28 de maio de 2009

Out of the Blue...

The greatest mystery is not that we have been flung at random between the profusion of matter and of the stars, but that within this prison we can draw from ourselves images powerful enough to deny our nothingness.
André Malraux

Tenho a cidade a meus pés. Numa noite morna como esta, há que aproveitar as belas coisas que a natureza nos dá. Sinto tudo longe de mim, a confusão, o ruído, a agitação desmesurada, a indiferença das pessoas na rua, a pressa de querer chegar sabe-se lá onde, o olhar que, focado, não consegue captar nem a imagem maior do que se passa à sua volta nem o pequeno detalhe que está mesmo ao seu lado... Como se pode ser assim tão cego? Será por querer? Será por não poder? Juro que não percebo as pessoas, por vezes, neste sentido: por nao saberem o poder imenso que têm nas suas mãos. Mesmo dizendo-lhes! A vida é uma dádiva, sim, mas é acima de tudo para quem a souber aproveitar. A mesa estendida com a comida em cima da mesa, que não se consegue ou quer tocar é tão inutil como uma pessoa com fome sem nada para comer.
O que levanta a questão: a nossa realidade, não seremos nós (em pequena ou larga medida) que a fazemos? A pergunta pode parecer estúpida mas creio que nao o é. E não o é no seguinte: as pessoas que estão tão enroladas na sua rotina, no seu dia-a-dia, na sua vidinha, saberão elas o que têm? saberão elas que podem ter muito mais? saberão elas que, mesmo sem sairem da sua rua, têm um mundo de infinitas coisas à sua volta?

Estive a pensar no teu post, mana linda, e tinha pensado nos últimos tempos nessa perspectiva da vida. Quando se perde tudo, quando se sente que se perde tudo, não há outro remédio senão esperar que o Tempo faça o que melhor sabe fazer e, lentamente, recomeçar a pegar em todos os pedacinhos da nossa vida, um por um. Lentamente, como numa grande arrumação, encontra-se tanta coisa que é também necessário fazer um trabalho de selecção, de triagem, do que serve e do que não serve. "O que é que isto está para aqui a fazer?!?", dir-se-á tanta vez, num misto de surpresa, alegria e alguma nostalgia... Não basta só ultrapassar as experiências. Não basta só tirar daí as lições, crescer. Porque acaba-se sempre por se levar a lição e a aula connosco... e pesa, mesmo mesmo muito. E um dia colapsa-se, cai-se por terra com todo esse peso tremendo, sem apelo nem agravo. Cai-se e pronto.

Que fazer?...

O que melhor o ser Humano sabe: levantar-se. Mas é preciso querer. E é preciso querer tanto que nos parece que nem a energia deste e de todos os outros Universos chega para nos fazer levantar uma mão, quanto mais o corpo. Mas temos que o fazer. É a nossa essência, está na nossa essência. E aqui se chega a uma conclusão "brilhante": é a nossa carga que também nos faz perder o contacto com a nossa essência e nos faz sentir que perdemos a motivação para tudo. Será? Não só mas também.
Há nuvens que nos enredam o Coração. De onde vêm elas? De todo o lado. Até de dentro de nós mesmos, quando assim o deixamos ou, quiçá, queremos. A sensação de não nos conseguirmos encontrar, de não nos conseguirmos ver. Não só mas também.

Deixam-se coisas para trás. Tem que ser. Mas deixando isso para trás, não me estarei também a deixar para trás? Sim, um pouco... mas há a lição valerosa da cobra: para crescer ela tem de deixar a sua pele para trás. É um pouco de si e no entanto ela deixa. Sabe que já não lhe serve, que perdeu o seu propósito. "Mas é o que ela é!" Não! É o que ela foi. E no entanto nunca deixa de ser cobra, a mesma, a de sempre. Simplesmente chega o momento e voila! Just do it! Entra cobra e sai cobra! Há medos? Se há, ela nem pensa neles.

Pensa-se demais, talvez... ou sente-se de maneira errada, quiçá? Isso poderá ficar para outro dia... corrijo, finalmente, e se a isso me for permitido, Malraux: "...within this prison we can draw from ourselves feelings powerful enough to prove our wholeness or our nothingness.". Now, you choose...

26 de maio de 2009

Battle pt. 2, ou, Como ser atormentado sequencialmente todos os dias à mesma hora...

