3 de agosto de 2009


That's what Hell is: it's forgetting who you are.
Eric Kripke, 2009

(le suivant...)

Chegando a casa, Esperança mal conseguiu reconhecê-lo. Na sua face, a desolação e tristeza eram evidentes, mas era o choque que mais distorcia o rosto dele. O seu ar derrotado, chocado, o corpo encovado como que cansado depois de uma batalha, não tinham uma explicação lógica aos olhos de Esperança.
- Querido!... que foi que se passou?
Ele fez um gesto desprovido de significado, apenas acenando no ar, continuando a cambalear em direcção à sala.
- Estás encharcado! Tens de te trocar!! Queres apanhar uma pneumonia? Que se passou?? Diz-me!!
- Perdi... perdi tudo... as luzes... a confusão... os sócios... - sussurrou ele, olhando no vazio. Levantando as mãos e olhando-as, concluiu: - Tudo o que fiz... perdido... não temos nada... não tenho nada... - e, levantando os olhos - nem a ti, Esperança...

Calçou as botas e afivelou o cinto, ajustando a cimitarra à cintura. "Estes turcos sabiam o que faziam!", pensou, enquanto manejou um pouco a espada, golpejando o ar. "Esta espada é extraordinariamente fácil de manobrar, é leve e parece ser bastante robusta! Num corpo-a-corpo, a curva ajusta-se perfeitamente ao movimento do golpe no adversário. Eles não se deviam cansar muito nas batalhas...". A roupa, extremamente confortável, permitia um grau amplo de movimentos, ao mesmo tempo que mantinha a temperatura do corpo a um nível bastante agradável. "Não é grande fantasia, mas é algo diferente... um pouco como esta festa... Resta saber o que é que o Futuro reserva...". Saindo, fechou a porta à chave e dirigiu-se ao salão Noir.
Pelo caminho, encontrou Cláudio. Vinha vestido de Júlio César, devidamente coroado com uma coroa de louros e com um equipamento de General do Exército Romano: sandálias de couro, a túnica imperial púrpura atada à cintura, a armadura peitoral modificada de um General Romano, dourada, decorada com alto relevo, um Gládio com punho trabalhado e uma capa da mesma cor da túnica.
- Isso é que é luxo! Onde é que encontraste isso?
- Um tio meu é historiador e gosta de fazer reconstituições históricas. Ele conhece pessoal que trabalha em estúdios, na parte de adereços, e eu perguntei se por acaso não tinham um fato de Júlio César. Por acaso tinham! -
disse sorrindo amplamente.
- Bem, isso é que é sorte! Comparado com os meus "trapinhos"...
- Mas a tua fantasia de mouro não está mal também... pena que os meus conhecimentos de História estejam um pouco enferrujados... quem é que é suposto seres?
- Mehmet II, Sultão dos Turcos Otomanos, conquistador da capital do Império Bizantino, Constantinopla, em 1453. Uma fantasia simples mas, certamente, diferente.
- De facto, é diferente! Ao menos não vens de Sandokan! HAHAHAHA!!

Dirigiram-se então, juntos, ao salão Noir. Ao longe já se ouvia música e o riso alto dos convivas... parecia haver mais pessoas para além deles os quatro. Sabiam que o 'resort' não estava reservado só para eles mas não sabia que os outros hóspedes iriam à mesma festa.
Quando entrou, por entre cortinas, o cenário com que se deparou era, no mínimo, surreal, uma cena quase dantesca: para além dos fantásticos candelabros, um pouco deslocados no estilo em relação á restante decoração, uma quantidade profusa de tecidos suspensos do tecto, correndo pelas paredes, cobrindo-as, assim como ao chão, tornava a sala inteira numa tenda de proporções quase épicas. Imensas almofadas encontravam-se pelo chão, outras ainda maiores serviam de assento para alguns dos convivas que já se encontravam dentro da 'tenda'. Dos seus correlegionários, ainda não se encontrava lá ninguém. Passaram por dois jovens negros, musculados, que se encontravam à porta, trajados num estilo egípcio, zelando pelo acesso ao espaço. Os outros convivas falavam animadamente entre si, espreitando por cima do ombro ocasionalmente, como que certificando-se que ninguém, que os conhecesse, estivesse presente.
- Quem é esta gente, Cláudio?
- Pessoas como nós... mas com muito mais "papel". São pessoas que nunca aparecem nas revistas cor-de-rosa, nas colunas dos jornais, na televisão, senão muito fugazmente, muito de tempos a tempos, e só quando eles lucram imenso com essas... aparições. Eles 'certificam-se' que assim é.
- As pessoas que realmente detêm o poder no país, certo?
- Sim, feliz ou infelizmente, sim. De qualquer forma, é gente com a qual não te queres meter, de certeza. Têm temperamentos muito... complicados... Para além que os gostos deles são bastante... diferentes.
- Diferentes? Como assim?
- Diferentes... tu vais ver... Olha, vem aí o Álvaro.

