24 de dezembro de 2007

Tenho pensado muito no que vou escrever mas acho que o melhor é fazê-lo como sempre fiz: "straight from the heart"...
É Natal, não é preciso eu acrescentar mais nada quanto a isto, é um facto, estamos na época festiva... Milhões de pessoas têm milhões de motivos para gostarem desta época mas eu pertenço aos outros milhões de pessoas que têm milhões de motivos para detestarem esta época... As minhas razões têm raizes profundas e, como "planta" que é, todos os anos cresce e cresce e cresce...
O mundo não está um lugar bonito para se viver... podia ser mas não está a ser um lugar bonito para se viver e não são épocas como estas que ajudam a ser... muito pelo contrário, é uma época onde a hipocrisia e o cinismo imperam... Não estou a dizer que haja boa vontade algures, até pode haver, mas acho que acima de tudo existe um puro sentimento de inveja e ciúme, algo que se sobrepõe ao aclamado espírito de comunhão e solidariedade que deveria caracterizar o Natal... são as compras que se "têm" que fazer para 90% das pessoas que não se gosta realmente mas que se "tem" de oferecer senão ficamos com a impressão de se ter ganho um inimigo para a eternidade, é a corrida de encontrar uma prenda melhor do que a do ano passado mas não suficientemente boa ou melhor que a que vamos dar aos que gostamos que, por sua vez, não será melhor que a que já nos demos, é a má vontade com que se arrastam as crianças que queria um brinquedo que não vão receber porque é muito caro e vão ter que se contentar com um muito pior, é o mau humor das pessoas nas compras, é isto, é aquilo e aqueloutro, é só dizer...
As minhas razões são mais pessoais... baseiam-se num conjunto de experiências que aconteceram e nunca deviam ter acontecido, e noutras que aconteceram e deixaram de acontecer... O Natal é para as crianças, lá isso é e tem de ser assim... o meu Natal foi assassinado aos 10 anos. Porque foi aos 10 anos que deixei de fazer uma festa de crianças (ou com crianças) para fazer uma festa sem crianças, só pessoas idosas com as quais não me identificava minimamente... família, sim, mas família que não me dizia nada, que só via quase de ano a ano, em contraste com outra família que eu via quase todos os fim-de-semana... Natal sem alegria, Natal com queixas, ressentimentos à mesa, um Natal de nome, só casca, esqueleto... Não melhorou durante anos, até há 4 anos, altura em que mudei de casa e fiz a primeira consoada só com os meus pais... Pensei a início que seria mais uma consoada sem vida mas foi especial, diferente, muito gira... No entanto, há um aspecto muito importante no Natal: a preparação do mesmo! Isto, até aos 10 anos foi fantástico, deixou de o ser, e há 2 anos voltou a ser durante, precisamente, 2 anos... este ano voltou a deixar de ser e, portanto, não tenho nada que me diga que é Natal porque não o preparei minimamente.
As prendas.. bem, disso não me posso queixar porque nunca recebi prendas daquelas de sonhar (o que é diferente de não receber prendas)... fui, o que costumo chamar, um "babão" - passava a época pré-Natalícia a babar-me com o que via na televisão e depois babava-me com aquilo que eu via os outros tinham recebido... se isto era mau, pior ficou porque calhou-me o castigo de Sísifo: quando tinha chegado ao cimo (a uma situação boa), a pedra rebolou de novo para o fundo da encosta... coisas da Vida...
A nossa vida também é feita de memórias. E muitas vezes é das memórias que se cria a expectativa de coisas que hão-de acontecer... As minhas memórias de Natal são, na sua maioria, más. Mas também tenho memórias boas e é nisso que penso nestas alturas e não me deixa tão amargo em relação a esta época... De resto, motivos todos temos para encarar as coisas de uma forma ou outra... O meu 1º desejo de Natal não se vai realizar, já o sei, o meu 2º também não (e era tão simples) mas o meu 3º desejo espero que se concretize: que, quem quer que leia isto, tenha um Natal (em todas as suas vertentes) bem melhor do que os que eu tive, sem ressentimentos, sem amarguras, mas com muita muita alegria e Amor!...

18 de dezembro de 2007

"And when we touch the future dies,
I see the face of my demise,
I'm all alone without a friend,
I see my fate; my bitter end...