Sinceramente acho que há coisas que chateiam um bocado (mas só um bocadinho). E haver coisas que me desequilibrem é uma delas. Perguntam vocês: mas que coisas são essas? E eu respondo: tantas! Uma das coisas que mais me afecta são os sonhos. E ultimamente têm sido um pouco violentos (sendo que 'pouco' é favor). Gostaria de descrever aqui alguns mas a questão é que nem sequer me lembro deles em concreto. Lembro-me deles ao acordar e a energia remanescente perdura durante umas horas. O mais engraçado é que é sempre (ou deve ser sempre) à mesma hora (se eu conseguisse ver as horas logo o diria com mais certeza), sendo que, menor dos males, acontece sempre a uma ou duas horas da hora de me levantar. Estranhíssimo, no mínimo. Ou seja, a minha cama tornou-se num campo de batalha nocturna. Ora, eu até gosto de batalhas mas com estas duas condicionantes:

1) Estar acordado! - Dá jeito! Acho que batalha que é batalha deve poder concentrar toda a atenção no combate, de modo a que seja justo (no mínimo);
2) Conhecer o meu adversário, ou objectivo - e, neste caso, nem a um nem a outro. Lutar contra quem? E para quê?

Já não bastava, então, estar a tentar reequilibrar-me (sendo essa uma das maiores batalhas, a qual têm vindo a acompanhar regularmente os desenvolvimentos), também de noite tenho de estar com pé atrás? Como é que querem que uma pessoa consiga desempenhar bem as suas funções todos os dias se não ha condições?... Não há, não! E posso garantir que esta noite julguei estar á beira da insanidade... que ia começar a ver coisas ou assim (tão absurdo e surreal foi o pesadelo).

Ontem encontrei esta foto na net...



...e achei que é a imagem que melhor me descreve de momento. Das duas uma, ou sou convencido, ou até me menorizo...

"Coitadinho de ti, sempre a queixar-te... és um menino!! Não podes com nada!... Com que então não gostas de pesadelos?... E também não gostas de não sentires nada em relação a coisas que gostavas... e de te sentires injustificadamente ansioso... e o rabinho lavadinho com aguínha de malvas, não?... ohhh páaa, cresce e aparece!"

Sim, sim, eu sei que posso ser tudo isso e mais alguma coisa... mas quem sabe aquilo que eu sou e do que gosta sou eu! Como ja disse uma vez, os outros só terão um vislumbre daquilo que sou (assim como eu deles). É um mundo de vislumbres, no fundo. Se eu digo que sou um ser de Luz, apresentem-me provas que não o sou. Se eu digo que tenho direito a ser feliz, porque acredito ser esse uma das nossas condições de passagem por este mundo, provem-me que não tenho esse direito. Se eu digo que é possivel ter mais e melhor, mostrem-me onde está escrito que não posso!!

É absolutamente impressionante o que o ser Humano faz do seu Ser... fazer dele um antro de ressentimentos contra outrém em vez de uma casa de Amor é algo que me deixa muito muito confuso... sim, também sou humano, também tenho os meus telhados de vidro nesse assunto (são mais cúpulas, se calhar) e não sou nenhum santo nessa matéria. Só posso dizer que tento melhorar e é precisamente por saber que devo fazer do meu Ser uma casa de Amor que tento melhorar. E se, ao partilhar estas coisas com outros, conseguir fazer alguém pensar, já é uma pequena vitória.

Fazendo as continhas e a prova dos nove, o que mais me assusta no meio disto tudo é que sei (mesmo nao querendo vê-lo por ser algo tão... [preencher á vontade do freguês]) que o maior inimigo de mim mesmo sou eu, é esta Dualidade em que vivemos de Bom/Mau, Luz/Escuro, Quente/Frio, Felicidade/Dor (et al.); é por ter um inimigo tão sabedor, tão conhecedor do que eu sou, das minhas falhas e pontos fracos, ter um inimigo que é uma faceta minha e, agrura máxima, ter que a amar (como nos poderemos amar senão a 100%?). E, curioso (ou síndrome de Estocolmo, quase), é impossível passarmos sem ele. Não é uma habituação, é mesmo a nossa natureza. No fundo são as minhas duas crianças: o Eu e o Também Eu. Amo às duas (pesadelos à parte) mas brevemente tenho de comprar trela e açaime a um deles...

