Não, hoje não tenho nenhum apontamento mais profundo para partilhar convosco... vou simplesmente falar da foto que faz parte do novo visual cá do estaminé... esta foto foi tirada no inicio do Verão, na Peninha, em plena serra de Sintra, e fala por si... para mim, não é só uma foto bonita (pelo menos, para mim, é!)... há muito simbolismo, a começar pelo local, nos elementos que a compõem... seja, ou não, só uma foto achei que merecia um lugar neste cantinho onde partilho um pouco do meu mundo...
28 de novembro de 2007
17 de novembro de 2007
" - Posso bem dizer isto sozinho. O amor humano é um acto de solidão. Falarei sozinho. Vi-te a primeira vez no corpo de outra mulher, o nosso amor é uma série de acasos, encontros e desencontros, aparece nos olhos desta, nas palavras de outra, nas carícias e ternura de uma outra... Vive, cresce, enriquece-se de semelhantes contrastes, sedimentos, memórias, repulsas, ódios, amarguras, desesperanças, todas elas casuais, inesperadas... É como um feto: rola no calor vazio do mar uterino até tomar forma, definir-se entre homem e mulher, leva tempo, uma vida interior a nascer - as mães é que sabem. Até nascer, inteiro e perfeito, definido. E quando isso acontece, quando já sabemos tudo dele, está pronto para morrer. Amei-te no corpo doutra, talvez fosse já o teu corpo a saudade doutro ou um outro corpo onde juntei tudo, tudo, dos corpos que conheci. Amei-te muito, ah! sim, amei-te muito e sei-o porque te amo ainda. No meio da desesperança e do medo, qualquer coisa há e sobe acima das nossas cabeças, dá sinal de nós lá mesmo onde não ousámos chegar, donde desistimos, ao cimo no mais alto, onde as nossas mãos não tocam e o barulho dos nossos gritos mal pode ouvir-se... Aí, lá no alto,está o nosso amor - pobre, ferido, sujo, humílimo embora, e tão cheio de medo, tão apavorado, tão frágil. Como um papagaio de criança, que golpe de vento derruba no chão, ou a falta de vento lhe corta o voo, ou a um gesto irreflectido do menino que segura a guita se estatela, partido, sobre as árvores, os muros, além. Amo, logo existo. Essa é a grande verdade. Mas tão frágil este amor, tão mesquinho, tão dependente das coisas. Tão torturado. Como o amor de mãe, tal e qual como o amor de mãe: parece forte e eterno e um dia, um dia como ainda não houvera outro assim, vamos beijar a nossa mãe à cama, como todas as manhãs desde crianças, dar-lhe os bons-dias, e ela já lá não está. Dizemos «bom dia, mãezinha» e não nos responde, olhamo-la calada e quieta e não percebemos, nos seus olhos abertos há uma tristeza tão grande, tão vazia e tão calada, uma tristeza como nunca víramos outra assim, uma tristeza que já não é para nós, que não tem nada a ver connosco, sem irritação, sem mágoa, sem zanga, sem dúvidas, mas parada e vazia, ausente, alheia, calma. Uma tristeza imperturbável e altiva. Olhamos a nossa mãe e pela primeira vez temos medo. É já uma outra pessoa, hostil e calada, uma coisa imunda que se afaste e repele, nos dá vontade de fugir. E a pergunta que eu agora lhes faço, a vocês que uma bela manhã, quando tudo parecia certo e igual, quando tudo estava como na véspera, viram a vossa mãe morta, posta ajeitada num caixão e tudo de repente ficou diferente e desumano, e vocês sozinhos num mundo hostil e parado, o que eu pergunto é isto: lembram-se, lembras-te, da tua mãe? dos risos, do cheiro das suas roupas, das palavras murmuradas, da carícia suave dos seus beijos? Lembras-te? E das vezes que a viste chorar,e chorar por tua causa, por ti? Nesse dia o mundo mudou e era tudo tão forte e coerente e organizado até então; pois lembras-te, é o que te pergunto, como era o mundo antes? Conheço um rapaz que já nem se lembra como era o rosto da mãe, outros nem sabem o que isso foi, tristes que nunca a viram. O meu pai ensinou-me pouco, mas dizia: «perdi pai e perdi mãe, posso perder tudo o mais». E, no entanto, quando me perdeu a mim que lhe saí ao torto, essa é uma história comprida, chorou... Assim é o amor dos homens, tão incerto e desprevenido, tão mutável e enganador. [...]"
in Exercícios de Estilo, Luiz Pacheco,1971
in Exercícios de Estilo, Luiz Pacheco,1971
6 de novembro de 2007
Como é que se pode ir à luta de qualquer coisa quando, à partida, se sai numa posição defensiva? Como nos entregarmos a outra pessoa quando se pensa acima de tudo em nos protegermos a nós mesmos? Hoje foi isso que me apercebi num colega meu... O rapaz está (e muito bem) a ficar "apanhado" por uma pessoa que eu conheço... ambos são optimas pessoas, ambos têm um passado algo doloroso (quem não tem?) e ambos têm medo de se magoar... naturalíssimo... No entanto, querem proteger-se... investirem e protegerem-se... ir e ficar... estão a ver a lógica da coisa? Pois... eu também não! Quando, de uma vez por todas, é que as pessoas deixam de viver no Medo e passam a viver na Luz? Cheguei a dizer-lhe isto: já estou como a música dos Xutos - "se gosto de ti, se gostas de mim, se isso nao chega tens o mundo ao contrário..." Esses tipos é que têm razão! Só encontro pessoas assim á minha volta! Como querem que um possível relação dê certo se se baseia no medo e nao no Amor que, supostamente, deveriam partilhar (e partilhar implica dar um bocadinho... isto em termos práticos...)? E das relações parto para o resto... como queremos que a Vida evolua se temos medo das sombras, da escuridão, do nevoeiro pelo qual por vezes temos que passar para que isso aconteça? Há fantasmas na Vida? Há. Temos que os enfrentar? Temos!... porque é por isso que eles existem, para os enfrentarmos, com todo o coração e com muito Amor, para que, de cada luta, sejamos mais nós, mais Humanos, mais Divinos...
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