Thought I was the bigger man
But all I've done is a grain of sand...
Thought I gave the best of me
But all it was, was vanity...

All is vanity
All is vanity..."

Spock's Beard - Snow

Constatações, dúvidas, vislumbres de um futuro (indesejado)... :/

16 de dezembro de 2007

Ultimamente, por vezes, sinto-me assim...

Our garden is running dead dry
We're watching the flowers die
This Eden is running to weed
Under dense and darkened skies
We're watching love die

Weeds linger past the doors
Green fingers from the dark fields
The thorn cut thru the walls
Piercing thru the armours
It'll reach out for your heart

This evil is still standing by
They strike by the end of the day
This Sinister parasite dwell
In this house where there used to be love
Now it borders to hell

They feed on fear and weakness
Like a sleeping cancer growth
Screaming to break free
To join the dawn of madness
Where King of Chaos rule

Now passing borderlines
We're stunned, disarmed and helpless
A crown of thorn to rule us
In years of silent sadness
The weed of all mankind


Outras vezes sinto-me assim...

You don't know who sent you here - You can't see them pull the strings
I bet they've got a damn good reason - I hope there's someone listening
Ihope what they say is true - That God can see thru souls of men
And all the blood upon our windows will be like teardrops in the rain...

...

Where did all the goodness - where did all Love go?
Where is all the kindness - can love find a home?
First you build me up and then you break me down.
I don't want your money - I just need your time.
World is getting older now! World is getting colder now!
Egos getting bigger - It's playground for the wicked!
No one is really listening - No room for reasoning!
The cash machine just opened up it's jaws & now it's giggling.

Look when you stand on the brink of that dark hole
It's like the world just collapsed in this space.
If you look for a trace of redemption - You're not likely to find in this place


Mas, apesar de tudo, em pano de fundo, sinto-me sempre assim...

I'm the voice of summer - now won't you ride the wave?
I am life in motion & laughter on the scale.
If you take me seriously - I'll take you serious too
Ride together into the sunset, that's all we can do.
You can call me dreamer - You can call me plain.
A tiny bit of sunshine in between the driving rains.
You can call me father - You can call me son.
A little bit of yesterday & future wrapped in one.

...

Hey - when you stand on the brink
Looking for answers - looking for answers
Love is One - Love is all - Love is kind
Love put on many faces
Love is the only answer - Love's what you feel
You can invest in love but never ask for payback...

Bonito quando outros conseguem dizer o que sentimos e somos...

Letras por "The Flower Kings" e "Kaipa"

8 de dezembro de 2007

Paro e olho pela janela. É fim de tarde... O contraste da luz de dentro e de fora faz-me lembrar certas pessoas... Mas ainda não vou por aí. Prefiro limitar-me (e é o que é neste momento) à luz que vejo desaparecer lá fora e a que está cá dentro, no quarto... Tento tirar uma foto para mais tarde poder recordar de como aconchegante, como "memoriosa" é este conjunto de cores que eu vejo. Infelizmente não tenho o melhor aparelho para isso e a foto fica-se pelas intenções...
Não queria ficar em casa hoje. Não sei porquê. Apetecia-me sair, estar com pessoas, falar de tudo e de nada, mas por aqui fiquei... De repente, num destes momentos em que tudo pára e nos pomos a olhar sem razão para um local, reparei no que disse acima e imediatamente a minha memória viajou... Bom da coisa, viajou para locais onde me senti tão bem, e melhor ainda, viajou para diversas ocasiões... Foi a altura da serenidade, a altura do recolhimento, uma luz que se vai e outra que chega, ou que parece que chega porque a que se vai era mais forte e a outra já la estava... sempre esteve... Nunca passaram por isso com pessoas? Eu já, e sem dúvida que aquilo que senti se dividiu entre a alegria do tesouro (re)encontrado/reconhecido e o sentimento de estupidez de termos demorado tanto tempo a reconhecer algo que sempre esteve lá. E não, a não estou a falar de ninguém em particular nem de algo que esteja a passar... simplesmente lembrei-me! Mas comecei há pouco a falar da diferença de luz nas pessoas. Tenho sentido (mais ultimamente que outra coisa) isso nas pessoas... Estando com elas sinto o que elas podem ser, conhecendo como conheço as suas atitudes, o seu modo de pensar, aquilo em que acreditam e, não raramente, sinto um grande potencial naquilo que são. É claro que, no fundo, é apenas uma imagem do que elas realmente são visto que, pela nossa condição, nunca saberemos como serão. Mas também, que interessa saber? Só se for por medo! Queremos saber com o que contamos, para quê? Para nos defendermos (por medo), por interesse? Eu costumo dizer que gosto de conhecer as pessoas mas também admito que não é somente pelo prazer que tenho em conhecê-las; ocasiões há, e sobretudo se tiver que conviver diariamente com elas, é para defesa ("gathering some intel")... Mas novamente o medo, aquele que se disfarça ardilosamente de coisas tão comuns que, se formos a dar por isso, já estão impregnadas no nosso quotidiano... e tão depressa ele se entranha que nem damos conta do quanto ele consegue manobrar as nossas atitudes... Há pouco tempo falei de uma vertente, nas relações amorosas, mas aplica-se a tantas tantas coisas... E, obviamente, levando o raciocínio até ao fim, é o Medo que leva a que a diferença entre aquilo que somos e aquilo que podemos ser se acentue... O mais engraçado é que, se agora se confrontarem com o "porque é que" fazem, e se o Medo estiver na base do que fazem, ele próprio vai criar barreiras de defesa. Como? Óbvio: gerando mais medo! É a única coisa que sabe fazer! :D Não cedam... confrontem o que sentem, o que fazem, os velhos hábitos bolorentos sem sentido e pensem se vale mesmo a pena gastar a vossa energia com isso quando podiam gastá-la em algo muito melhor: em como serem mais felizes e mais vocês próprios...

