humana... mas é o meu dia-a-dia...

Que saudades de ser "normal"...

"I was standing by the edge of the water
I noticed my reflection in the waves
Then I saw you looking back at me
And I knew that for a moment
You were calling out my name
You took away my hero
Will you take away my pain..."

DT-1998

24 de junho de 2008

Look around
Where do you belong
Don't be afraid
You're not the only one

Don't let the day go by
Don't let it end
Don't let a day go by in doubt
The answer lies within

Life is short
So learn from your mistakes
And stand behind
The choices that you make

Free each day
With both eyes open wide
And try to give
Don't keep it all inside

Don't let the day go by
Don't let it end
Don't let a day go by in doubt
The answer lies within

You've got the future on your side
You're gonna be fine now
I know whatever you decide
You're gonna shine

Don't let the day go by
Don't let it end
Don't let a day go by in doubt
You're ready to begin
Don't let a day go by in doubt
The answer lies within...

Dream Theater - Octavarium (2005)

Dedicado à Cati, por... tantas coisas, escolhe umas...

17 de junho de 2008

Depois do ultimo comentário que recebi ao post anterior e enquanto estava a escrever a resposta ao mesmo, estava a lembrar-me de uma música (de um grupo do qual já transcrevi algumas letras para este blog). Como referi nesse comentário, uma das maneiras de nos sentirmos felizes é aliarmos a Paz com aquilo que Somos. E é nessa onda que vou transpor a letra, com a qual me identifiquei desde o primeiro momento em que a ouvi. Ressalvo que NÃO concordo com a linha que porei a itálico (pelos mesmos motivos que referi nesse comentário).

Once it was good, just to be alive
Life was so simple, I was satisfied with myself
You were a friend, it was crystal clear
I would have walked through fire for you, oh I swear

Look at me, I came to be the one you loathe
Now I know, it all makes sense
No defence, no more lies or alibis
Truth is pain
I feel for you no more...

Then I was lost, it broke my heart in two
Couldn't believe that you would sacrifice what we had
Now I get by, time will heal my wounds
Vengeance is mine when time will banish you into despair

Look at me, I came to be the one you loathe
Now I know, it all makes sense
No defence, no more lies or alibis
Truth is pain
I feel for you no more...


A.C.T. - Silence (2006)

P.S. - O "I feel for you no more" era a parte em que me andava a enganar... sem admitirmos as coisas, nunca se irá a lado nenhum.

10 de junho de 2008

O passado acaba sempre por nos alcançar. Sempre. Por mais que queiramos fugir, ele vem sempre ao nosso encontro, muitas vezes nem estando presente, sendo só a sua insinuação e possibilidade de existência que leva a uma materialização muito mais real (e agressiva). É como o azeite, é uma verdade que vem sempre ao de cima, por muito que o neguemos. Foge-se por vielas e travessas manhosas, recusando-nos revelar à luz do dia o bicho horrendo que personifica o Medo que nos atormenta. O pior de tudo é que ele ataca sem avisar e (ainda por cima) quando estamos com o pé em desapoio.

Isto é uma confissão.

A todos os que me conhecem pessoalmente e que, no último ano, conversaram comigo sobre este assunto (que direi a seguir) peço, antes de mais as minhas humildes e profundas desculpas. Menti-vos. Redondamente. E foi uma mentira que começou em mim e que, tendo-me mentido, menti-vos a vós porque foi uma mentira de Verdade pintada. A tinta, hoje, borrou.
No que é que vos menti? Simples. Tinha-vos dito que o que sentia em relação à Vânia era um assunto morto e encerrado. "Já a tinha esquecido, já a tinha ultrapassado, já não tinha efeito em mim", dizia eu, incauto da vergonhosa mentira a que me, e vos, submetia. Puro engano. Hoje fui brutalmente confrontado, não com ela (acho que cairia para o lado, extrapolando da reacção que eu tive hoje) mas muito simplesmente com uma situação em que, hipoteticamente, poderia vir a ser confrontado com ela, ou alguém desse tempo. Foram horas tormentosas, ficando sempre à espera de reconhecer em cada cara as "fatais" personagens, levando-me a ficar quase petrificado (e quem me conhece pode imaginar como fiquei), ou seja, o Medo atacava de novo e em força, apanhando-me completamente desprevenido.
No meio disto tudo não sei o que mais me assustava, se o simples acto de a encontrar (ou essas pessoas), ou da desilusão de a encontrar acompanhada (facto mais que natural, caso já tenha acontecido), ou a reacção dela caso me visse (e a minha também). Conjecturas. Factos a reter: sim, ela ainda "mexe" comigo (ou a imagem que dela guardei), em certas ocasiões sinto a sua falta e, mais ainda (e mais importante, provavelmente), nunca digam que aprenderam a lição. Como alguém, há bem pouco tempo, me disse: tu ouviste e fixaste mas não aprendeste a lição. Pois bem, eis-me de novo de volta aos bancos da escola. E, quiçá, ao canto da sala com as orelhas de burro. A todos, espero que me perdoem por faltar à verdade convosco.

