18 de outubro de 2004

Tempo...

Hoje tenho a alma como o dia... Nasceu envolvida em penumbra, numa névoa que tudo cobre e que nao deixa a luz passar como é suposto. Tenho tudo esfumado, tudo cerrado, mente, corpo, alma, a alegria vedada e a felicidade reduzida. Não consigo esboçar um sorriso, só conter as lagrimas de uma agridoce tristeza por alguém que partiu e que não sei se volta... Essa dúvida, essa incerteza, tão adimensional como a de Heisenberg, é a humidade dessa névoa que me gela até aos ossos num tremor de medo.
Medo de quê? Daquilo que posso vir a perder. E o que tenho a perder é um mundo. O que tenho a perder é finalmente alguém que me pode compreender, alguém que pode entender esta tormenta que corre em mim, que não se assuste, que se encante por ela...
Tive uma visão. Vi que era possível ser amado, ser compreendido. Era uma visão linda como a luz do Sol num dia de Primavera, uma visão que nos faz suspirar e dar graças por estarmos simplesmente vivos. E como visão que era, assim que tentei tocar-lhe, desvaneceu-se. Num certo filme (ironicamente sobre Roma) o actor que fazia o papel do imperador César Augusto disse algo como isto: "Era uma vez um sonho. Chamava-se Roma. E perante este sonho so se podia sussurar. Tudo o que fosse mais que um sussurro, fá-lo-ia desaparecer pelo ar, como fumo." Há sonhos assim, que se lhe deitarmos luz para cima, se falarmos com eles,e eles desaparecem e acordamos. O acordar pode ser violento. Mas também pode ser suave como seda... A Vida tem de tudo; para o sabermos basta estar acordado...

Terei eu gritado?

Não sou Cesar Augusto. Nunca pretendi sê-lo excepto na sabedoria que ele tinha (isso dá sempre jeito). Mas concordo com as suas palavras. Não só sobre Roma (apesar de agora desejar com todo o meu fulgor que alguém tivesse gritado com esse sonho para que nunca tivesse existido) mas sobre outros sonhos em geral. Ténues, brutalmente reais, têm tudo para nos encantar e mudar a vida... mas para isso temos de a viver... e que os viver também...

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