21 de abril de 2009

Castelo de Palmela, Abril 2009

“If a man is offered a fact which goes against his instincts, he will scrutinize it closely, and unless the evidence is overwhelming, he will refuse to believe it. If, on the other hand, he is offered something which affords a reason for acting in accordance to his instincts, he will accept it even on the slightest evidence. The origin of myths is explained in this way.” Bertrand Russell

Há já muito tempo que não faço um comentário a um dos meus “amigos” filósofos que recorrentemente aparece por estas bandas (bem, há muito que não faço um post, ponto!), após me ter aparecido esta citação, decidi voltar aos “grandes” palcos “bloguentos”.

Esta constatação de Russell sobre a natureza humana das nossas constatações ou crenças é a descrição cabal da nossa natureza ou grande tendência 3D. No geral, como Humanos que somos, gostamos muito de provas palpáveis sobre tudo. Todos temos um grande gene de S. Tomé que vem ao de cima para que tenhamos as maiores certezas sobre tudo. Isto é pensar “dentro da caixa”. A dependência material, tridimensional das nossas crenças, é quase um facto implicito á nossa existencia: repare-se que a primeira coisa que pensamos quando se nos apresenta qualquer coisa é “deixa cá ver no que é isto vai dar”. Resultados. Causa-efeito. Provas. Entra porco sai chouriço. Não importa a maneira como isto vai acontecer, o que importa é que aconteça. Se possível, já. E se acontecer, acreditamos piamente porque resultou! Bem, e então, caro amigo Russell, que dizer sobre a Fé? Que perspectiva tem sobre a Fé? Que lugar tem ela na nossa existência, no nosso quotidiano, no nosso dia-a-dia? É simplesmente o acto de esperar até que alguma prova venha, ou é simplesmente o simples acto de acreditar sem prova alguma?… É que a constatação de Russell nao tem em conta este dado que está bem presente nas nossas vidas. A Fé em algo. A Fé em Deus. A Fé nos outros. A Fé em nós mesmos.

A Fé é um estado necessário à nossa existência (assim o proclamo do alto da minha "imensa" sabedoria). Nós dependemos muitas vezes da Fé, muito mais do que o que pensamos. Falando brevemente por experiência própria, tendo perdido (não sei se temporariamente) a Fé em certas coisas, sinto agora a falta dessa base de sustentação inabalável que me apoiava todos os dias, que me fornecia a segurança e o bem-estar interno que necessitava para poder prosseguir o meu caminho. Perdê-la foi, em primeira instância, um choque terrivel, e noutras instâncias, o desabar de toda a existência pessoal, tal como a concebia. Começou por uma constatação muito simples, do tipo “E se as coisas não forem assim?”, passando à constatação de “mas eu nao tenho que acreditar em algo que não faz sentido dado o quadro actual das coisas”, levando à perda da Fé no que antigamente acreditava inquestionavelmente. Em suma, não tenho pedras basilares (ou as mesmas pedras basilares). Passei a crer apenas nas perguntas que eu fazia e que me fornecem um dos sustentáculos para continuar a caminhar por este mundo. Não perdi, no entanto, a Fé de todo. Sei disso. Há coisas que continuo a acreditar como Verdades que ardem dentro de mim e que, apesar de ter questionado a sua existência e razão, sinto-as como parte do meu Ser, irrevogáveis e brilhantes. No fundo, é isso que é a Fé: é sentir algo em nós, vivo, e aceitar essa existência como a única prova que necessitamos, fazendo todo o sentido, questionando ou não. Podemos dizer, como eu disse, que perdemos a Fé, seja em absoluto, seja relativamente a algo, mas na verdade não é isso que acontece: há apenas a Questão, há apenas a Dúvida Sistemática, que constantemente podemos sentir que nos assola, mas que é útil, propositada e restruturante – através dela demolimos paredes que impediam o nosso avanço pessoal, limpamos o que já não faz sentido, o que é velho e bolorento, arejando o Ser, abrindo espaço a que pedras de toque surjam para que continuemos a evoluir, a caminhar para um amanhã melhor, mais concreto, propositado e com mais Luz nas nossas Vidas. A Fé, essa, continua sempre lá, mesmo que, por momentos, a sintamos fugidia, ausente ou até mesmo contrária. Tem muitas caras mas o seu objectivo é só um: sentir com muito Amor, e dar-nos a sentir (sem sabermos muito bem porquê ou para quê), aquilo que Somos. Sem dúvidas.

4 comentários:

Lita disse...

Acho que como tudo o resto, a Fé é, também ela, uma caminhada. Umas vezes rápida, outras lenta, outras a precisar de pausa ou a virar para outros trilhos. São as nossas Noites Escuras que nos mostram o tamanho e a força da nossa Fé.
E cada uma delas é diferente e construtiva...
Abraço com vista p'ro mar! ... ;)

Mag disse...

Desviamo-nos tantas vezes da Fé! E é tão fácil fazê-lo, agarrados que estamos ao Mundo palpável, que não nos oferece aquilo que achamos que necessitamos!
Mesmo as questões que nos abalam servem apenas para nos abrir a consciência... Mesmo os medos servem para nos mostrar o que realmente importa... para nos incentivar e colocar em perspectiva...

Um crescimento, um (re)equilíbrio contante, em que só se avança sentindo e sabendo, no coração, que é o Amor que faz as escolhas certas por nós!

izzie disse...

[Belo dia que escolheste para voltar às "lides"... deves ter tido uma inspiraçãozita... ;)]

De tudo o que leio, por entre acenos e sorrisos, apenas me fica "marcada" uma ideia: que de todas as dúvidas (bem-vindas, sempre!) resulte essa "certeza" com que fechas este pensamento: "Sem dúvidas." - embora nunca um "estado" permanente, significa pelo menos vontade, caminho, acordar dessas "Noites Escuras".

Beijo grande,

Jay Dee disse...

Benvindo!