17 de março de 2006

Chuva...

Já ontem tinha vontade de escrever mas nao sabia o quê... Hoje o tempo que está a fazer dá-me uma oportunidade (mas nao só o tempo)...

O pseudo-Verão que aconteceu no início desta semana foi algo que nos renovou a energia e nos deu ânimo... estamos um pouco fartos de todo este tempo frio e desta chuva que muitas vezes cai quando nao deve, se bem que por outro lado temos consciencia que ela ainda faz muita falta (só isso nos faz aguentar tamanho cinzentismo)... eu quero os dias de Sol e de calor (não muito) de volta... estamos a precisar de animar!

Quem não está a precisar de animar é o pessoal de França. Depois do Maio de 1968, está a acontecer é a maior mobilização estudantil no país do sr. Chirac. E com toda a razão. Os senhores do poder querem dar a liberdade, a quem manda, de poder despedir sem justa causa e sem pré-aviso qualquer jovem até aos 26 anos sob sua alçada. O emprego, que era precário, tornou-se periclitante. Não pensem as pessoas que lá por isto se passar no país do queijo que não nos pode afectar. Nada disso. Sendo a França e a Alemanha os motores da União, o que acontece por lá, muito rapidamente acontece por toda a Europa (lembrem-se dos motins dos emigrantes em Paris). E tendo em conta que neste país há uma tendencia muito engraçada (ou não) de copiar tudo aquilo que ajude a limpar os números que temos de entregar á União, então, estes acontecimentos são bastante preocupantes. Houve direitos conquistados na Revolução dos Cravos, direitos esses que têm vindo a ser "actualizados" em nome de um deus (aos olhos de quem manda) maior, tornando-os cada vez menores... Por mim, esta situação nem m devia preocupar visto que, não tarda, estou fora da idade de perigo. Mas preocupa-me ver gerações vindouras com os empregos ainda mais precários, sem condições nem segurança para investir em algo concreto e útil para a sua Vida, não criando assim as condições para que possam cumprir a sua missão aqui na Terra. Se com estas medidas se pretende que a produtividade aumente, é preciso não esquecer que sob um clima de medo e repressão os resultados não aumentam mas sim diminuem consideravelmente. Vejam exemplos como o da empresa Google, em que os empregados passam mais tempo no trabalho do que em casa... a razão é simples: as condições que eles têm no trabalho são tão boas ou melhores que em casa, sendo que esta só lhes serve pra ir dormir (já que na empresa eles não têm camas). Uma empresa que investe no conforto e segurança dos seus empregados, mais facilmente ganha a sua confiança e, tomando os empregados a empresa como algo seu, o seu empenho e optimo desempenho. O princípio da Selecção Natural (se pensarmos num princípio de melhor pessoa para o lugar) é aplicável mas não quando todas as condições são adversas...

Não é meu interesse tornar este espaço num lugar político. Mas é meu interesse discutir tudo o que seja humano e humanista. E, a meu ver, esta intenção política está embuída de uma profunda desumanidade... Mas tenho a ressalvar que os responsáveis politicos deram ordens para que a Policia não retalie qualquer acção dos manifestantes, o que é de louvar... mas só isso...

2 comentários:

João Filipe Rodrigues disse...

Os exemplos de empresas como a Google só existem em paises onde as leis do trabalho são flexiveis. Se a Google não soubesse que tem na mão o poder de despedir qualquer empregado quando quiser e sem qualquer indemnização, não lhes dava essas condições.
Tu falas de precaridade, eu chamo-lhe ter de dar o litro para não perder o lugar para outro que tenha mais vontade.
Os trabalhadores da Europa continental, o Reino Unido é outra história, estão muito mal habituados. Durante o tempo de vacas gordas deram-se privilégios a mais, aumentaram-se demasiado os ordenados e quando esses tempos acabaram, muitas empresas ficaram com a corda na garganta.
Mais empresas vão à falência por causa da acção nefasta dos sindicatos do que por causa da incompetência dos patrões.
Quanto aos meninos franceses, eles que se habituem e também se habituem os de cá, as coisas vão ter de mudar, senão daqui a alguns anos não há empresas e não há emprego para ninguém.

Hélio disse...

Compreendo o teu ponto de vista mas nada disso aconteceria se os patrões nao fossem tão agarrados ao dinheiro de indemnizações que têm de pagar qdo despedem alguem por justa causa... Sou profundo adepto da meritocracia (sou absolutamente contra a mediocridade) mas tb sou adepto de haver alguma segurança no emprego... Erros todos cometem e há varios graus de erro e é em funçao disso que se devem avaliar os desempenhos e se uma pessoa deve continuar no projecto de trabalho ou não... Não sei se conheces a realidade francesa mas eu conheço-a bastante bem e com a personalidade que os franceses têm, este sistema so criaria (ou criará) mais instabilidade e a longo prazo, tudo isso se reflecte na economia: se o dinheiro nao circular, as empresas não têm por onde vender e entramos num ciclo vicioso que só tem desvantagens. Acho logico que, se as pessoas se sentirem seguras e com ordenados decentes (coisa que, por cá, na sua maioria, não existe) sentem-se mais confiantes em gastar uma parte cada vez maior do que auferem, o que leva a um aumento do fluxo monetário e a maior produção e a mais emprego (isto se seguirmos a logica). Gosto do sistema americano qdo ele funciona bem - trabalha-se á semana e se no final da semana as pessoas nao estiverem satisfeitas mandam o empregado embora (para alem de o poderem fazer qdo quiserem). Best man for the job! O problema é que nos ultimos anos esse sistema foi ameaçado pelo mm que leva alguns privilegiados por estarem nos quadros das empresas: o comodismo e a mediocridade de quem manda e é mandado. Em suma, a ideia do CPE em França é boa na teoria, nessa teoria em que os patrões sao bem formados não só tecnica como ética, moral e civicamente (que sempre é bastante melhor lá). Só que da teoria á prática...

Obrigado pelo comentário! :)