Dirigiram-se entao ao colega e começaram a trocar impressões sobre aquele início de noite. Álvaro vinha vestido de Gengis Khan, uma fantasia que lhe assentava bem visto que, não tendo muito cabelo e com uns olhos relativamente mais amendoados que o resto das pessoas (não chegando a ser completamente asiático), se assemelhava vagamente a um mongol... só faltava a pele acobreada. Minutos mais tarde chegou Lionel, num fantástico fato de Frederico I, o "Barba Ruiva", Sacrossanto Imperador Romano, de armadura milanesa completa e espada cingida à cintura. Gabou os restantes colegas afirmando mesmo que estaria ali a melhor colecção de conquistadores da História.
- Olha que não Lionel... então e o Imperador Augusto, Alexandre o Grande, Ataúlfo o Franco, Ramsés II, Saladino, Ivan o Terrivel?... Acho que estamos muito longe das marcas que eles deixaram na História.
- Sim, mas ninguém mudou tanto o mapa, ou "agitou a jaula" como os que estamos a representar.
- Por acaso ainda hesite se não havia de vir de Carlos Magno mas ele não foi propriamente um Conquistador, foi mais um legislador, um gestor. Travou algumas batalhas com vizinhos mas nada que se assemelhasse a uma conquista. Isso tinha sido feito pelo seu avô Clóvis, o verdadeiro fundador da França
.
De subito, soou um gongo e todos os convivas se viraram para o sítio onde soou.
- Meus senhores!! Meus senhores, por favor, a vossa atenção! A nossa festa vai começar! Por favor escolham os vossos lugares!! Obrigado!!!
Um restolhar de tecidos e metal tomou imediatamente conta do lugar e os convivas começaram a sentar-se ou a reclinar-se em cima das almofadas enormes dispostas para o efeito.
- Ó pessoal, digam lá que isto não é um luxo? - disse Cláudio - Ainda melhor do que da última vez. Estes tipos são como o vinho do Porto...
- Calma, Cláudio, calma que isto ainda nem começou! Já estás a mandar 'tiros' para o ar porquê? A comida pode ser pior! E os 'extras' podem não ser tão bons como da outra vez...
- replicou Álvaro.
- Extras? Que extras?
- Calma, 'caloiro'... espera e verás. Hehehe...

