André Malraux
Tenho a cidade a meus pés. Numa noite morna como esta, há que aproveitar as belas coisas que a natureza nos dá. Sinto tudo longe de mim, a confusão, o ruído, a agitação desmesurada, a indiferença das pessoas na rua, a pressa de querer chegar sabe-se lá onde, o olhar que, focado, não consegue captar nem a imagem maior do que se passa à sua volta nem o pequeno detalhe que está mesmo ao seu lado... Como se pode ser assim tão cego? Será por querer? Será por não poder? Juro que não percebo as pessoas, por vezes, neste sentido: por nao saberem o poder imenso que têm nas suas mãos. Mesmo dizendo-lhes! A vida é uma dádiva, sim, mas é acima de tudo para quem a souber aproveitar. A mesa estendida com a comida em cima da mesa, que não se consegue ou quer tocar é tão inutil como uma pessoa com fome sem nada para comer.
O que levanta a questão: a nossa realidade, não seremos nós (em pequena ou larga medida) que a fazemos? A pergunta pode parecer estúpida mas creio que nao o é. E não o é no seguinte: as pessoas que estão tão enroladas na sua rotina, no seu dia-a-dia, na sua vidinha, saberão elas o que têm? saberão elas que podem ter muito mais? saberão elas que, mesmo sem sairem da sua rua, têm um mundo de infinitas coisas à sua volta?
Estive a pensar no teu post, mana linda, e tinha pensado nos últimos tempos nessa perspectiva da vida. Quando se perde tudo, quando se sente que se perde tudo, não há outro remédio senão esperar que o Tempo faça o que melhor sabe fazer e, lentamente, recomeçar a pegar em todos os pedacinhos da nossa vida, um por um. Lentamente, como numa grande arrumação, encontra-se tanta coisa que é também necessário fazer um trabalho de selecção, de triagem, do que serve e do que não serve. "O que é que isto está para aqui a fazer?!?", dir-se-á tanta vez, num misto de surpresa, alegria e alguma nostalgia... Não basta só ultrapassar as experiências. Não basta só tirar daí as lições, crescer. Porque acaba-se sempre por se levar a lição e a aula connosco... e pesa, mesmo mesmo muito. E um dia colapsa-se, cai-se por terra com todo esse peso tremendo, sem apelo nem agravo. Cai-se e pronto.
Que fazer?...
O que melhor o ser Humano sabe: levantar-se. Mas é preciso querer. E é preciso querer tanto que nos parece que nem a energia deste e de todos os outros Universos chega para nos fazer levantar uma mão, quanto mais o corpo. Mas temos que o fazer. É a nossa essência, está na nossa essência. E aqui se chega a uma conclusão "brilhante": é a nossa carga que também nos faz perder o contacto com a nossa essência e nos faz sentir que perdemos a motivação para tudo. Será? Não só mas também.
Há nuvens que nos enredam o Coração. De onde vêm elas? De todo o lado. Até de dentro de nós mesmos, quando assim o deixamos ou, quiçá, queremos. A sensação de não nos conseguirmos encontrar, de não nos conseguirmos ver. Não só mas também.
Deixam-se coisas para trás. Tem que ser. Mas deixando isso para trás, não me estarei também a deixar para trás? Sim, um pouco... mas há a lição valerosa da cobra: para crescer ela tem de deixar a sua pele para trás. É um pouco de si e no entanto ela deixa. Sabe que já não lhe serve, que perdeu o seu propósito. "Mas é o que ela é!" Não! É o que ela foi. E no entanto nunca deixa de ser cobra, a mesma, a de sempre. Simplesmente chega o momento e voila! Just do it! Entra cobra e sai cobra! Há medos? Se há, ela nem pensa neles.
Pensa-se demais, talvez... ou sente-se de maneira errada, quiçá? Isso poderá ficar para outro dia... corrijo, finalmente, e se a isso me for permitido, Malraux: "...within this prison we can draw from ourselves feelings powerful enough to prove our wholeness or our nothingness.". Now, you choose...
