8 de maio de 2009

Hoje acordei de neura. Dormi pouco, mal e quando acordei, as coisas pareciam-me vazias, ocas, desprovidas de sentido. Enfim, mais uma para a caixa, não é?...

Aparte disso, creio que o dia esteve muito bonito. A certa altura apeteceu-me imenso fugir daqui do lab e ir para a praia. Fugir mesmo, nem que fosse a correr, estrada fora, atabalhoadamente ou com passos decididos, mas fugir... deixar para trás todo o caos que é esta vida e que, cada vez mais, tenho dificuldade em aceitar como normal, como o comezinho "ah, tem de ser, não é?"... Não, porra, não tem de ser! Só tem de ser porque alguém, um dia, achou que tinha de ser senão a vida dele não faria sentido...

(O que é fazer sentido?

Eu corria ou correria no alcatrão escaldante em busca de um consolo, de um bálsamo para a alma, de uma fonte de água fresca. Era por isso que correria. Como se poderá encarar o mundo se o 'nosso' mundo não está preparado para isso? Ao tentar ordenar as ideias, encontro peças perdidas, elos com o passado de um absurdo espantoso, farrapos desnecessários mas que quando os tento deitar fora penso "porque é que vou deitar isto fora?". Um dia, de tanto deitar fora, limpar e arrumar, ficarei sem nada que faça a ligação do que sou ao que já fui... De facto, esse é um dos problemas que tenho: olhar para trás, certas fases da minha (ainda curta) vida e ver que dessas pessoas que eu fui já nada resta. Mais interessante, entre cada uma delas havia pontos em comum, que iam mudando, mas da pessoa que eu sou para qualquer uma dessas pessoas, muito pouco ou nada há em comum.

O que se passou? Onde foi que me perdi?

Sim, não posso culpar ninguém disso, deste fenómeno. Afinal, se eu acreditei nas pessoas, se eu tive fé nelas (alguma pelo menos), não foi com uma pistola apontada à cabeça (uma expressão bastante infeliz, até). O que veio a acontecer depois foi e é, assim, da minha inteira responsabilidade. As pessoas foram e/ou são o que tinham/têm de ser e eu fui e/ou sou aquilo que tive/tenho de ser.
Em Vida, no entanto, nada é imutável (que é outra maneira de dizer o mítico "enquanto há Vida há Esperança"). Acredito, tenho de acreditar, acredito sempre (entre isso e o Nada, prefiro algo que exista, pelo menos!), ainda que cada vez mais à guisa de um Pulsar, que poderei um dia encaixar tudo na minha cabeça, de um modo em que faça sentido, independente das situações, pessoas e locais, a minha própria Teoria de Tudo, tão ambicionada por Einstein e quejandos. É a teoria mais utópica e ambiciosa que se possa imaginar. É a compreensão de todas as pessoas, sem esforço, sem receios. É, acima de tudo, a compreensão de Eu mesmo (e aqui falo em "Eu" porque cada teoria é pessoal e cada um terá a sua). Isso é o que mais almejo: a compreensão de mim próprio. Sem isso, tudo fará tanto sentido como uma palha deitada ao vento: a fundação da nossa Vida não está lá, o Eu não está presente, tudo é feito em sinal exterior, em função do Outro e não do Eu.

Equação dificil já que o Eu é também feito do que os Outros nos fazem.

(e agora, isto, já fez sentido?)

O sol é ardente e a estrada, a cada passo que dou, parece cada vez mais longa. Acho que não escolhi bem as sapatilhas de corrida apropriadas. Ou não estimei bem as distâncias. Quem disse que fugir é fácil? Quem disse que fugir de tudo o que damos por garantido é fácil? Nunca o é. Fala-se, muitas vezes, em fugir até de nós mesmos (quem sabe se não estarei a fazê-lo?... mas já fugi mais do que agora!) mas o que uma pessoa nao adivinha é o caminho que é feito até se chegar ao destino que se deseja. Toda a gente que foge tem um destino, qualquer, imaginário, um ponto final, um ponto de paragem nem que seja momentâneo, para tomar ar, molhar as ventas, dar descanso ao bofe, aquele ponto de Paz (duradoura ou não) que justifica tudo, o instante pelo qual todo o sangue, suor e lágrimas valem cada microlitro do seu volume, cada segundo em que foram expulsos do corpo... Não se pode continuar a correr ad eternum, corre-se o risco de exaustão, falha cardíaca, colapso.

(mas quem é que te disse que eras corredor de fundo?)