6 de junho de 2008

... Do alto do meu promontório vejo-te chegar... Ainda não o sabes mas vejo-te chegar... estás lá longe, vais-te chegando à terra lentamente, como fina poalha que sobre uma mesa assenta... como que por acaso, chegas por entre rasgos de luz, danças de cores, brilhos mil que te rodeiam, pó de estrelas que, fátuas, surgem em pano de luzes e sombras... é uma dança, quase, inebriante, encantadora, com pés de sonho e toque de brisa... celebra-se e, ao longe, não se sabe porquê... a coberto da noite tudo é possível, o artifício do Homem tudo pode iluminar, tudo pode esconder, tudo pode festejar ou carpir... É insignificante, visto daqui, todo o aparato, mas, de facto, parece que só para ti tudo isto foi feito... Quem sabe se até foi?... Aproximas-te e tudo é celebrado, a chegada, a viagem, o que há-de vir e a Névoa onde tudo se esconde... mas ninguém sabe e, à vista de todos, este é o maior segredo que podemos guardar...

5 de junho de 2008

Naar zee, naar zee, naar zee,
O! mijn leven te water laten
Op zee, in de vind, op de golven!
Mijn smaak in grote reizen pekelen
Met door de winden opgeworpen schurm.
Mijn vleesvan avontuur met striemend water tuchtlgen,
Het bot van mijn bestaan in ocean kouden drenken,
Mijn cyclonisch en atlantisch wezen
Geselen, sneijden, kerven door winden, schulm en zon,
Mijn zenuwen als touwladders gestrekt,
Harp in de handen van de wind

Tradução:

“No mar, no mar, no mar,
Eh! pôr no mar, ao vento, às vagas,
A minha vida!
Salgar de espuma arremessada pelos ventos
Meu paladar das grandes viagens.
Fustigar de água chicoteante as carnes da minha aventura,
Repassar de frios oceânicos os ossos da minha existência,
Flagelar, cortar, engelhar de ventos, de espumas, de sóis,
Meu ser ciclónico e atlântico,
Meus nervos postos como enxárcias,
Lira nas mãos dos ventos!”


Alvaro de Campos

... a partir de um poema exposto em Oostende, provincia de West-Vlaanderen, Bélgica.

Quantos poemas à beira mar, nós, a nação que deu novos mundos ao mundo por via marítima, temos nós por cá?

1 de junho de 2008

Há regressos e regressos. Creio que, no imaginário de cada um, a palavra "regresso" possa evocar sentimentos bem positivos e algo nostálgicos. Não sei como é com o resto das pessoas, mas, para mim, "regresso" e "casa" são quase gémeos siameses. Não consigo, espontaneamente, associar regresso a coisas desagradáveis.
Não foi esse o caso deste meu último regresso. Este enquadrou-se perfeitamente no meu conceito: doce, sereno e esperado... rever esta terra bendita e amaldiçoada, sentir o ar (um pouco menos o sol, mas isso não importa), a energia que rodeia... Mas fui apanhado desprevenido. Passo a explicar: a adaptação a um país estranho (estando nós nesse país totalmente sós) é um processo complexo (não é fácil ser romano em Roma). Se não conhecermos a língua, habituarmo-nos à mesma é um trabalho árduo - se depois a queremos assimilar, mais trabalho ainda há a fazer. Depois, os ritmos. Cada país, cada cidade tem o seu pulsar muito próprio; sermos apanhados no remoinho do seu dia-a-dia pode ser complicado mas nada que não se preveja. Por último (e este não se faz em meses mas em anos) a mentalidade. Com este é preciso ter cuidado, não sejamos "contaminados" pela mesma. Uma coisa é compreender, outra é adoptar (a não ser os bons hábitos). Findo tudo isto, sentindo-nos medianamente integrados, a ideia que nos sobrevem é que apesar de tudo mantemos a nossa identidade como cidadão de outro país.

Tudo muito bem.