Olho agora pela janela e já é noite... o sentimento agora é outro: descanso, introspecção para o que se fez, preparar o amanhã... quem disse que, quando a luz está longe, não acontecem coisas importantes?...
Pegando na sugestão da Nocas, cá vai o meu contributo para a cadeia (esta até é interessante) da pag. 161...

E reza assim a dita página...

"-Quero lá saber da próxima geração, querido. O que me interessa, somos nós.
- Só és rebelde da cintura para baixo - afirmou ele.
Para ela, o dito soava extremamente espirituoso, e apertou Winston nos braços, encantada.
Os meandros da doutrina do Partido não lhe despertavam o mínimo interesse. Sempre que ele começava a falar dos princípios do SOCING, do duplopensar, da mutabilidade do passado, da negação da realidade objectiva, e se punha a usar palavras de novilíngua, ela mostrava-se maçada e confusa dizendo não ligar a essas coisas. Já se sabia que eram tudo balelas, por isso de que servia estar alguém a ralar-se? Sabia quando aplaudir e quando apupar, e chegava! À insistência dele em falar sobre tais assuntos, tinha o hábito desconcertante de adormecer. Era capaz de adormecer a qualquer hora e em qualquer posição. Conversando com ela, Winston percebeu a facilidade em exibir uma aparente ortodoxia sem se ter a menor noção do que era a ortodoxia. De certo modo, a visão que o partido fomentava do mundo e das coisas impunha-se com maior êxito às pessoas incapaz de a compreender. Podia-se levá-las a aceitar as mais flagrantes violações da realidade, porque nunca viam claramente a enormidade do que se lhes pedia, nem se interessavam suficientemente pela vida pública para se aperceberem do que estava a acontecer. Graças à falta de entendimento, conservavam saúde de espírito. Engoliam tudo e mais alguma coisa, e o que engoliam não lhes fazia mal, pois não deixava atrás de si o menor resíduo, como grãos de milho, sem serem digeridos, entram e saem pelo corpo de um pássaro."

1984, George Orwell (pag. 161 da edição portuguesa pela editora Antígona)

Não foi nada fácil escolher um excerto com sentido próprio para se colocar aqui... Ora, como eu não tenho amigos blogueiros, pela minha parte fico por aqui... :)

3 de dezembro de 2007

"The only limit to our realization of tomorrow will be our doubts of today." Franklin D. Roosevelt

Eu sei que é bom chegar a um blog, vermos as coisas e sairmos como se uma lufada de ar fresco nos tivesse atingido, deixando-nos bem dispostos, ou, de alguma forma, diferentes... Mas também é bom pensarmos nas coisas que nos aparecem por isso, aqui vos lanço o "reptil": comentai a frase supra-plagiada!


P.S. -"A child of five would understand this. Send someone to fetch a child of five." Groucho Marx