Mas se não há nada aqui que me faça parar! Não acho eu beleza ao que me rodeia, não encontro harmonia, não acho eu propósito! Ou então, sou eu, cansado, exausto, já de olhos semi-cerrados, desesperado quase, por não ver um fim á vista de algo que não me lembro de ter pedido, ou um caminho que ainda adivinho maquiavelicamente longo, com aquela certeza dúbia de quem sente que já fez uns quilometros jeitosos e vê a estrada com miragens... algum sentido terá de ter...

9 comentários:

Deirdre disse...

Caro Hélio,

Fala quem teve a pior fase da vida aos 28 anos.
Fala quem está há 10 dias a tentar acabar de escrever esta resposta. Quando se trata de pequenos desafios, estilo 100 metros, é fácil. Mas este é mais estilo 1500, é preciso outro tempo de preparação e endurance, lol.
“- Sabe o que é uma religião, amigo Martín? (…) Uma religião é no fundo um código moral que se expressa por meio de lendas, mitos ou qualquer tipo de artifício literário a fim de estabelecer um sistema de crenças, valores e normas com os quais regular uma cultura ou uma sociedade. (…) Como na literatura ou em qualquer acto de comunicação, o que lhe confere eficácia é a forma, e não o conteúdo.
- Está a dizer-me que uma doutrina não passa de uma história?
- Tudo são histórias, Martín. Aquilo em que acreditamos, o que conhecemos, o que recordamos ou mesmo aquilo que sonhamos. Tudo são histórias, narrativas, sequências de acontecimentos e personagens que nos transmitem um conteúdo emocional. Um acto de fé é um acto de aceitação, aceitação de uma história que nos contam. Só aceitamos como verdadeiro aquilo que pode ser narrado. (…)”
O Jogo do Anjo, Carlos Ruiz Záfon.
O autor destas palavras é, estranhamente, o vilão da história. E porque? Porque aqueles que ousam ver para além da forma, aqueles que desafiam o instituído, só têm dois caminhos: mártires ou facínoras. Na história. Nas narrativas.
Já na realidade, há quem desafie o instituído e fique fora da história. É um caminho solitário (mas mais vale percorrê-lo acompanhado, lol), mas muito mais compensador.
Continua a escrever porque enquanto o fazes não desistes.
Bjs e bom fim-de-semana.

Ianita disse...

Enquanto não superarmos
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a buscar-nos em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.

Além destas palavras, que a cada vez que as leio me ganham novos e mais profundos significados... O caminho faz-se caminhando. Não que correr... passo a passo. Entretanto... podes parar para descansar, fazer uma massagem e quiçá ir a uma loja comprar outras sapatilhas. Entretanto já poderás retomar o caminhos, os passos, a corrida... renovado.

Kisses

Ianita disse...

* Não tens que correr...

Hélio disse...

Cara Dierdre,

Eu li o Jogo do Anjo :) É um livro cheio de verdades... Já aqui falei sobre fé, sobre a questão da fé e essa é uma das coisas que mais falta me faz... talvez tenha sido deslocalizada para outras coisas ou se tenha mascarado, nao sei... :)
Obrigado pelas belas palavras (que deram trabalho a escrever, bem sei) e pelo incentivo...

Bjs e bom fds para ti tb!

Hélio disse...

Ianita :D

Lembras-te daquela publicidade em que o tipo perguntava a um tipo numas bombas no meio de nenhures se ele tinha uma Cola e o saloio responde "Earl's Market... about 75 miles from here..." Pois eu acho que sou o gajo q quer a Cola e sinto a 75 miles de onde quer o Earl's Market ou o Paraíso seja... :) nem que fossem 75 inches... quero a Cola e já! :D

Fora de brincadeiras, doces palavras as tuas Ianita, as always... uma verdadeira 'de Nazaré' (e nao muito longe de lá também :) )

Beijos

Becas disse...

"Quem tem alma não tem calma" (Fernando Pessoa)

Verdade absoluta!!

Beijitos :)

Lita disse...

Mano, o problema é que assim que tiveres a Cola vais querer a 7Up e farás mais 75 Km "sem sentido". Mas são esses 75 Km que importam, sabes... é esse percurso que deve ser abençoado, a Cola é apenas uma desculpa. O Ego é que não sabe disso. Respira. Enjoy!
Aquele abraço!

Hélio disse...

Fadinha,

Então a minha alma deve ser do tamanho da alma russa... enooooooormeee e com uma enooooooooorme falta de paciência :)

Beijinhos grandes :)

Hélio disse...

Mana Linda,

obviamente que o que importa é a viagem e não o destino em si (ou pelo menos nao à mesma escala). Mas sim, como bem disseste, é um problema :) Eu quero respirar!! Tens aí uma botija de oxigénio?
Aquele abraço infindo! :)