O repasto começou e foi tudo o que esperar e muito mais. Delícias dos cinco cantos do mundo desfilaram à sua frente, uma selecção dos melhores nectares foi posta à sua disposição, tudo servido por um conjunto de raparigas e rapazes vestidos apropriadamente: eles, de tronco nu com umas calças de linho largas, em balão, sandálias e cintos dourados; elas, como cortesãs de um harém, com lenços e túnicas de cores intensas. A beleza de uns e de outros era visível e os convivas lançavam olhos cheios de cobiça e de desejo.
- Continuo a achar que este ano está melhor que a última vez. - falou Cláudio, quase sem espaço na boca com tanta comida.
Findo o repasto, outro conjunto de criados entrou com toalhas humedecidas para os convivas se limparem, seguido por outro grupo com algumas mesinhas e carrinhos de licores, conhaques e outras bebidas espirituosas. Os convivas iam tirando e escolhendo, enchendo várias vezes os copos. Começou-se a ouvir cantorias alimentadas a álcool e o ruído dentro do espaço aumentou significativamente. Mais tarde, recolhidos os copos, as luzes começaram a baixar e uma outra musica começou a soar.
Era uma música estranhamente hipnótica, de tonalidade ligeiramente oriental, com laivos africanos no ritmo, melodias antigas de encantos perdidos, agora claramente recuperadas. O canto de uma mulher surgiu, como que por magia, e seguiu-se-lhe o de um homem, alternando-se e, finalmente completando-se. Ele olhou à volta, para os colegas e restantes convivas. Uns, já estavam desmaiados pela quantidade de bebida que ingeriram, outros estavam meio sonolentos, e outros ainda estavam com uma expressão como se estivessem entre dois mundos, o da fantasia e este, sem saberem muito bem em qual deles acreditar. Nem ele próprio sabia bem em que mundo estava, pois o efeito das luzes, os cheiros que estavam no ar, a música de mundos místicos, tudo, no seu conjunto, criava um efeito de profunda ilusão. Uma cortina entreabriu-se e um grupo de bailarinos de ambos os sexos surgiu no espaço disponível. A sua dança era o complemento perfeito à música que se fazia ouvir: mística, hipnotizante, sensual, uma miscelânea de corpos semi-nus que se perpassavam, fundiam, cindiam entre luz e sombras, aromas no ar e movimentos que alternavam o rápido e o lento. A música acelerava de ritmo e subia de tom, gradualmente. "Isto parece uma cerimónia de um culto perdido, quase!...", pensou ele, com a pouca razão que lhe sobrava depois de minutos sob o efeito enfeitiçante do espctáculo que se desenrolava sob os seus olhos. Os corpos moviam-se com maior velocidade, em movimentos claramente sexuais, perdendo os trajos à medida que se movimentavam. Havia mais fusão entre os corpos, do que cisão, e os suspiros começavam a ouvir-se em simultâneo com a música; os cantores evocavam agora um mantra antigo, nitidamente hindú, que repetiam incessantemente, cada vez mais alto. Sem se dar conta, de olhos bem abertos ao espectáculo, também ele começou a evocar o mantra e sentiu-se mergulhar ainda mais num estado de relaxe profundo mas mantendo a atenção ao que se passava à sua volta; sentia-se excitado com tudo, vivendo um paradoxo sensorial entre o êxtase frenético e a total paz de expírito. Foi então que a música, que, tendo atingido o seu climax, começou a perder força, os bailarinos começaram a perder a energia e a movimentar-se cada vez mais lentamente, numa dança cada vez mais suave, mais terna, mais espiritual. E assim todos os sons e movimentos se esfumaram, quase sem se dar por isso, com a luz a convidar à meditação, ao conforto, às conversas a meia-voz, aos segredos evocados a meio da noite e que se perdem nos tempos.
O bailarinos sairam e, no seu lugar, surgiram homens e mulheres completamente despidos, trazendo na mão cálices. Puseram-se em linha e surgiu então outra figura, que se dirigiu aos convivas:
- Excelentíssimos senhores, creio que a grande maioria das pessoas aqui presentes sabem o que se vai seguir. - disse num esgar malicioso - No entanto, aos que nos honram com a sua presença pela primeira vez, passarei a explicar: este fim de semana é um fim de semana dos sentidos. Tudo aqui é feito para estimular cada sentido que o ser Humano possua, para estimular todas as sensações possíveis... de preferência as boas. Queremos oferecer aos nossos convidados a experiência sensorial mais plena que possa existir e é por isso que, depois da comida, da bebida, da música e da dança, temos aqui estes senhores e estas senhoras para vos fazerem... companhia o resto da noite. Tudo é permitido, pois os sentidos humanos são livres, e livre de complexos tem de ser esta noite. Atrevam-se a ir mais além do que o costume, atrevam-se a serem diferentes, a pensar diferente, atrevam-se a transcenderem-se, atrevam-se a serem... mais!
Com isto deixou a sala meio iluminada e os primeiros convivas levantaram-se para ir escolher o seu parceiro ou parceira. Ele estava de boca aberta com tudo isto.
- Cláudio! Será isto possível?? O que é que é suposto fazermos com estas pessoas??
- O que é que tu achas, ó cordeirinho?? É obvio que é para fazeres o que bem entenderes!! Conversar, beber, tocar, dançar, lamber, bater, foder, seja o que for! Ah rica noite!!
- disse Cláudio, esfregando as mãos.
- Mas... pelo menos nós, somos todos casados... e bem casados! Nunca vos ouvi mencionar sequer a hipótese de atraiçoarem as vossas mulheres!
- Isso é porque temos estes fins-de-semana de tempos a tempos! Se não tivessemos isto para quebrar a monotonia do casamento, acredita que não só já nos tinhas ouvido falar, como também fazer! Vá lá, relaxa pá! Levanta-te e vai buscar uma... ou um... o que quiseres mais vai lá e escolhe!
- Não sei que fazer... eu amo a Esperança, profundamente... não sei se sou capaz de fazer isso, de 'lhe' fazer isto...
- Desisto! És um caso perdido... então olha, quem vai ao ar...