Experimentem, no entanto, regressar (depois de todo esse trabalho feito) ao vosso país de origem. Pois é, não é linear. Nós já NÃO somos aquilo que éramos. Não somos (no nosso caso) "só" Portugueses. Somos Portugueses e mais qualquer coisa... Qualquer experiência (pessoal) modifica a pessoa. Podemos não gostar, manter a nossa isenção ao máximo mas a questão é que estamos (subliminarmente) a ser modificados, sem nos darmos conta. Sem nos darmos conta, da mesma forma que dizíamos "no meu país, não é assim..." ou "nós fazemos de outra maneira...", passamos a dizer a mesma coisa quando regressamos "lá eles faziam assim...". Isto não implica, ressalve-se, que concordemos com uma maneira ou com outra. No fundo, creio que é uma forma de mostrar que passamos por aquela experiência, que aprendemos qualquer coisa com ela e que (espera-se) usemos do melhor. No meu caso, não nego que, na mudança subliminar, tenha aprendido a gostar do local onde estive; não sei o que é que gosto nele nem porque é que gosto dele - só sei que gosto (será um caso de síndrome de Estocolmo?). Citando Pessoa "Primeiro estranha-se, depois entranha-se...".
... E agora, à luz de tudo isto, pergunto(-me), regressei, ou parti?

12 de maio de 2008

Perder-me. Eis algo que tenho feito por aqui. Tenho-me perdido pelas ruas, com esse mesmo propósito: tão só e apenas perder-me. É uma decisão fácil, basta chegar a um sitio em que nunca tenhamos estado e dizer, "agora vou por aqui" sem saber o que espera ao virar da esquina.
Ontem foi o melhor desses dias (nesse objectivo): tendo ido a Antwerpen (leia-se Ántverpên), não sabendo o que me esperava, deparei-me logo à partida com uma cidade, de um tamanho da qual pensava que só Bruxelas teria neste país. Mas não. Tinha, pois, a tarefa facilitada. Cidade enorme, sem ponta por onde lhe pegasse. E, assim, vagueei...
Porquê perdermo-nos? Por vezes faz falta. Faz falta perdermo-nos, não termos certezas de nada na vida, ou, pelo menos, deixarmos as coisas que julgamos que são referências para que saibamos que podemos (ou não) viver sem essas referencias, desmascarar falsos ídolos, pés de barro, ilusões e miragens que nos desviam de onde deveriamos caminhar... Cada um saberá por onde... E depois as surpresas, os encontros inesperados, as descobertas, a intensa força de descobrir que somos auto-suficientes e conseguirmos, mergulhando na obscuridão, vencer o desconhecido (que tantas vezes assusta) e trazer Luz (ou trazer à Luz) coisas que estavam bem escondidas na bruma.
Acredito, assim também, que ao mesmo tempo que parto à descoberta de novas geografias, novos locais, parto analogamente à minha Descoberta, à procura de novos caminhos no meu Interior, de asteroides no meu Universo pessoal, de novas e maravilhosas galáxias que nos constituem, entrelaçando-se assim os dois actos de forma muito interessante. Perdermo-nos obriga a isso. Obriga a centrarmo-nos em nós mesmos, obriga a ter certezas pessoais, internas, saber que somos capazes, no meio do imponderável, de manter a serenidade. Tendo como ponto de referência o "Estou aqui. Este sou Eu e vim aqui parar porque quis." encontramos novos caminhos para outras paranças, porque aceitamos, à partida, a Responsabilidade do que fazemos (passo enorme) e quem somos. Só esse gesto é revelador, experimentem se o desejarem... Tudo o resto, cada um saberá o que encontrará.

23 de abril de 2008

Ainda a propósito do meu ultimo post, vieram mesmo a propósito as palavras do nosso Nobel estrangeirado. Não posso dizer que seja dos escritores que mais admiro mas é um dos nossos maiores escritores vivos, logo, o que ele diz sempre valerá "qualquer coisa". E rezou ele assim aos jornalistas...

"Não deixando de dizer que "este é um país de coisas negativas, mas é o meu País", revelou que em Lanzarote descobriu o português: "Temos a língua mais bonita do mundo, ela é o ar que respiramos." "Todos somos responsáveis por ela, a começar pela Comunicação Social. Leiam Fernão Lopes, Camões, Bernardim Ribeiro, António Vieira, Pessoa, Eça, Camilo, Antero, Almada Negreiros", aconselhou."

in DN Online, 23/04/08

E mais nada!...

14 de abril de 2008

Pois, passado que está este longo interregno, creio que é altura de dizer qualquer coisa sobre isso...

