13 de setembro de 2007

Estava agora a ver o "Silencio dos Inocentes" pela enésima vez mas esta foi a primeira desde que vi o "Hannibal", o "Red Dragon", a sequela e a prequela, respectivamente, e a pre-prequela "Hannibal Rising"... Dei por mim, então, a reparar na maneira como estava a ver o filme... Não foi tanto por ter visto os filmes da trilogia mas mais por ter visto o Rising... Aquele filme muda absolutamente tudo... do objecto de misterio que é Hannibal Lecter, depois do filme passamos a ver Hannibal Lecter o justificado... não o inocente, obvio... Nada pelo que ele tenha passado quando criança justifica as suas atitudes homicidas, se bem que, no fundo, ele nao deseja nada menos do que nós desejamos muitas vezes: respeito e uma boa lição para que é... mal-educado... O problema é que ele não se contem... é uma mente brilhante mas traumatizada e retorcida... Hannibal Lecter é a nossa hiperbole mais rebuscada, é o nosso melhor e o nosso pior... Lembro-me de encarar a Clarice como a "heroina" e agora acho-a uma autentica simploria, com alguma artimanha apesar de tudo... Estou a ver a cena que justifica o título do filme, a parte em que ela confessa a razao da sua fuga da quinta e, percebe-se logo, razao ultima da sua entrada para o FBI..."Clarice!!... Avise-me quando esses cordeiros ficarem em silencio..."... Hannibal consegue tudo o que quer, porque é o que de mais inteligente existe no ser humano... a sua vantagem, como sempre (e em jeito de antecipação da era que viria surgir), é a informação - informação que poucos neste mundo querem realmente saber: ele conhece o ser humano. As vidas, as rotinas, as pequenas coisas do dia a dia sao apenas estradas para chegar á essência de cada um... desse ponto, e sob esse ponto de vista, ele passa a ser juiz, júri e carrasco (avalia, julga/sentencia e executa), mais uma vez, um sonho (ou pesadelo) de qualquer um... poderá ser isso que nos atrai nesta série de filmes mas que também nos repugne... A informação, assim e como sempre, pode ser usada para o bem ou para o mal... neste filme tudo se confunde, antes, tudo é ambíguo, tudo tem duas cabeças... quem é o bom, quem é o mau?... Neste filme, Clarice é incrivelmente "cinzenta", nao se enquadra em nenhuma das facções, se bem que o seu ardil na pseudo-proposta (um mobil para começar a fazer falar Hannibal) é uma mentira (algo mau) mas feito a bem... quanto mais rápido as pessoas julgarem os personagens pelas situações imediatas, mais rapidamente se enganam... quanto maior o erro, maior a queda, e a grande ironia (diante a "trilogia+1"... pronto, a tetralogia... se bem que...) é a vida de Hannibal... a grande "chapada" vem no ultimo filme feito (que nao deve ter sido por acaso a ser o ultimo, a "chave")...
Como em tudo na vida, é preciso ver as coisas como aconteceram ao longo do tempo... não é por acaso que temos memória e capacidade de projecção para o futuro... há que ver a história toda, se queremos compreender o melhor possivel, ver a "wider picture"... essa é, quanto a mim, a maior lição deste conjunto de filmes... quantas vezes não a esquecemos?...

2 comentários:

Anónimo disse...

Na verdade eu sinto uma grande empatia pela Clarice. Identifico-me nalguns aspectos... tenta manter uma postura logica, racional do bem e do mal. Mas o fascinio, admiracao ( a meu ver paixao) pelo vilao, fá-la sentir despida, desconforatvel... e atraída e traida. As mulheres sao capazes de sentimentos contraditorios em simultaneo.
bjs

Hélio disse...

Sim, concordo que haja paixao dela pelo Hannibal, aliás, é mais um dos atractivos do filme, a negação dessa paixão... Num filme de extremos ela é o meio, ela é o fiel da balança, dai eu achá-la bastante cinzenta... mas é um cinzento perfeito, sabes? um cinzento imparcial que se fosse mais claro ou mais escuro obrigaria a que pertencesse a uma das duas facções... e com a dualidade de sentimentos que sente, continua a ser imparcial apesar de viver com os seus sentimentos em eterno conflito... como é possivel viver-se assim? Falando por mim, sou bastante "one-track minded" e quando sinto qq coisa tenho que ser fiel a esse mesmo sentimento... sentimentos em conflito para mim são algo que se tem que resolver senão nao se apreciará em plenitude nem uns nem outros... Não é facil, ja que os sentimentos sao o que são, incontroláveis, insondáveis como a propria vida, e será talvez uma utopia :) mas esta tenho-a conseguido tornar real na medida do possível...
Bjs Maestrina!