Tenho a cidade a meus pés. Numa noite morna como esta, há que aproveitar as belas coisas que a natureza nos dá. Sinto tudo longe de mim, a confusão, o ruído, a agitação desmesurada, a indiferença das pessoas na rua, a pressa de querer chegar sabe-se lá onde, o olhar que, focado, não consegue captar nem a imagem maior do que se passa à sua volta nem o pequeno detalhe que está mesmo ao seu lado... Como se pode ser assim tão cego? Será por querer? Será por não poder? Juro que não percebo as pessoas, por vezes, neste sentido: por nao saberem o poder imenso que têm nas suas mãos. Mesmo dizendo-lhes! A vida é uma dádiva, sim, mas é acima de tudo para quem a souber aproveitar. A mesa estendida com a comida em cima da mesa, que não se consegue ou quer tocar é tão inutil como uma pessoa com fome sem nada para comer.
O que levanta a questão: a nossa realidade, não seremos nós (em pequena ou larga medida) que a fazemos? A pergunta pode parecer estúpida mas creio que nao o é. E não o é no seguinte: as pessoas que estão tão enroladas na sua rotina, no seu dia-a-dia, na sua vidinha, saberão elas o que têm? saberão elas que podem ter muito mais? saberão elas que, mesmo sem sairem da sua rua, têm um mundo de infinitas coisas à sua volta?
Estive a pensar no teu post, mana linda, e tinha pensado nos últimos tempos nessa perspectiva da vida. Quando se perde tudo, quando se sente que se perde tudo, não há outro remédio senão esperar que o Tempo faça o que melhor sabe fazer e, lentamente, recomeçar a pegar em todos os pedacinhos da nossa vida, um por um. Lentamente, como numa grande arrumação, encontra-se tanta coisa que é também necessário fazer um trabalho de selecção, de triagem, do que serve e do que não serve. "O que é que isto está para aqui a fazer?!?", dir-se-á tanta vez, num misto de surpresa, alegria e alguma nostalgia... Não basta só ultrapassar as experiências. Não basta só tirar daí as lições, crescer. Porque acaba-se sempre por se levar a lição e a aula connosco... e pesa, mesmo mesmo muito. E um dia colapsa-se, cai-se por terra com todo esse peso tremendo, sem apelo nem agravo. Cai-se e pronto.
Que fazer?...
O que melhor o ser Humano sabe: levantar-se. Mas é preciso querer. E é preciso querer tanto que nos parece que nem a energia deste e de todos os outros Universos chega para nos fazer levantar uma mão, quanto mais o corpo. Mas temos que o fazer. É a nossa essência, está na nossa essência. E aqui se chega a uma conclusão "brilhante": é a nossa carga que também nos faz perder o contacto com a nossa essência e nos faz sentir que perdemos a motivação para tudo. Será? Não só mas também.
Há nuvens que nos enredam o Coração. De onde vêm elas? De todo o lado. Até de dentro de nós mesmos, quando assim o deixamos ou, quiçá, queremos. A sensação de não nos conseguirmos encontrar, de não nos conseguirmos ver. Não só mas também.
Deixam-se coisas para trás. Tem que ser. Mas deixando isso para trás, não me estarei também a deixar para trás? Sim, um pouco... mas há a lição valerosa da cobra: para crescer ela tem de deixar a sua pele para trás. É um pouco de si e no entanto ela deixa. Sabe que já não lhe serve, que perdeu o seu propósito. "Mas é o que ela é!" Não! É o que ela foi. E no entanto nunca deixa de ser cobra, a mesma, a de sempre. Simplesmente chega o momento e voila! Just do it! Entra cobra e sai cobra! Há medos? Se há, ela nem pensa neles.
Pensa-se demais, talvez... ou sente-se de maneira errada, quiçá? Isso poderá ficar para outro dia... corrijo, finalmente, e se a isso me for permitido, Malraux: "...within this prison we can draw from ourselves feelings powerful enough to prove our wholeness or our nothingness.". Now, you choose...