Não estou em Portugal. Estou, para quem não sabe, numa média cidade belga, chamada Gent. É uma cidade pacata (para uma cidade) tipicamente da Europa central, plana, sem um monte q se veja em milhas ao redor... A minha alma lusitana reclama pelas ondas, pelo cheiro do mar, pelos montes, colinas, serras, vales, pelo sol, pelo ar perfumado que temos e que, desgraçados Portugueses!, não sabem que o têm... Eu, que sabia que iria sentir falta de tudo isso, nunca imaginei o quanto poderia sentir essa falta absurda de uma energia tão portuguesa, de um solo, um ambiente que nos está enraizado no genoma (quase)... É uma sensação quase febril, um estado de falta de saúde, como se nos tivesse sido arrancado um algo que sabemos que nos pertence, nosso por direito e conquista, nosso por Vida.
Não sabemos as bençãos que nos foram garantidas mas isso, creio, é mal internacional... Não temos noção que a nossa maior riqueza é, definitivamente, a gente.. Não temos a "beleza" nórdica? Só para quem não quiser ver! Temos, invés, um coração genuíno e honesto, um coração que, mesmo quando fala pelas costas, pelo menos fala! "És um cabrão (mas não te guardo mais ressentimento do que isto...)". Cão que ladra não morde, já dizia a minha avó.

Falam do nosso Governo, mas esta gente aqui esteve mais de meio ano com um governo provisório! Uma diferença para melhor: ao menos têm os dois pilares da sociedade (Saúde e Educação) bem firmes e assegurados. De resto, tão mau ou pior que nós... Os salários são melhores mas isso é a consequência de bons politicos no passado (outra coisa que não tivemos), influências regionais e não dos políticos do presente... Este é um país à beira da cisão! Em Portugal, goza-se com os tripeiros, com os alentejanos, com os transmontanhos, com os beirões, com os algarvios, os açoreanos e os madeirenses, enfim, uns com os outros, mas nunca, nunca, ouvi dizer a alguém que outrem não era Português, que o Porto, Vila Real, Braga, Faro, Beja, Funchal, São Miguel não são, nunca foram, nunca serão Portugal... já aqui, não é bem assim... A Bélgica é uma ficção num mapa, quando um dia alguém traçou a régua e esquadro uma "zona tampão" entre a Alemanha e a França... no dia a dia, a Flandres e a Valónia são dois siameses que se odeiam (por "N" motivos) apenas unidos por um cordão que só merece o desprezo de ambas as partes por que os mantém estupidamente unidos: Bruxelas. Ódios, ressentimentos de décadas...

É a Saudade a falar?... Talvez... Mas, mais do que isso, é a identidade de ser Português e o contraste de maneiras de ser e viver deste povo que estão a chocar em mim e a revoltar-me... Olhem para todos os grandes vultos da nossa cultura do Passado que passaram pelo estrangeiro e tentem ver para além das linhas causticas que eles nos dedicaram... tentem reconhecer, num Eça, por exemplo, que cada vez que ele criticava os nossos costumes, não era para nos deitar abaixo e minimizar perante outros povos, mas sim, uma forma de nos "espicaçar", a acordar, a sermos tudo aquilo que podemos ser porque ele (tal como eu agora) percebeu que em NADA ficamos atrás desta gente, ela sim, mesquinha e mediocre...

Merecemos mais... é só acreditarem...

21 de março de 2008

Olá Helena!

Como estás? Bem vinda de novo a este mundo! Creio que as coisas devem ter mudado um bocadinho desde a última vez que aqui estiveste... Não sei quando foi mas, muito certamente, também aí nos encontrámos... afinal, és da Família!

Nasceste num país chamado Portugal, numa cidade chamada Lisboa. Não é um país mau. É até bastante pacífico só que tem o problema de ser governado por incompetentes... mas isso terás muito tempo para verificar pelos teus olhitos. O que quero realçar aqui, é a beleza esplêndida deste pais, a riqueza das gentes, o fino ar que dispomos, a Paz que gozamos. É um pais pequenito mas que contém segredos inigualáveis. Se assim o quiseres, terás muito a descobrir. Verás, por exemplo, que somos muito orgulhosos da nossa História, de um certo passado, repassado, há já muito tempo. Mas esse é também um defeito deste país: vive-se demasiado no passado. Mas creio que isso, para ti, não será problema. Fazes parte de uma nova Era, verás o mundo com outros olhos, sentirás as coisas com um coração mais presente. Não olharás, muito provavelmente, para o Passado à procura de consolo, de um algo que te faça sentir importante, perpetuando os teus dias à sombra dessa glória passada. Preferes viver no Agora porque sabes que o mais importante que um Humano tem é a Luz que é, que existe no Presente e sabes (e tomarás consciência disso) que é com isso que deve trabalhar para fazer as coisas andarem para a frente.

