23 de outubro de 2009


I must not fear. Fear is the mind-killer.
Fear is the little-death that brings total obliteration.
I will face my fear. I will permit it to pass over me and through me.
And when it has gone past I will turn the inner eye to see its path.
Where the fear has gone there will be nothing.
Only I will remain.


Frank Herbert (1920 - 1986),
Bene Gesserit Litany against Fear, from "Dune"



   Ele chega, sorrateiramente, aproximando-se sem fazer barulho, por entre as luzes do dia a dia, sem lhes tocar, observando-nos, aprendendo atentamente todos os nossos segredos, todas as nossas falhas, todos os nossos podres, todas as pequenas cordinhas que nos fazem saltar a tampa. Ele quase que é todas essas coisas personificadas num pequeno demónio que nos atenta sempre que menos esperamos, ou quando mais esperamos. Mas o pior é, sem dúvida, quando ele se aproveita das coisas que nos enchem o coração, mimetiza o que sabe nos fazer feliz, e ataca violentamente, sem dó, nem piedade.
   Não o temo. Não sou aquilo que ele é. Sei que muitas vezes, vezes a mais, me deixo levar pela sua essência, vou na sua cantiga, e me torno outra pessoa, me torno aquilo que não creio ser realmente. Possuiu-me. Usou-me e descartou-me. Fez o seu propósito, para além de toda a animalidade latente, para além de todo o instinto que desperta, para além de qualquer recompensa negativa que lá saberá ter. Não sou ele. Ele transforma, ele muda o consciente em inconsciente, em reflexos selvagens e faces distorcidas, e, quantas vezes, em lágrimas. Vem sempre acompanhado e, mais cedo ou mais tarde, acaba sempre por mostrar com quem é que vem.
   É, apesar de não o temer, um adversário a não desprezar. E é mesmo um adversário. É uma guerra que se trava constantemente, em que o opositor se adapta em contínuo e em tempo real, a todas as estratégias, informações, técnicas, características que possamos ter ou vir a adquirir. É uma luta, primeiro, em reconhecê-lo, segundo, em poder deitá-lo abaixo. A primeira exige esperteza, a segunda exige ainda mais esperteza e mais engenho até. Ter em conta que é um adversário imutável é cometer a maior das asneiras. Assumir que desapareceu de vez, é a nossa derrota mais copiosa e profunda. No jogo de espelhos com que ele nos brinda, perder o juízo entre distinguir se é ele ou se é, de facto, a realidade, perdendo-nos a nós pelo caminho, é um risco sempre real e quase certo até.
   Há, no entanto, algo do qual ele não pode, nunca poderá imitar: o Bem, a Luz e o Amor Universal, o Amor de Deus. Isso é tudo aquilo que ele não é, nunca foi, nem nunca será. E, no entanto, acaba por ser uma sua ferramenta. Voz populi, vox dei, já diziam os antigos e com isto a sabedoria popular adquiriu uma aura de infalibilidade que nem o Papa, com os seus dogmas, conseguiu ter. O Tempo veio a cobri-la de razão e, neste âmbito, recorro agora a um dito popular de realismo quase ubíquo: "O que não mata, engorda", e na mais profunda tradição popular de dizer as coisas por meias palavras, também esta apresenta um significado diferente do que aparenta - de facto, não me estou a ver tomar cianeto para ganhar mais uns quilos. Assim, depois de ultrapassada, inequivocamente, a primeira etapa - o reconhecimento - do desfecho da segunda só se pode obter um destes dois resultados: ou a nossa queda, ou um triunfo terminal. De qualquer das formas, associado a este combate, está sempre, quer na vitória quer na derrota, uma lição. De substância, conteúdo e magnitude diametralmente opostos, claro está, mas sempre uma lição. Mais, é uma oportunidade única.
   Como eu tinha dito, não o temo. Antes, quero reconhecê-lo cada vez mais e melhor, que é como quem diz, mais rápido e sem dúvidas. Só assim poderei aprender mais rapidamente. Só assim poderei ser (mais, e mais vezes) feliz (mais) rapidamente. E, bonus, tornar os outros à minha volta ainda mais felizes. Porque é que isso é tão importante para mim? Uma pergunta destas só merece uma resposta de criança: porque sim. Há coisas que nascem connosco e que têm que ser demonstradas, têm que brilhar. E quando isso acontece, essas coisas começam a gritar dentro de nós, pedindo para sair por aí, correndo e anunciando aos 7 ventos o que tem de ser anunciado, a fazer o que tem de ser feito. Suprimir não é uma opção. Há coisas contra as quais é inútil lutar. E assim que se lhes dá uma pontinha de corda, elas ganham balanço, ganham vida e tudo começa a fazer sentido, tudo se conjuga para que aconteçam. E é nas alturas em que os próximos passos - pequenos ou grandes - têm de ser dados que ele aparece. Ameaçador, terminal, terrível, redutor. O som é terrível mas a pergunta é clara: tens a certeza que queres fazer isso? tens a certeza que é esse o caminho correcto?. Porque é este peso da sua ilusória irreversibilidade que nos pesa no coração, na consciência. Daí o som terrível. O peso da consequência. O peso da responsabilidade. O peso de escolher e de não vermos volta a dar assim que decidirmos. Porque o Tempo passa, não é? Sim, nos relógios, nas nossas células, nos nosso gestos, na finitude irritante e peganhenta de tudo o que acontece. E uma coisa tão irritante tinha de ter um nome: Tempo. Tem - po. Tem - po. Tem - po. Início e fim. Início e fim. E no meio, não haverá nada? Claro que sim! Existe aquilo que conta e que se encadeia, quase imperceptivelmente com aquilo que o precedeu e que o precederá. Haverá precedente e procedente? Na nossa mente, a criadora e dedutora, há. Na realidade, duvido. Se a Matemática, rosto divino, criou a noção de infinitesimal, ponto único, contínuo infinitesimalmente com o Antes e Depois num espaço Complexo, porque não se haverá de chamar a esse ponto, Agora? É uma realidade. O ponto antes e depois são dedutíveis logicamente mas existirão? Eu só conheço e existo neste ponto em que estou, neste Agora. E ele (já se tinham esquecido d'ele?) é fruto da lógica. Ele é tão fino e ilusório, antes, a importância d'ele é tão fina e ilusória quanto a lógica que o criou é válida e objectiva. Daí que ele a consome. Ele existe. Mas não sou eu. É uma prova por vezes, é uma lição, noutras e quase sempre. De qualquer forma, é uma oportunidade. É um ponto. Só existe naquele momento concreto e existirá noutros pontos quando ou enquanto julgarmos que existe, quando ou enquanto a lógica e, por vezes, a máquina-cérebro continuar a insistir que é contínuo, comum a vários pontos interligados entre si ou não. Comum, só a escolha que faço. Esta, consciente (o mais possível). Livre.

