21 de fevereiro de 2009

DSC_0327-1 
"A Beggining is a very delicate time..." 
(Princess Irulan, as interpreted by Virginia Madsen, from the motion picture "Dune", by David Lynch, based on the book by Frank Herbert)


Começo por puxar um pequeno fio… só um… no meio da noite escura, em que todas as sombras são correntes que nos amarram ao nosso interior, puxar o fio do espírito de modo a que possamos brilhar. Confesso que foi difícil fazê-lo, as vozes dissonantes, os fantasmas, os inúmeros medos que, no interior, se multiplicam a uma velocidade demasiado rápida para que os possa travar, as sombras que a Luz que me ilumina ao incidir nas arestas cortantes do meu interior projecta na minha Alma, o “ruido de fundo” que “de fundo” pouco tem, tudo isso dificultou imenso o trabalho que ontem me foi destinado…

Sento-me contigo… vais-me guiando, vais-me ajudando a puxar esse fio que tantas vezes me escapa e que me pode dar (mais alguma) paz de espírito que me tem faltado… o momento em que finalmente mergulho nesse mundo místico vem acompanhado de côr, de vibração, de forças muito, muito maiores que possamos imaginar… Procuro a força da Terra, da Mãe, a Essência do Físico, a que nos dá certezas e outras coisas que tanto precisava agora… Ligo-me á força do Divino, do Pai, a Essência do Espírito e sinto-o abençoar-me… A junção das duas completa o seu efeito, traz-me tranquilidade, silencia o “ruido de fundo” de modo que só as questões fundamentais restam…

Que é que Eu Sou?

O que é que eu quero nesta vida?

Às duas respondo: Não sei. Cúmulo da desorientação. Sou aquilo que no dia-a-dia tiver de ser. Faço o que no dia-a-dia tiver de fazer, de trabalhar… Viver no Agora tem destas coisas também, a dar nada como certo, “Take none for granted, expect everything”, a vaguear á deriva num mar de emoções que só uma força de vontade cedida sabe-se lá por Quem nos faz continuar a boiar… confia-se no físico, confia-se na mente… que não me falhem ambos, costumo pedir.
Ao abrir os olhos, a desorientação interna traduz-se na desorientação externa… pestanejo vezes sem conta, não por causa da luz (que não existe, é de noite) mas como forma de tentar ver mais claramente onde estou. Passado uns segundos, “assento”. Ainda bem que me abraças, minha Irmã, sempre fico a saber (se não onde estou) com quem estou, que não estou sozinho. É um abraço de eternidades, aquele que sabemos que se repetiu tantas e tantas vezes noutras vidas. Neste mundo paralelo as coisas fazem um pouco mais de sentido mas rapidamente temos a Vida a chamar-nos à Realidade.

Meninos, acabou-se o recreio!

Sim, já percebemos… que chato… posso ficar mais uns minutos?… Não?…

Continuo a dizer-te que os sinais eram para ti. Eu nao pedi nenhuns, só pedi paz de espírito mas ainda era muito cedo nessa noite para a ter. Se calhar ainda é muito cedo neste dia para a pedir e mais ainda para tê-la. De forma que esse magnífico canídeo ‘fauve’ de rabo felpudo que teve o santo desplante de ficar a olhar para nós como se fossemos os ultimos humanos na Terra teve muito mais impacto em ti do que em mim, garanto-te. No entanto, não deixou de ser giro… com tantas pessoas a chamarem-me de Principezinho, e com coisas como estas, um dia corro o risco de acreditar… mas o Principezinho nao teve medo que a Raposa tivesse raiva (sabia lá ele o que era raiva…). Em vez disso, usou a sua Inocência e Alto Estatuto Nobiliárquico (que sempre transmitem alguma tranquilidade) e trocou os dois dedos de conversa mais fabulosos que alguma vez li na minha (ainda curta) Vida. Eu só fiquei quietinho a ver se ela me/nos falava…

(silêncio… corujas ou mochos só uns momentos antes…)

Bem me parecia… a convencida só deve falar para o Jet-set Interestrelar…

Hora de exorcisar fantasmas! A noite já vai longa mas uma das coisas que mais ansiava chegou no caminho de volta, por entre sombras de coração e memórias há muito cobertas de pó. Houve que soprar essa poalha irritante que faz alergia à Alma e expor isso à Luz. Mais uma vez, aqui se confirma o princípio que uma pessoa só, por muito forte que seja, não consegue fazer certas coisas. Um fosforo não basta, tem que haver uma tocha. Queimaram-se dores, lagrimas e véus de fantasmas num delicioso Auto de Fé que a Inquisição da Luz tratou de arranjar… A fogueira que isso trouxe foi o suficiente para espantar os espíritos trauliteiros mais incautos que por estas bandas passeavam, ou andavam em férias, estilo Club Med. Be GONE!