18 de maio de 2009

WTF???

fooljugement tower

What in the world???…

9 de maio de 2009

Foto por Chris Friel

Na minha ronda matinal, encontrei pela net (um em blog, outro no iGoogle) duas citações que me levaram a esticar o neurónio a um sabado de manhã, e são elas:

"Perfection is achieved, not when there is nothing more to add, but when there is nothing left to take away." Antoine de Saint-Éxupèry

e

"Somos feitos de luz, toda a existência é feita de luz e, no entanto, o fenómeno mais estranho é vivermos nas trevas.

É realmente inacreditável como vivemos no escuro. É impressionante! Estamos todos a fazer um grande milagre: somos feitos de luz e vivemos na escuridão.

O motivo é que nunca olhamos para nós mesmos - olhamos para todos, observamos aqui e ali. Os nossos olhos estão constantemente a saltar de um objecto para outro, mas nunca ficam quietos e em silêncio para terem um pequeno vislumbre de nosso ser.

Esse pequeno vislumbre transforma-o, acorda-o. E então não há morte, não há limites para si. Você é ilimitado, você é a própria liberdade - e a alegria da liberdade é infinita.
" Osho, mestre Zen - "Meditações Para o Dia" (tirado daqui)

Acredito que estas duas citações não são exclusivas, até porque acho Saint-Éxupèry um grande Mestre (Zen, ou nao). São duas formas de nos dizer a mesma coisa, até de uma forma complementar: Osho di-lo claramente, aquilo que já sabemos, que somos Luz, mas adiciona o fantástico ponto de vista que, de facto, tudo isto é um milagre dual, sabendo que somos Luz a viver na Sombra. E é. Saint-Éxupèry complementa e diz que a Perfeição, forma última da Luz, é atingida quando "nada mais há a levar", ou seja (a meu ver), quando nada mais há a obstruir o brilho que nós somos. E também é.
Há tanta coisa à nossa volta e em nós que nos "oculta". Tanta coisa que impede que a verdadeira Luz que somos brilhe, tocando os outros... Já imaginaram este conceito? Luz que toca Luz!... e que fica mais forte cada vez que o faz!...

Há dias assim, em que me sinto pura Luz... são os dias em que vou lentamente para casa, os dias em que caminho seguro pelo Metro, observando a correria à minha volta, com um sorriso interno (sei-o porque os meus labios não se mexem mas sinto-me a sorrir...) e - nunca repararam se e quando o fazem?- as pessoas abrandam ou quase que param a olhar para vocês! É aí que sinto a pura Luz a tocar nos outros, como alguém que lhes toca no ombro e diz "psst, amiguinho, acorda lá e brilha um bocadinho também, vá lá!" e sentir este espanto que os arrasta, nem que por momentos, afasta e fá-los abrandar do ruído do dia-a-dia é uma sensação tão simples e enriquecedora... é esta sensação que é a Luz de retorno... as pessoas relembram-se do que são, como um vislumbre (o tal vislumbre que Osho também fala), e, engraçado!, na maioria das vezes sem o saber.
Dias há também em que me sinto "emparedado" por todas as outras coisas que carrego em mim, como todos. É uma sensação asfixiante. É aí que me surge a tal vontade de fugir, como referi no post anterior. A Luz não foi feita para ser enclausurada. A Luz é a Liberdade na sua natureza mais pura, mais genuína, mais elevada, mais divina. Fechem-na, e aniquilam-na imediatamente... A Luz tem de correr, tem de saltar, voar por aí, pardal á solta, ar puro e sangue na guelra... Pura felicidade.

Acabo de escrever esta frase e releio a ultima frase de Osho "Você é ilimitado, você é a própria liberdade - e a alegria da liberdade é infinita." E finalmente compreendi.

8 de maio de 2009

Hoje acordei de neura. Dormi pouco, mal e quando acordei, as coisas pareciam-me vazias, ocas, desprovidas de sentido. Enfim, mais uma para a caixa, não é?...

Aparte disso, creio que o dia esteve muito bonito. A certa altura apeteceu-me imenso fugir daqui do lab e ir para a praia. Fugir mesmo, nem que fosse a correr, estrada fora, atabalhoadamente ou com passos decididos, mas fugir... deixar para trás todo o caos que é esta vida e que, cada vez mais, tenho dificuldade em aceitar como normal, como o comezinho "ah, tem de ser, não é?"... Não, porra, não tem de ser! Só tem de ser porque alguém, um dia, achou que tinha de ser senão a vida dele não faria sentido...