1 de outubro de 2009

As minhas desculpas pela desfocagem da foto,
mas na altura foi o melhor que consegui ver na escuridão (quase) total...


Há muito tempo que já não ponho aqui uma música e acho que está na altura. Esta tem andado na minha cabeça, apesar de não ser nova para mim. Ainda hoje, quando menos queria ter alguma coisa na cabeça, começou a tocar naquela 'jukebox interna' e bem alto. Vendo a letra e ouvindo a musica perceberão porquê...



(Anne Ponsarde + Jules Cezar Scalinger)
Friend of the Stars,
What does so unmistakably control your heart?
It's more than a name and it's not just a game…
What do you know?...
What do you see that we do not, Friend of the Stars?…

(Catherine de Medici)
Friend of the Stars,
What does so undeniably absorb your life?
You travel alone within a world of your own…
What do you know?...
What do you see that I do not?...
Oh, Friend of the Stars!...

(Nostradamus)
Friend of the Stars…
I'm gonna wear that name with pride and dignity!...
What lies ahead is often best left unsaid…
Though the future is known,
our destiny still lies in the hands of God…
(Nostradamus!)
I'm just a Friend of the Stars!...

(Nostradamus and choir)
I've learned there's more to life than simply meets the eye…
(Friend of the Stars! What's your goal,
what's your motivation?
)
That only few can tell the hidden truth from blatant lies…
(Tell us, why does your soul need an explanation?)
Knowledge has a price!!

… Or from a blessing in disguise…
Friend of the Stars (3x)

(Critic)
Friend of the Stars,
What does so irreversibly possess your mind?
You're demanding respect but selling fiction as fact…
What do you know?...
What do you see that we do not?
Nostradamus! (3x)

(Nostradamus and choir)
I've learned there's more to life than simply meets the eye…
(Friend of the Stars! What's your goal,
what's your motivation?
)
That only few can tell the hidden truth from blatant lies…
(Tell us, why does your soul need an explanation?)
Knowledge has a price!!

… Or from a blessing in disguise…
Friend of the Stars (6x)


(Monk)
Friend of the Stars,
I wouldn't be so self-assured if I were you…
All will be clear to those who are here...
The past may have flown but the future is known…
… just in case you forget…
Hmmmm… Dear friend of the stars…