Ficou a olhar para Cláudio enquanto pensava no que fazer. Seguramente, ele desejava outras mulheres, e as que estavam presentes eram de primeira água. Mas nada disso justificava qualquer loucura, qualquer acto impensado que o levasse a arrepender-se amargamente. E sim, ele sabia que se iria arrepender amargamente se o fizesse. Apesar disto, as palavras do cicerone ecoavam na sua cabeça...
Levantou-se. Dirigiu-se à mulher que lhe chamou a atenção assim que entrou na sala. Tinha o cabelo escuro, volumoso e liso, quase pelos ombros, quase estilo 'garçonne'. A cara era ligeiramente oval, lábios médios, como que gentilmente desenhados, com uma linha de maxilar e maçãs do rosto que lhe eram extremamente apelativas, nariz finamente talhado, ligeiras rosáceas na cara e os olhos... ele prendeu-se àqueles olhos no instante em que os viu: expressivos, com luz própria, com dois lagos que a espelhavam para onde quer que olhasse. O seu jeito ligeiramente tímido com que segurava o cálice, era enternecedor, e empatizou com ela, pelo que se lhe dirigiu. Esboçou um sorriso e apresentou-se.
- Chamo-me Selena. Não é o meu verdadeiro nome mas para esta noite deve chegar. - disse sorrindo suavemente. Era um sorriso encantador, não esforçado, não trabalhado, genuíno e sincero.
- Quer vir sentar-se comigo? Só para conversar um pouco...
- Com certeza, é para isso que aqui estamos. Vamos?
- Dirigiram-se ao lugar em que ele estava anteriormente.
- Já sei que é escusado fazer perguntas de caracter pessoal, imagino que se queira proteger. Por isso pergunto-lhe simplesmente, o que faz num lugar destes?
- Num lugar destes?... Não é um lugar muito mau. Isto que está a ver decorrer não é assim tão frequente, apenas uma vez ou outra por ano. No entanto, aquilo que ganho em aqui estar vale por um ano de trabalho regular. Não querendo dizer muito, posso-lhe dizer que não sou prostituta ou acompanhante de luxo no dia-a-dia. Soube disto por intermédio de outra pessoa, que já participou nisto. No entanto tenho uma vida bastante difícil. E este dinheiro vem mesmo a calhar.
- Então, mas se tem uma vida assim tão difícil, e sendo assim tão bela como é, não lhe seria fácil encontrar alguém com posses, que a pudesse tirar desse mundo?
- Infelizmente para mim, eu tenho valores morais e sei o que o meu coração pede. Não me vou casar com ninguém senão por Amor. É claro que se tiver uma carteira recheada, melhor!
- riu brevemente - Mas não sou nenhuma interesseira.
Selena deu um breve trago no seu cálice e ofereceu-lho, delicadamente. Ele recusou com educação.
- Que é que o cálice tem? Porque é que trazem os cálices?
- É uma questão estética mas também de segurança e de higiene. Há convidados com manias muito estranhas, mas mesmo estranhíssimas! Então, para nos protegermos, trazemos este para nós, sendo livres de partilhar o que bebemos com quem nos escolher. Mas temos de o manter sempre connosco. O meu tem uma selecção de sumos de fruta, com um toque de 'crème de cassis"... e um ingrediente para me deixar mais desinibida. Como lhe disse, não sou uma profissional. Tem a certeza que não quer?
- Bem, sendo assim, acho que vou dar um trago... Hmmm... óptima escolha!
- Obrigada! Não é nada de especial mas eu gosto muito.

Continuaram a falar pela noite fora. Ele observava de tempos a tempos o que se passava: haviam pessoas que se tinham posto imediatamente a ter sexo, outras demoraram mais, outras ainda pediram que lhes fossem facultados diversos acessórios, outros ainda estavam a ter sexo em grupo e chegou mesmo a ver práticas muito pouco ortodoxas. Tudo se passava ali, à vista de todos, sem tabus, sem receios. O mundo desaparecia assim que começavam a conversar, seja com que intuito fosse. "Há gente com cada mania...". A conversa com Selena continuou e descobriu nela uma mulher extremamente atraente também do ponto de vista emocional e intelectual. Trocaram impressões sobre tudo, desde a mais banal trivialidade até ao assunto cultural mais especializado. A certo ponto, ele disse:
- Sabe, depois desta noite, quase que tenho pena de não ser solteiro. Você é uma pessoa deveras especial.
- Você também!... Não é qualquer um que se dispõe somente a falar uma noite inteira, resistindo a uma mulher nua que assume que é belíssima. Palavras suas!
- disse, rindo-se.
- Pois é... mas a vida tem destas coisas e escolhi o meu caminho desta forma. Sabia que escolhendo assumir um compromisso com a Esperança, não olharia para outra mulher da mesma forma que ela.
- Esperança... belo nome! E que espera ela?
- Não sei... acho que espera o que, no fundo, a maioria dos seres Humanos espera: ser feliz. E eu tento proporcionar-lhe essa felicidade, o melhor que posso. É uma pessoa extraordinária. De certa forma, você faz lembrar-me dela...

