23 de fevereiro de 2008

Muitos poderão perguntar-se porque é que eu ponho tantas letras de músicas num blog que, supostamente, é dedicado ao pensamento sobre as coisas simples (ou não!) como sentimentos que nos podem assolar, de tempos a tempos, em fases da vida, ou que são permanentes... Isto tem dois motivos: o primeiro é por ser absolutamente melómano. Quando ponho qualquer coisa, tenho a irritante mania de imaginar que, a par com a letra, estou a colocar (subliminarmente) a música... é uma pena que nem na vida real eu consiga colocar, transmitir as emoções que sinto ao ouvir uma música com a qual me identifico... seria a perfeita forma de comunicação! Transmitir emoções, inequívocas, entre dois humanos seria maravilhoso.
O segundo motivo, é que as letras, sendo poesia, são o que de melhor consigo encontrar para exprimir o que sinto... Lamento os pobres compositores que aqui cito, por nunca terem imaginado que as suas obras são citadas por motivos tão banais... É poesia de fácil acesso, poesia de "esticar o braço" e já está... não tenho paciência para pegar num livro de conceituada poesia (a não ser nos que já peguei, nos tempos de antanho) e sentir-me identificado com o que se escreve... Normalmente, quando isso eventualmente acontece, há dois tipos de poemas com que me deparo: aqueles que são tão banais e repetitivos que até chateiam, e aqueles que só nas aulas de Português (ou outra língua) podem ser decifrados, de tão críptica é a sua linguagem... Nisso, as letras de músicas têm mais um argumento a favor - o seu factor críptico é facilmente decifrável pelas emoções que a música transmite. No entanto...

No entanto, percebi que as coisas podem não ser assim... Tenho encontrado ultimamente letras que não correspondem ao que a música está a transmitir. Oiço a música antes de perceber o que está a ser cantado e tenho uma impressão que a música será sobre um tema. Procuro então a letra e espanto-me que o que é cantado é quase o oposto do que eu senti pela música. Um exemplo disso é a musica que já aqui postei "The Weed of all Mankind" dos Kaipa. Mas tenho encontrado mais.

A Vida é mudança. A Vida está em mudança. Lembro-me dos tempos em que sentia uma profunda vontade de escrever, ainda não sabendo do quê, e em que as palavras fluíam assim que eu me sentava em frente à folha de papel. Era também o tempo em que conseguía memorizar todas as letras que me apareciam à frente e rara era aquela que não me dissesse algo, ou que não conseguísse aplicar num contexto, ou que não traduzisse ou levantasse uma emoção forte. Com o tempo, tornou-se difícil memorizar mais letras mas, mais ainda, encontrar alguma que me dissesse algo. Comecei, então a interessar-me por álbuns que contassem uma história (os concept albums), já que ao longo de uma história as pessoas passam por muitas emoções e, muitas vezes, as histórias que são contadas são fragmentos das experiências pessoais de quem as escreve... Também isso passou. Compreendo (ou acho que compreendo) que a Vida me diz: está na hora de seres tu a escreveres aquela poesia que, mais que nunca, te tocará - a tua. É aquela a que tu poderás voltar, sempre que quiseres e com a qual te vais identificar sempre... E apesar de já ter escrito qualquer coisa noutros tempos, acho que "esta" há de ser um bocado diferente...

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