(O que é fazer sentido?

Eu corria ou correria no alcatrão escaldante em busca de um consolo, de um bálsamo para a alma, de uma fonte de água fresca. Era por isso que correria. Como se poderá encarar o mundo se o 'nosso' mundo não está preparado para isso? Ao tentar ordenar as ideias, encontro peças perdidas, elos com o passado de um absurdo espantoso, farrapos desnecessários mas que quando os tento deitar fora penso "porque é que vou deitar isto fora?". Um dia, de tanto deitar fora, limpar e arrumar, ficarei sem nada que faça a ligação do que sou ao que já fui... De facto, esse é um dos problemas que tenho: olhar para trás, certas fases da minha (ainda curta) vida e ver que dessas pessoas que eu fui já nada resta. Mais interessante, entre cada uma delas havia pontos em comum, que iam mudando, mas da pessoa que eu sou para qualquer uma dessas pessoas, muito pouco ou nada há em comum.

O que se passou? Onde foi que me perdi?

Sim, não posso culpar ninguém disso, deste fenómeno. Afinal, se eu acreditei nas pessoas, se eu tive fé nelas (alguma pelo menos), não foi com uma pistola apontada à cabeça (uma expressão bastante infeliz, até). O que veio a acontecer depois foi e é, assim, da minha inteira responsabilidade. As pessoas foram e/ou são o que tinham/têm de ser e eu fui e/ou sou aquilo que tive/tenho de ser.
Em Vida, no entanto, nada é imutável (que é outra maneira de dizer o mítico "enquanto há Vida há Esperança"). Acredito, tenho de acreditar, acredito sempre (entre isso e o Nada, prefiro algo que exista, pelo menos!), ainda que cada vez mais à guisa de um Pulsar, que poderei um dia encaixar tudo na minha cabeça, de um modo em que faça sentido, independente das situações, pessoas e locais, a minha própria Teoria de Tudo, tão ambicionada por Einstein e quejandos. É a teoria mais utópica e ambiciosa que se possa imaginar. É a compreensão de todas as pessoas, sem esforço, sem receios. É, acima de tudo, a compreensão de Eu mesmo (e aqui falo em "Eu" porque cada teoria é pessoal e cada um terá a sua). Isso é o que mais almejo: a compreensão de mim próprio. Sem isso, tudo fará tanto sentido como uma palha deitada ao vento: a fundação da nossa Vida não está lá, o Eu não está presente, tudo é feito em sinal exterior, em função do Outro e não do Eu.

Equação dificil já que o Eu é também feito do que os Outros nos fazem.

(e agora, isto, já fez sentido?)

O sol é ardente e a estrada, a cada passo que dou, parece cada vez mais longa. Acho que não escolhi bem as sapatilhas de corrida apropriadas. Ou não estimei bem as distâncias. Quem disse que fugir é fácil? Quem disse que fugir de tudo o que damos por garantido é fácil? Nunca o é. Fala-se, muitas vezes, em fugir até de nós mesmos (quem sabe se não estarei a fazê-lo?... mas já fugi mais do que agora!) mas o que uma pessoa nao adivinha é o caminho que é feito até se chegar ao destino que se deseja. Toda a gente que foge tem um destino, qualquer, imaginário, um ponto final, um ponto de paragem nem que seja momentâneo, para tomar ar, molhar as ventas, dar descanso ao bofe, aquele ponto de Paz (duradoura ou não) que justifica tudo, o instante pelo qual todo o sangue, suor e lágrimas valem cada microlitro do seu volume, cada segundo em que foram expulsos do corpo... Não se pode continuar a correr ad eternum, corre-se o risco de exaustão, falha cardíaca, colapso.

(mas quem é que te disse que eras corredor de fundo?)

Mas se não há nada aqui que me faça parar! Não acho eu beleza ao que me rodeia, não encontro harmonia, não acho eu propósito! Ou então, sou eu, cansado, exausto, já de olhos semi-cerrados, desesperado quase, por não ver um fim á vista de algo que não me lembro de ter pedido, ou um caminho que ainda adivinho maquiavelicamente longo, com aquela certeza dúbia de quem sente que já fez uns quilometros jeitosos e vê a estrada com miragens... algum sentido terá de ter...