Nunca te esqueças que és Humana, um tipo de Anjo muito especial, mas sempre um Anjo. Ser Humano, para além de ser uma Honra, implica muito trabalho (como "sabes" e acabarás por perceber) pois viverás numa Guerra constante dentro de ti, entre a Luz e a Sombra, uma Luta realçada com a vivência com outros Humanos que vivem, cada qual, com a sua Guerra. Mas não te assustes: tal como alguém me disse há uns tempos, existe sempre um Anjo disposta a ajudar-te sempre que precisares e, além disso, tens mais alguns atributos que boa parte das pessoas sobre a Terra (pela altura que te escrevo) não tem, o que poderá (mais uma vez, se assim o quiseres) "facilitar" o Trabalho.

Não é por acaso que nasceste no seio de uma família. Observa-os bem e ama-os, não porque é uma Lei mas porque são, serão certamente os teus melhores Amigos e terás o seu Amor incondicional. Não serão os únicos, contudo, e aos demais que encontrares no teu Caminho partilha com eles o teu Amor e o teu Tempo. Também eles o farão mas, atenção, nem sempre será da maneira que esperas. Olha, então, mede todas as tuas acções e as deles com os olhos do Coração e evitarás tristezas desnecessárias. Aliás, olha sempre tudo o que te rodeia por esses olhos tão especiais: saberás sempre para onde ir e o que fazer. E, acima de tudo, lembra-te que este Caminho, o TEU Caminho, é só Teu e que, apesar de existirem pessoas com que te "acompanham", nenhuma delas tem o poder de o fazer por ti, ou tu o delas. Só tu é que sabes de onde vens, onde estás e para onde vais. Nós (deste e do Outro Lado) estaremos contigo. Sabes que muito mais te poderia dizer, mas, por muito que te contasse, nada substituiria a experiência que é o Milagre de Viver.

Paz e Luz, minha Querida!

19 de março de 2008

I could see you dance
In the middle of the road to my heart,
Your body moving,
A reflection of your soul...

I was alone,
I was tired of this place, of this life...
And there you were,
Like a remedy for my pain...

You were so alone,
“A heart of stone” - they said...
They couldn’t be more wrong,
They just couldn’t be more wrong...

Your voice is fading,
In the echoes of a song you once sang...
Tired and lonely,
Yet so strong that it makes me cry...

Shout out loud!, Dark Poet full of scythe
The time has come for them to
Save you!
Trespassing through Time, if they could
Save You!
Knowledge is a crime and I shall
Save You!
Make your words live on and on,
And on, and on, and on, and on, and on...
On and on...

I could see you dance
In the middle of the road to my heart...

Beardfish - Sleeping In Traffic Pt1 - 2007

...pode ouvir-se aqui...

15 de março de 2008

"The greatest challenge to any thinker is stating the problem in a way that will allow a solution."
(O maior desafio de um pensador é aferir o problema de forma a que permita uma solução)
B. Russell

Ora aqui está o nosso amigo Bertrand novamente à carga, numa citação encontrada por acaso! Devo dizer que não conheço muito da sua vida mas ouvi há uns tempos coisas que não me agradaram sobre certos pontos de vista seus (dos quais não me recordo)... De qualquer forma, não estou aqui para julgar o homem, simplesmente, quero pensar um pouco sobre esta tirada filosófica...

Todos os problemas, para serem compreendidos como problemas, têm que ser aferidos. Os mecanismos de reconhecimento foram inicialmente descritos por Kant, sendo a sua explanação prosseguída por célebres e eminentes epistemologistas como K. Popper (corrijam-me se estiver enganado!). Dependendo, creio, da perspectiva pela qual o aferimos, poderemos vislumbrar uma saída para o novelo que tenhamos em mão. Ora, é aqui que o problema gera outro problema porque encontrar uma perspectiva de solução é quase tão difícil como encontrar a própria solução. No entanto, assim que a encontramos (a perspectiva), o objectivo final torna-se muito mais real. Esta é a minha interpretação e creio que foi nisto que Russell se revelou um "Senhor": ele era um Vulgarizador da Filosofia, tornou-a, com os seus raciocínios rápidos, acessível ao "comum dos mortais", reabriu uma nova época de Racionalismo, de Análise da Realidade ao longo de um século, no qual pareceu que as pessoas fizeram demais e pensaram (correctamente) "de menos" e que, também graças a isso, ou não, se encaminha para uma era de obscurantismo tecnológico, ou seja, "não me interessa como funciona, desde que funcione! Alguém há-de saber isso...". Será este o mundo em que queremos viver?

