Perder-me. Eis algo que tenho feito por aqui. Tenho-me perdido pelas ruas, com esse mesmo propósito: tão só e apenas perder-me. É uma decisão fácil, basta chegar a um sitio em que nunca tenhamos estado e dizer, "agora vou por aqui" sem saber o que espera ao virar da esquina.
Ontem foi o melhor desses dias (nesse objectivo): tendo ido a Antwerpen (leia-se Ántverpên), não sabendo o que me esperava, deparei-me logo à partida com uma cidade, de um tamanho da qual pensava que só Bruxelas teria neste país. Mas não. Tinha, pois, a tarefa facilitada. Cidade enorme, sem ponta por onde lhe pegasse. E, assim, vagueei...
Porquê perdermo-nos? Por vezes faz falta. Faz falta perdermo-nos, não termos certezas de nada na vida, ou, pelo menos, deixarmos as coisas que julgamos que são referências para que saibamos que podemos (ou não) viver sem essas referencias, desmascarar falsos ídolos, pés de barro, ilusões e miragens que nos desviam de onde deveriamos caminhar... Cada um saberá por onde... E depois as surpresas, os encontros inesperados, as descobertas, a intensa força de descobrir que somos auto-suficientes e conseguirmos, mergulhando na obscuridão, vencer o desconhecido (que tantas vezes assusta) e trazer Luz (ou trazer à Luz) coisas que estavam bem escondidas na bruma.
Acredito, assim também, que ao mesmo tempo que parto à descoberta de novas geografias, novos locais, parto analogamente à minha Descoberta, à procura de novos caminhos no meu Interior, de asteroides no meu Universo pessoal, de novas e maravilhosas galáxias que nos constituem, entrelaçando-se assim os dois actos de forma muito interessante. Perdermo-nos obriga a isso. Obriga a centrarmo-nos em nós mesmos, obriga a ter certezas pessoais, internas, saber que somos capazes, no meio do imponderável, de manter a serenidade. Tendo como ponto de referência o "Estou aqui. Este sou Eu e vim aqui parar porque quis." encontramos novos caminhos para outras paranças, porque aceitamos, à partida, a Responsabilidade do que fazemos (passo enorme) e quem somos. Só esse gesto é revelador, experimentem se o desejarem... Tudo o resto, cada um saberá o que encontrará.
5 comentários:
Toda a gente é semmpre capaz de viver sem as ditas referências, porque o cérebro humano foi feito para se adaptar a qualquer situação. Já eu, fisicamente falando, tenho a certeza de que não encontrava o caminho de regresso=)*
Sortudo!
P. S. O Saramago ainda fala... ou os Espanhóis já o substituiram por um cyborg?
Joana: concordo contigo que o nosso cerebro foi feito para se adaptar. No entanto, observa-se frequentemente que as pessoas têem uma resistencia natural à mudança, baseada (quantas vezes) no medo de perder aquilo que acham que é a sua Vida. Não é portanto a capacidade de adaptaçao que está aqui em causa (até é bom que haja) mas sim o encontrarmos as verdadeiras referencias que estão em nós.
klatuu: O Saramago desde que saiu da clinica diz que engordou e tudo... anda palrante o "jovem"... agora deve estar a preparar mais uma obra prima da "Coltura" na companhia da xô dona Pilar. No entanto, nunca é de descartar tudo o que as pessoas dizem...
Ai amigo... como eu te invejo... Apesar de a achar um pouco escura uma das cidades Belgas (Flamengas) que eu mais gostei foi Atwerpen. Viste o gigante? ... E continuo-te a invejar... há sempre coisas para fazer e deixamos sempre o perdermo-nos para mais tarde... Depois arrisco, tenho tempo! E o tempo passa... e nós nunca mais nos perdemos... Concordo contigo! Perdermo-nos é fundamental para a nossa vida! (Curiosamente também neste fds me perdi e foi óptimo! O caminho há-de dar a algum lugar, não é? ;)
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