29 de julho de 2010


[Water is] the only drink for a wise man.
Henry David Thoreau (1817 - 1862)

Don't think there are no crocodiles because the water is calm.
Malayan Proverb

The grass is not, in fact, always greener on the other side of the fence.
Fences have nothing to do with it. The grass is greenest where it is watered. When crossing over fences, carry water with you and tend the grass wherever you may be.

Robert Fulghum (1937 - ), "It Was on Fire When I Lay Down on It"

The best [man] is like water.
Water is good; it benefits all things and does not compete with them.
It dwells in [lowly] places that all disdain.
This is why it is so near to Tao.

Lao-tzu (604 BC - 531 BC), "The Way of Lao-tzu"


 Quando se mergulha de cabeça, de alto, num espelho de água, não pensa em mais nada. Não se consegue, não se pode. Só existimos nós, a sensação de vertigem e a água, nada mais. Os sentidos tentam captar tudo o que se passa, instante a instante... mas é absolutamente impossível. À borda da plataforma de onde se salta - muro, prancha, rochedo, telhado, promontório - a decisão só pode ser redutível a um ponto sem retorno único, irreprodutível, que se deseja copiar, reviver - sem sucesso. É o Ser Humano e a sua vontade no momento mais cristalizado - é o teste da Hipótese e a (possível) constatação da Certeza que em nós existe. É o fitar de olhos nos olhos a Vontade, o Querer e atingi-la num instante, fundi-la connosco e tornar essa simbiose em Movimento instantâneo. Salto. Queda. O som que se desloca à nossa volta, o mergulho no ruído ambiente, as luzes que se deslocam, acelerando sem fim que se adivinhe, o toque do ar que se desloca à nossa volta...

 Silêncio.

 Um som de fundo, líquido e profundo, ressonante em todo o ser, envolve-nos. Toca-nos. Dissolve-nos. Somos líquido, frescura, fluidez. Outro Ser. Passada a prova de Fé, a Fusão do Ser com o Querer, a Transmutação do Potencial em Acção, a escamação do Ser Sólido, eis-nos Outro, mesmo Espírito, outra Matéria - sem princípio nem fim, fronteira tangível. O Tempo pára, só o Ser existe. E flui, e nada, e migra de um ponto para outro, em todos os sentidos. Tudo é possível nesse estado, nesse mundo em que se é sonho, realidade e transcendência de nós mesmos, no simples facto de estar imerso em água, só Nós e a Água. Sem fim.
E aí o Desejo. A Repetição, a Obrigação, a Chamada. Não é 'aquele' o nosso Mundo Natural. A Terra - forte, concreta, 'real' - chama. A ela temos de voltar e, com isso, ao nosso estado Sólido, Material. Emerge-se. Outra pessoa de facto, com a semente plantada de algo provado que saciou e que se deseja que volte a saciar novamente. A memória de um estado possível e alcançável, apenas a uma alquimia de distância. O retorno a algo que se é e nunca se deixa, nem deixou, de Ser.