12 de março de 2008

Betracht dies Herz und frage mich,
Wer hat die Kron' gebunden,
Von wem sind diese Wunden?
Sie ist von mir und doch für mich.
Sieh, wie es Blut und Wasser wient,
Hör, was die Zähren sagen,
Die letzten Tropfen fragen,
Ob es mit dir nicht redlich meint...
Ergib dich, hartes Herz,
Zerfließ in Reu und Schmerz.

Tradução:

Repara neste Coração e pergunta-me,
Quem entrelaçou esta Coroa,
De quem são estas Feridas?
Fui eu que a fiz e sou eu que a carrego.
Vê, este coração chora Sangue e Água,
Escuta o que dizem as Lágrimas:
As ultimas gotas perguntam
se não és sincero...
Rende-te, Coração duro,
E derrete-te em Remorsos e Dor.

Engelsarie aus Grabmusik - W.A. Mozart, 1767

11 de março de 2008

Depois dos ultimos posts, altamente musicais, chega a altura de algo completamente diferente...
Queria partir... de um filme. Vi este filme na 6ª feira e o título é "Into the Wild" (O Lado Selvagem, título em Portugal). E, daí partindo, a pergunta que faço é: quantos de nós têm entrado em contacto com o seu lado selvagem? Quantos é que se ligaram aquele lado em que tudo está imaculado, o local em que são realmente livres? É um local assustador? Pode ser (se assim o deixarmos)! E o caminho para lá chegar não é, muitas vezes, fácil. Pelo caminho, muitas barreiras há que nos impedem de lá chegar... muitos caminhos, muitas encruzilhadas... a Dúvida assola-nos, os nossos preconceitos e regras de auto-domínio impedem-nos de chegar ao nosso ponto mais genuíno... As regras da sociedade, nas quais estamos integrados, e as quais nos são incutidas desde a mais tenra idade, viram-se (quantas vezes!) contra nós e desviam-nos... Perdemo-nos! Esse é um Local ao qual convém que retornemos frequentemente. É lá que está a Essência! Quando tudo no mundo falha, eis algo do tamanho do Universo, dentro de nós, que nunca falhará...

9 de março de 2008

Temptation-
Why won't you leave me alone?
Lurking Every Corner, everywhere I go...

Self Control-
Don't turn your back on me now
When I need you the most...

Constant pressure tests my will
My will or my won't
My Self Control escapes from me still...

Hypocrite-
How could you be so cruel
and expect my faith in return?

Resistance-
Is not as hard as it seems
When you close the door...

I spent so long trusting in you
I trust you forgot
Just when I thought I believed in you...

[Sample is Meryl Streep from the film "Falling In Love".]
"What're you doing?
What're you doing?"


It's time for me to deal
Becoming all too real
living in fear-
Why did you lie and pretend?
This has come to an end
I'll never trust you again
It's time you made your amends
Look in the mirror my friend...

[Sample is Jeremy Irons from the film "Damage".]
"That I haven't behaved as I should"
[Sample is Mary Beth Hurt from the film "Light Sleeper".]
"Everything you need is around you. The only danger is inside you."
[Sample is Jeremy Irons from the film "Damage".]
"I thought you could control life, but it's not like that. There are things you can't control."


Let's stare the problem right in the eye,
It's plagued me from coast to coast...
Racing the clock to please everyone,
All but the one who matters the most...

Reflections of reality
are slowly coming into view...
How in the hell could you possibly forgive me,
After all the hell I put you through?!?

It's time for me to deal,
Becoming all too real,
living in fear-
Why'd I betray my friend?
Lying until the end!
Living life so pretend!
It's time to make my amends,
I'll never hurt you again...



... e é isto, basicamente!...

