21 de fevereiro de 2009

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"A Beggining is a very delicate time..." 
(Princess Irulan, as interpreted by Virginia Madsen, from the motion picture "Dune", by David Lynch, based on the book by Frank Herbert)


Começo por puxar um pequeno fio… só um… no meio da noite escura, em que todas as sombras são correntes que nos amarram ao nosso interior, puxar o fio do espírito de modo a que possamos brilhar. Confesso que foi difícil fazê-lo, as vozes dissonantes, os fantasmas, os inúmeros medos que, no interior, se multiplicam a uma velocidade demasiado rápida para que os possa travar, as sombras que a Luz que me ilumina ao incidir nas arestas cortantes do meu interior projecta na minha Alma, o “ruido de fundo” que “de fundo” pouco tem, tudo isso dificultou imenso o trabalho que ontem me foi destinado…

Sento-me contigo… vais-me guiando, vais-me ajudando a puxar esse fio que tantas vezes me escapa e que me pode dar (mais alguma) paz de espírito que me tem faltado… o momento em que finalmente mergulho nesse mundo místico vem acompanhado de côr, de vibração, de forças muito, muito maiores que possamos imaginar… Procuro a força da Terra, da Mãe, a Essência do Físico, a que nos dá certezas e outras coisas que tanto precisava agora… Ligo-me á força do Divino, do Pai, a Essência do Espírito e sinto-o abençoar-me… A junção das duas completa o seu efeito, traz-me tranquilidade, silencia o “ruido de fundo” de modo que só as questões fundamentais restam…

Que é que Eu Sou?

O que é que eu quero nesta vida?

Às duas respondo: Não sei. Cúmulo da desorientação. Sou aquilo que no dia-a-dia tiver de ser. Faço o que no dia-a-dia tiver de fazer, de trabalhar… Viver no Agora tem destas coisas também, a dar nada como certo, “Take none for granted, expect everything”, a vaguear á deriva num mar de emoções que só uma força de vontade cedida sabe-se lá por Quem nos faz continuar a boiar… confia-se no físico, confia-se na mente… que não me falhem ambos, costumo pedir.
Ao abrir os olhos, a desorientação interna traduz-se na desorientação externa… pestanejo vezes sem conta, não por causa da luz (que não existe, é de noite) mas como forma de tentar ver mais claramente onde estou. Passado uns segundos, “assento”. Ainda bem que me abraças, minha Irmã, sempre fico a saber (se não onde estou) com quem estou, que não estou sozinho. É um abraço de eternidades, aquele que sabemos que se repetiu tantas e tantas vezes noutras vidas. Neste mundo paralelo as coisas fazem um pouco mais de sentido mas rapidamente temos a Vida a chamar-nos à Realidade.

Meninos, acabou-se o recreio!

Sim, já percebemos… que chato… posso ficar mais uns minutos?… Não?…

Continuo a dizer-te que os sinais eram para ti. Eu nao pedi nenhuns, só pedi paz de espírito mas ainda era muito cedo nessa noite para a ter. Se calhar ainda é muito cedo neste dia para a pedir e mais ainda para tê-la. De forma que esse magnífico canídeo ‘fauve’ de rabo felpudo que teve o santo desplante de ficar a olhar para nós como se fossemos os ultimos humanos na Terra teve muito mais impacto em ti do que em mim, garanto-te. No entanto, não deixou de ser giro… com tantas pessoas a chamarem-me de Principezinho, e com coisas como estas, um dia corro o risco de acreditar… mas o Principezinho nao teve medo que a Raposa tivesse raiva (sabia lá ele o que era raiva…). Em vez disso, usou a sua Inocência e Alto Estatuto Nobiliárquico (que sempre transmitem alguma tranquilidade) e trocou os dois dedos de conversa mais fabulosos que alguma vez li na minha (ainda curta) Vida. Eu só fiquei quietinho a ver se ela me/nos falava…

(silêncio… corujas ou mochos só uns momentos antes…)

Bem me parecia… a convencida só deve falar para o Jet-set Interestrelar…

Hora de exorcisar fantasmas! A noite já vai longa mas uma das coisas que mais ansiava chegou no caminho de volta, por entre sombras de coração e memórias há muito cobertas de pó. Houve que soprar essa poalha irritante que faz alergia à Alma e expor isso à Luz. Mais uma vez, aqui se confirma o princípio que uma pessoa só, por muito forte que seja, não consegue fazer certas coisas. Um fosforo não basta, tem que haver uma tocha. Queimaram-se dores, lagrimas e véus de fantasmas num delicioso Auto de Fé que a Inquisição da Luz tratou de arranjar… A fogueira que isso trouxe foi o suficiente para espantar os espíritos trauliteiros mais incautos que por estas bandas passeavam, ou andavam em férias, estilo Club Med. Be GONE!

Ficas sabendo que ontem chorei por ti mas, minha querida, não foram as mesmas lagrimas que chorei de outras vezes, não foram dores, remorsos, culpas e ciumes que chorei mas sim alegria, doçura e carinho pelos tempos que passámos juntos… foi bom e terás sempre um lugar aqui dentro de mim, fazendo parte da minha vida como fazes (por dela teres partilhado), mas nada mais.

Não sei que sonhei de ontem para hoje. Sei que a página virou e está em branco. A caneta está na minha mão e, agora, quem vai escrever a História (“La Storia”) SOU EU.

10 de fevereiro de 2009

Gent 1


Ontem deu-me uma onda de saudosismo. De repente estava a falar novamente de Gent, dei por mim com um mapa da cidade na mão, a ver de novo todos aqueles nomes que, há um ano atrás nada me diziam e depois, faziam todo o sentido… Rosemarijn Plein, Kouter, Veldstraat, Gentbrugge, Zwijnaarde, Sint-Pieters Station, Koren Markt, Vrijdagmarkt, Peter Benoitlaan, De Pintelaan, Schooldrijf, Sint-Denijslaan, Sint-Jacobsnieuwstraat, Brabantdam, Hoevelport… Parques, jardins, ruas, pessoas, conversas, cursos de água, edificios, ‘lifestyle’, tudo me acorria á cabeça e ao coração… a emoção foi muita… tal como disse quando voltei de lá, aquilo é parte de mim, do que eu sou. Foi a minha primeira liberdade pessoal, a Experiência Única… é quase como que um primeiro Amor…

As saudades fazem bem, fazem-nos perceber as coisas que muitas vezes não tínamos consciência que nos importavam realmente, que somos nós, ver a Luz daquilo que realmente importa, o Bem que há nas coisas à nossa volta. O Tempo é o grande filtro, separando o trigo da Alegria, da Felicidade,  do joio das más experiências, dos maus encontros, das tristezas… dizem que a Belgica é um país do mar do Norte, do nevoeiro, da chuva. Para mim, é o pais das tardes suaves, dos ‘pôr-de-sol’ serenos e doces, das corridas á chuva ou ao sol, das viagens de comboio e de electrico… para mim, é o tomar das rédeas do meu destino, é o assumir-me como ser único, independente… para mim foi crescer, nunca deixando de ser criança…


Img038 Vista de Belfry (a Torre de Vigia da cidade);
em frente, a Sint-Niklaas Kerk (igreja de S. Nicolau)

Sint Michiels Kerk Sint-Michiels Kerk (Igreja de São Miguel) - cuja torre ficou inacabada

Img042Vrijdagmarkt – Estátua de Jacob van Artevelde
(capitão-general de Gent durante a guerra dos Cem Anos)

Gravensteen_(Gent)_MM_2Gravensteen – o castelo dos condes de Gent