Ficas sabendo que ontem chorei por ti mas, minha querida, não foram as mesmas lagrimas que chorei de outras vezes, não foram dores, remorsos, culpas e ciumes que chorei mas sim alegria, doçura e carinho pelos tempos que passámos juntos… foi bom e terás sempre um lugar aqui dentro de mim, fazendo parte da minha vida como fazes (por dela teres partilhado), mas nada mais.

Não sei que sonhei de ontem para hoje. Sei que a página virou e está em branco. A caneta está na minha mão e, agora, quem vai escrever a História (“La Storia”) SOU EU.

9 comentários:

Lita disse...

Uffff! Ok, voltei a respirar! :)

Que texto maravilhoso, tão arrancado de dentro de ti. Esta é a tua narrativa, o teu milagre. Os sinais... penso que seriam para quem os pediu e para quem os viu. Não acredito em não coincidências.... Mas não é importante.

O importante é a página em branco e o percurso que a levou lá. Que bom tê-la partilhado.
A caneta é mesmo, mesmo tua! E as palavras, as folhas, cada virgula... Parabéns por lhe teres pegado!

PS. Adorei o texto que lhe escreves. O perdão liberta-nos mesmo. A nós e aos outros. Bem hajas!

Becas disse...

Como sempre um texto profundo que me deixa colada ao ecrã!

O facto de termos uma página branca e uma caneta na mão é bom sinal. Quando temos estas duas coisas podemos traçar um novo caminho, podemos traçar um plano, podemos desenhar um novo mundo e uma nova esperança!
Se tens a página em branco e a caneta na mão só tenho uma pequena mensagem para ti: Vai, voa alto e sê feliz! A vida está aí e precisa que a vivas com toda a tua energia!

Beijitos :)

Fenix disse...

"Mais uma vez, aqui se confirma o princípio que uma pessoa só, por muito forte que seja, não consegue fazer certas coisas. Um fosforo não basta, tem que haver uma tocha."
Não somos ilhas..., precisamos de nos sentir apoiados, amados e abraçados, pelo menos de vez em quando. Únicos mas integrados, fazendo parte de um todo a que pertencemos e nos pertence.
E mesmo as ilhas estão apoiadas em algo, mesmo que esse algo esteja submerso e escondido à vista dos incautos viajantes.

Beijinhos
Bom fim de semana

Kayla disse...

O que é bom,é que temos quem nos guie!:)
O que é bom é tomar-mos coinsciência que de quem somos...
Sem palavras que levassem a tal,tive a mesma aprendizagem em dia...e o mestre,o mesmo...
O que é bom, é fazer as pazes connosco e com os outros.


Fica bem.

OnlyMe disse...

Ainda bem que tens a noção que podes e deves ser tu a escrever a história da tua vida!
Gostei de te ler e de ter ver novamente por aqui! :D

Jinhos :)

Ianita disse...

Páginas em branco há todos os dias, a cada minuto, mas raramente reparamos nelas... deixamo-las passar com um outro rabisco, mas nada de interessante, nada que tire o fôlego e que faça repetir as páginas e que faça vir mais mais mais e mais páginas...

Um novo capítulo? É bom quando conseguimos encerrar um capítulo e seguir... seguir em frente e ter a coragem de pegar na caneta... o medo é comum e normal, é na superação do medo que se vê quem realmente vive. Confirmam-se as minhas expectativas de ti... espero que confirmes as tuas próprias expectativas e escrevas um fabuloso capítulo!!

Beijos!!

izzie disse...

Sabes?... quatro dias, palavras, lágrimas, sorrisos, suspiros arrancados de dentro do peito, memórias...
Tudo... e continuo a sentir o mesmo que quando me leste estas palavras: certeza e alegria.

"Fico feliz por ti. Invejo a tua página em branco." - Lembras-te?

É verdade. Agora... [may I dare?] vamos aproveitar o novo capítulo, com os medos que nos aproximam e as provas que o tempo nos der para ultrapassar.

All my Love,

Francis disse...

se não fores tu não é mais ninguém...

bem contadinha sff.

Mag disse...

Realmente, o que nos sai directo da alma, a verdade sem subterfúgios, sem censuras, é sempre o que de mais belo se pode criar. Porque somos nós, ali, nús.
Espero que escrevas muito nas tuas páginas brancas.
Que se encham de pequenos rabiscos negros com caudas de luz.
Felicidades!