A quantidade de sons lascívos, excitados, de gritos e gemidos, foi aumentando de frequência e de intensidade. Ele próprio estava a ficar um pouco excitado com a atmosfera que se fazia sentir no salão Noir. Olhou em volta, viu que alguns pares ja tinham saído, outros permaneciam no local, outros dormiam já. ou continuavam a dormir, conforme tivessem desmaiado da bebida, ou dormissem o sono dos amantes.
- De facto, isto aquí é de out...
Ela silenciou-o com um beijo. Ao início, apanhado de surpresa, ficou surpreendido e pensou em fugir mas algo o fez aceitar. Os seus labios eram perfeitos e o beijo soube-lhe divinalmente. Lentamente, muito ao de leve, tocou-lhe na coxa desnuda com a ponta dos dedos, sentindo-a. Era suave, uma pele de pêssego, lisa, imaculadamente lisa, optima de se sentir. Quis mais. Apoiou a mão toda na perna e com a mão livre, abraçou-a, aproximando-a para si num gesto terno. As suas costas eram igualmente sensuais, com ombros ligeiramente largos, a pele de toque semelhante à das pernas, mais suave ainda, firme ao toque, suaves as curvas. Ela, com as mãos ia-lhe tirando o colete e a camisa de seda, desnudando-lhe o peito. Simultaneamente, ele explorava já o seu peito, doce, com firmeza natural, mamilos absolutamente perfeitos, rosados. Descia suavemente, beijando-lhe o pescoço com doçura, num gesto apaixonado, passando para o peito, apreciando a suavidade da sua pele nos lábios, o seu doce perfume a brisa campestre numa manhã primaveril. Quanto mais a percorria, mais a desejava. Ela, por sua vez, acariciava-o suavemente e suspirava...
- Mais... isso... ahh... (suspiro)...
Desceu mais, beijando-lhe o ventre, sentindo cada centimetro da sua pele, sentindo-a vibrar de prazer. Não iria já dar-lhe tanto prazer, voltou para cima, beijando-a apaixonadamente. Ela desapertou o cinturão com a cimitarra, atirando-a para longe e desabotoou-lhe as calças de sultão...
- Não queres ir para o quarto?... Lá estávamos mais à vontade... - perguntou Selena.
- Só mais um pouco... antes de ir quero fazer vir-te toda...
- Hmmm... soa-me muito bem...
- e continuou a despi-lo lentamente.
Ele desceu a sua mão, mergulhando-a por entre as pernas, tocando-lhe, sentindo-lhe todo o sexo. Estava completamente molhada. Indo um pouco mais fundo, penetrou-a com os dedos, sentindo-a perfeita, vibrante. Selena gemeu de prazer e segurou-lhe no pulso, mantendo-o no sítio. Com um movimento firme e regular, penetrou-a sequencialmente, sentindo sempre a deliciosamente molhada. Alternando os movimentos entre a vagina e o clitóris, ela gemia cada vez mais...
- Sim, aí... ahhh, tão bom... isso... simmm.... mmmm... - Sentia-a vibrar cada vez mais, ela ardia de excitação - Entra em mim, quero-te já!
- Não, ainda não... aqui não...
- Ahhh... não me digas que não!... és um sacana...
- O climax aproximava-se e Selena mordia o lábio do prazer em que mergulhara sem rodeios - Mais rápido... sim... sim... mais fundo, mais forte.... ahh... ahhhhh... - Num estertor de prazer silencioso, entregou-se ao orgasmo que a percorreu frenetica e intensamentemente. A sua face era êxtase, o seu corpo era o Prazer encarnado. Lentamente desvaneceu-se, mantendo-se apenas o sorriso, descobrindo os profundos lagos da sua cara, que brilhavam intensamente.
Deixaram-se estar assim, lado a lado, abraçados, durante uns minutos, até que ela se virou para ele.
- Eu vim aqui dar prazer aos convidados... nunca pensei que quem viesse a ter prazer fosse eu! - disse, meio espantada.
- Tem calma, a noite ainda é uma criança! - riu-se e piscou-lhe o olho.
- E tu nem imaginas o que tenho reservado para ti. Vais desejar que eu nunca pare de te...
