21 de setembro de 2008

Ele avançou pelo pavilhão adentro. Trazia o seu instrumento na mão e algum receio. "Está na hora", pensou e assim, levantou a cabeça. O que traria aquela noite? Uma coisa era certa: memórias, e isso já estava a trazer.
Sabia que mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. Era inevitável, tal como ele sabia pela experiência anterior, que os dois grupos teriam que se encontrar para "medir forças". Não era fácil para ele estar agora no "outro" grupo, um grupo que ele próprio não via com bons olhos aquando da sua primeira passagem por aquelas paragens.

Metam isto na cabeça: nunca nos livramos completamente das situações que nos foram importantes. Mais cedo ou mais tarde acabamos por ir parar ao "local do crime". Mas as boas notícias são que as coisas nunca são iguais duas vezes. Ou antes, cabe a nós que as coisas não sejam iguais duas vezes. Vocês gostam de comer duas vezes seguidas (em duas refeições) a mesma coisa? Isso pode sempre acontecer mas está tudo nas nossas mãos, se gostámos da ultima refeição e queremos repetir, ou se queremos mudar. Deixando as dicas gastronómicas, são às lições do passado que devemos ir buscar as raízes das nossas escolhas, se é que queremos que tudo corra da melhor maneira possível, se queremos que alguma coisa mude, se queremos que as coisas sejam ainda melhor.

"-Tenho uma coisa para te dizer...
- Força!
- Lembras-te do quanto eu vos fazia a vida negra?
- Se lembro. Aquilo era terrível...
- Pois era. Na altura eu era um grande sacana, bastante diferente, acho daquilo que sou agora. E é por isso mesmo que te quero pedir desculpa por todas as coisas que eu te fiz e aos outros."

N. não respondeu. Continuou a falar das coisas estúpidas que lhes chegou a fazer mas ele reconheceu nos olhos de N. que este ficara surpreendido com o pedido de desculpas. Estava na altura de acertar contas e ele sabia-o. Assim o fez e isso trouxe-lhe um pouco mais de tranquilidade no meio de todo aquele remoinho de emoções. Foi com muita comoção que reencontrou velhos companheiros de caminhada, que suaram ao Sol com ele e apanharam chuva, que partilharam glórias e derrotas, com os quais se riu e chorou, com os quais partiu à descoberta de novos mundo, e, mais importante que tudo isso, com os quais cresceu. Reencontrar tais anjos no caminho é um prazer ao qual raramente se dava. No final, a ansiedade que antecipou o acontecimento deu lugar a uma tranquilidade e alegria que fez com que não quisesse sair dali. Afinal, há passados que vale toda a pena relembrar...

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