6 de março de 2008

Confrontaram-me, ainda há minutos, com o meu passado. E, mais engraçado, com um momento que eu considero muito positivo! Foi muito giro!
O Passado é algo imutável. Coisas boas ou coisas más, ninguém lhes pode mexer. Jamais! Por um lado isso parece cruel (visto que é impossível passarmos pelo mesmo) mas por outro é um alívio porque NÃO temos de passar pelos mesmos momentos maus. De qualquer forma, o Passado parece ter a irritante mania de nos querer "apanhar". E sobretudo, de tentar subverter coisas boas em coisas más, ou más em boas (ou ainda piores). É aí, nesses momentos, creio, que nós vemos o quão forte nós somos, o quanto estamos em paz com aquilo que vivemos. Tudo o que vivi, bom ou mau, sei que teve um propósito, e aquilo que ficou eternizado foi o que eu sentia na altura. Olhando para trás, posso rir-me, posso chorar, posso sentir saudades mas não quer dizer que voltasse a fazer ou evitasse. Já está feito, teve um propósito! Eu escolho viver no Agora. Se isso implicar ser confrontado pelo que disse ou fiz (que tenho a certeza que o fiz com a maior das Verdades), que seja. Há que separar as coisas, a única variável comum ao (meu) Passado e ao Agora, sou eu! E mesmo essa variável, é isso mesmo: uma variável. Mudei, e mudei porque tenho um Passado. Ou seja, sou e não sou o mesmo. Será necessário julgamento e/ou condenação por isso? Podia agora ir pela questão de crimes (mesmo crimes, termo judicial) passados, criminosos que nunca foram julgados e que o deviam ser, mas não é dessa(s) situação(ões) que falo. Falo do nosso passado pessoal, daquele que só a nós diz respeito, sem dano físico pessoal. E mesmo assim, ele tem essa tendência estranha de "pedir contas"... Então, que peça! Mas que se saiba que, ou já paguei, ou estou a pagar...

2 de março de 2008


... e, um dia, muitas como esta haverão. Grazzie Nocas!

1 de março de 2008

...mas eis que deslizo pelo fino macadame e me dou surpreendido. Aquela sensação típica de alguém que se passeia à beira rio num fim de tarde invade-me... Ninguém o definiu melhor como Cesário...

"Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer. (é mais o contrário, mas pronto, não posso mexer nas rimas...)

...

Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo! [...]"

Lisboa era uma cidade bonita ao fim do dia... A Luz que envolvia a zona ribeirinha era suave como uma cobertura de caramelo quentinho, acabadinho de fazer, e douradito. O cheiro no ar trouxe-me a nostalgia de anos há muito passados e sinto-me pleno de energia e bem-estar... Só me apetecia expandi-la em todas as direcções, que todos sentissem o que sinto!... Olho em meu redor, há sorrisos, há serenidade, há beijos e carinhos, há sorrisos e brincadeiras, conversas de fim de tarde, pequenas sinfonias numa "Opera Universalis" no qual me sinto, simples, figurante... e assim, ouvindo os ultimos acordes da encenação do dia, oiço o cair do pano indigo, sentindo a aturdida preparação para o número da noite...

Hoje, como num dia longínquo, senti-te, Lisboa, a sorrir... Era esse sorriso teu, ou de quem, "alguém", por aí anda?...

27 de fevereiro de 2008

When I find myself in times of trouble, mother Mary comes to me,
speaking words of wisdom, let it be.
And in my hour of darkness she is standing right in front of me,
speaking words of wisdom, let it be.

Let it be, let it be, let it be, let it be.
Whisper words of wisdom, let it be.

And when the broken hearted people living in the world agree,
there will be an answer, let it be.
For though they may be parted there is still a chance that they will see,
there will be an answer, let it be.

Let it be, let it be, .....

And when the night is cloudy, there is still a light that shines on me,
shine until tomorrow, let it be.
I wake up to the sound of music, mother Mary comes to me,
speaking words of wisdom, let it be.

Let it be, let it be, .....

The Beatles

Ontem vi a retransmissão dos Grammy's deste ano... A certa altura, como é apanágio do espectáculo, apareceu uma versão, que me tocou especialmente, do "Let It Be" dos Beatles, cantada em Gospel. Para mim foi, sem dúvida o momento alto daquela noite... Finalmente um arranjo à altura da musica e da letra!... Questão pendente: quem é a "mother Mary"?

23 de fevereiro de 2008

Muitos poderão perguntar-se porque é que eu ponho tantas letras de músicas num blog que, supostamente, é dedicado ao pensamento sobre as coisas simples (ou não!) como sentimentos que nos podem assolar, de tempos a tempos, em fases da vida, ou que são permanentes... Isto tem dois motivos: o primeiro é por ser absolutamente melómano. Quando ponho qualquer coisa, tenho a irritante mania de imaginar que, a par com a letra, estou a colocar (subliminarmente) a música... é uma pena que nem na vida real eu consiga colocar, transmitir as emoções que sinto ao ouvir uma música com a qual me identifico... seria a perfeita forma de comunicação! Transmitir emoções, inequívocas, entre dois humanos seria maravilhoso.
O segundo motivo, é que as letras, sendo poesia, são o que de melhor consigo encontrar para exprimir o que sinto... Lamento os pobres compositores que aqui cito, por nunca terem imaginado que as suas obras são citadas por motivos tão banais... É poesia de fácil acesso, poesia de "esticar o braço" e já está... não tenho paciência para pegar num livro de conceituada poesia (a não ser nos que já peguei, nos tempos de antanho) e sentir-me identificado com o que se escreve... Normalmente, quando isso eventualmente acontece, há dois tipos de poemas com que me deparo: aqueles que são tão banais e repetitivos que até chateiam, e aqueles que só nas aulas de Português (ou outra língua) podem ser decifrados, de tão críptica é a sua linguagem... Nisso, as letras de músicas têm mais um argumento a favor - o seu factor críptico é facilmente decifrável pelas emoções que a música transmite. No entanto...

