1 de junho de 2008

Há regressos e regressos. Creio que, no imaginário de cada um, a palavra "regresso" possa evocar sentimentos bem positivos e algo nostálgicos. Não sei como é com o resto das pessoas, mas, para mim, "regresso" e "casa" são quase gémeos siameses. Não consigo, espontaneamente, associar regresso a coisas desagradáveis.
Não foi esse o caso deste meu último regresso. Este enquadrou-se perfeitamente no meu conceito: doce, sereno e esperado... rever esta terra bendita e amaldiçoada, sentir o ar (um pouco menos o sol, mas isso não importa), a energia que rodeia... Mas fui apanhado desprevenido. Passo a explicar: a adaptação a um país estranho (estando nós nesse país totalmente sós) é um processo complexo (não é fácil ser romano em Roma). Se não conhecermos a língua, habituarmo-nos à mesma é um trabalho árduo - se depois a queremos assimilar, mais trabalho ainda há a fazer. Depois, os ritmos. Cada país, cada cidade tem o seu pulsar muito próprio; sermos apanhados no remoinho do seu dia-a-dia pode ser complicado mas nada que não se preveja. Por último (e este não se faz em meses mas em anos) a mentalidade. Com este é preciso ter cuidado, não sejamos "contaminados" pela mesma. Uma coisa é compreender, outra é adoptar (a não ser os bons hábitos). Findo tudo isto, sentindo-nos medianamente integrados, a ideia que nos sobrevem é que apesar de tudo mantemos a nossa identidade como cidadão de outro país.

Tudo muito bem.

Experimentem, no entanto, regressar (depois de todo esse trabalho feito) ao vosso país de origem. Pois é, não é linear. Nós já NÃO somos aquilo que éramos. Não somos (no nosso caso) "só" Portugueses. Somos Portugueses e mais qualquer coisa... Qualquer experiência (pessoal) modifica a pessoa. Podemos não gostar, manter a nossa isenção ao máximo mas a questão é que estamos (subliminarmente) a ser modificados, sem nos darmos conta. Sem nos darmos conta, da mesma forma que dizíamos "no meu país, não é assim..." ou "nós fazemos de outra maneira...", passamos a dizer a mesma coisa quando regressamos "lá eles faziam assim...". Isto não implica, ressalve-se, que concordemos com uma maneira ou com outra. No fundo, creio que é uma forma de mostrar que passamos por aquela experiência, que aprendemos qualquer coisa com ela e que (espera-se) usemos do melhor. No meu caso, não nego que, na mudança subliminar, tenha aprendido a gostar do local onde estive; não sei o que é que gosto nele nem porque é que gosto dele - só sei que gosto (será um caso de síndrome de Estocolmo?). Citando Pessoa "Primeiro estranha-se, depois entranha-se...".
... E agora, à luz de tudo isto, pergunto(-me), regressei, ou parti?

2 comentários:

Jay Dee disse...

Não me parece nada negativo teres mudado (ou pseudo-mudado), no fundo, teres aprendido com essa experiência*

Nocas disse...

Volto a repetir aquilo que te disse ontem: estás mais rico!
Partiste, regressaste, enfim... viveste!
bjs