Foi interrompida bruscamente por um encontrão de um conviva, claramente bêbado, que cambaleava para trás, vociferando:
- PUTA DO CARALHO!!!... Não me queres lamber o olho do cu??... Estás aqui para quê, afinal???... Dei eu dinheiro para quê???... estás a gozar comigo, cabra de merda??... eu já te fodo, sua puta... já vais ver o que te faço...
- Não... não foi isso que eu disse! Nada disso!... Tenha calma... tenha calma, por favor...
- disse uma garota, morena, de formas bem arredondadas, com um ar um pouco mais novo que Selena.
- Foi, foi isso que disseste!! Eu disse-te: mama-me a picha, lambe-me os colhões e depois lambe-me o olho do cu!... e tu fizeste uma cara de nojo... quando lá chegaste abaixo levantaste-te de repente como quem ia vomitar... meto-te nojo, vacarrona do caralho??? Hã, porca??? Vou-te fazer como eu faço aos meus cavalos quando já não me servem p'ra mais nada!!!
Agachou-se e pegou na cimitarra que ele tinha trazido para o festim, desembainhando-a.
- Que bela faquinha, hein?... Anda cá puta!! Agora vais lamber isto!! Anda!! Lambe isto!!!!
A garota afastou-se mas foi agarrada por quem parecia ser os acompanhantes do exaltado e embriagado gordo.
- Estás a fugir, 'docinho'? - disse, fazendo boquinhas, ao chegar-se ao pé dela. - Não te vou fazer mal. O paizinho nunca faz mal a ninguém. Só queria que desses uns beijinhos na pilinha e no rabinho do papá, mais nada...
À medida que ele se aproximava, a garota tremia e debatia-se com cada vez maior intensidade. "Aquela é a minha cimitarra! Se aquele gordo estúpido lhe faz alguma coisa com aquilo, eu é que estou completamente fodido!", pensou, em pânico. Levantou-se repentinamente e gritou-lhe:
- Ó palhaço! Vê lá se devolves a 'faquinha' a quem pertence!!
- Tás a falar comigo, ó puto?... Queres o brinquedo, é?... Tem calma que já to dou... só vou dar uma lição a esta ordinária, por me ter desobedecido...
- Tu aqui não dás lição nenhuma, ouviste??
- Olha olha, o passarinho já pensa que canta de galo!... És um chico esperto?... Repara no que é que eu faço aos chicos espertos!
- e, sem contemplações, lançou a cimitarra na sua direcção. Ele, prevendo que faria tal coisa - "Bêbados só têm ideias de merda e gordos não gostam de se mexer muito, logo ele ainda me vai atirar aquilo" -, lançou o manto que pertencia à sua fantasia, acompanhando o movimento da lâmina, amortecendo-a. Enquanto isto, o gordo tinha avançado na sua direcção e tinha-o golpeado nas costas com o punho, atirando-o ao chão. Ele, apanhado de suspresa, tentou orientar-se virando-se para cima e só teve tempo de se desviar de mais um murro do peso pesado. Falhado que estava o golpe, o gordo desequilibrou-se e caiu redondo em cima da lâmina que ficara no chão, exposta.
Selena gritou e fugiu pela cortina por onde tinha entrado horas antes. A confusão estava lançada e todos os ocupantes daquele espaço procuraram fugir o mais rápido possível. Pessoas atropelavam-se umas às outras, os espíritos mais esclarecidos tentaram acordar os que dormiam o sono de Baco... mas nem todos foram acordados. No meio do caos instalado, algumas tochas cairam no chão e, quase instantâneamente, o fogo alastrou-se pelos panos que estavam montados no salão Noir, assim como às almofadas que estavam dispostas no chão, criando um braseiro impossível de ser suprimido. Lá fora, quem tinha escapado, e já se encontrava recuperado, observava o terrível e assombroso espectáculo que se tinha gerado. A noite dos Sentidos esfumava-se num pesadelo infernal...

(à suivre prochainement...)

1 comentário:

Sílvia disse...

O que parecia ser uma noite diferente, cheia de novas sensações tornou-se o inferno, como o da foto...
Espero pelo próximo capítulo...