No entanto, percebi que as coisas podem não ser assim... Tenho encontrado ultimamente letras que não correspondem ao que a música está a transmitir. Oiço a música antes de perceber o que está a ser cantado e tenho uma impressão que a música será sobre um tema. Procuro então a letra e espanto-me que o que é cantado é quase o oposto do que eu senti pela música. Um exemplo disso é a musica que já aqui postei "The Weed of all Mankind" dos Kaipa. Mas tenho encontrado mais.

A Vida é mudança. A Vida está em mudança. Lembro-me dos tempos em que sentia uma profunda vontade de escrever, ainda não sabendo do quê, e em que as palavras fluíam assim que eu me sentava em frente à folha de papel. Era também o tempo em que conseguía memorizar todas as letras que me apareciam à frente e rara era aquela que não me dissesse algo, ou que não conseguísse aplicar num contexto, ou que não traduzisse ou levantasse uma emoção forte. Com o tempo, tornou-se difícil memorizar mais letras mas, mais ainda, encontrar alguma que me dissesse algo. Comecei, então a interessar-me por álbuns que contassem uma história (os concept albums), já que ao longo de uma história as pessoas passam por muitas emoções e, muitas vezes, as histórias que são contadas são fragmentos das experiências pessoais de quem as escreve... Também isso passou. Compreendo (ou acho que compreendo) que a Vida me diz: está na hora de seres tu a escreveres aquela poesia que, mais que nunca, te tocará - a tua. É aquela a que tu poderás voltar, sempre que quiseres e com a qual te vais identificar sempre... E apesar de já ter escrito qualquer coisa noutros tempos, acho que "esta" há de ser um bocado diferente...

14 de fevereiro de 2008

"A sorte, para chegar até mim, tem de passar pelas condições que o meu carácter lhe impõe."

Não sei de quem é esta frase mas sei quem ma mandou (e desde já lhe mando um grande abraço). São frases providenciais que nos aparecem no caminho, nem que seja para me pôr um sorriso na cara (como pôs).
Em primeiro lugar, e depois de algum pensar, subscrevo esta frase. A parte mais estranha aqui é coadunar o conceito de "sorte" com "o meu carácter lhe impõe". A primeira questão é: o que é a sorte? Haverá mesmo sorte? Depende. Se acreditarmos em coincidências, sim, creio que se pode admitir a existência da sorte, já que o conceito de sorte depende do conceito de acaso (que irá dar, obrigatoriamente, à noção de coincidência). Sigamos por este caminho. Para sabermos que algo que nos acontece é uma sorte, tem este acontecimento de ser por nós processado como um acontecimento benéfico, o que depende do nosso carácter e daí a frase fazer todo o sentido.
Outra análise. Independentemente do processo que acabei de referir, suponhamos que existem as condições que criamos para que a sorte aconteça. Daí o célebre dito popular "A sorte somos nós que a fazemos" ou o seu inverso "Quem semeia ventos, colhe tempestades". Novamente, estas condições dependem do nosso carácter, de como nós sentimos as coisas e queremos que elas aconteçam. Se as coisas acontecerem como nós queremos, é uma sorte, claro! Mas aqui perde-se o sentido de acaso que o conceito de sorte implica.
Eu não acredito na sorte. Simplesmente porque não acredito no acaso. No entanto, fico surpreendido com as coisas boas que simplesmente me aparecem no meu caminho e celebro-as. Por vezes não sei reconhecer assim tão bem que são boas, ou exagero no bom que uma situação é, mas isso são contas de outro rosário. Se puder fazer a minha "sorte", faço-a. Se não, sigo a minha Vida, que é só o que tenho de fazer, e depois logo se vê. O que conta, como sempre, é o Agora, já o tinha dito, porque é no Agora que se decidem as coisas e não no Passado (o qual só serve para se tirarem lições) ou no Futuro (que é um bom factor para nos pôr a mexer no Agora, que não existe, onde tudo está por decidir e que, por isso, é errado fiarmo-nos).