7 de fevereiro de 2008

Hoje estou com a telha. E tirando hoje, tenho andado com a telha. Mas sobretudo hoje, andei especialmente com a telha. Estou a começar a chegar à brilhante conclusão que o mundo não vale a pena o esforço. Lutar é palavra vã. É um mundo onde os egos se degladiam por terem mais peso que o do próximo, onde o bem que é feito não é retribuído nem na mais ínfima atitude de cordialidade. Vão pro diabo que vos carregue!

Mudando de assunto, e falando de algo que vale a pena ser falado (porque proveio de alguém que vale a pena o esforço), chegou-me ás mãos a seguinte frase:

"É um equívoco acreditar que um sistema de pensamento baseado em mentiras é fraco. Nada que tenha sido feito por uma criança de Deus deixa de ter poder. Todas as crenças são reais para aquele que acredita."

À partida esta ideia soa-me perfeitamente lógica mas é necessário analisar cada uma das afirmações que a compõe.
1ª parte - "É um equívoco acreditar que um sistema de pensamento baseado em mentiras é fraco." A nossa sociedade é baseada num sistema de mentiras. Todos sabemos isto. É ela fraca? Como a sociedade se tornou num lugar demasiado grande para verificarmos que, noutro ponto, ocorreu efectivamente algo, confiamos nos meios que nos veiculam a informação. Tirando no mundo científico, não creio que haja outro meio em que se verificam as fontes. Mesmo qualquer imagem que nos apareça no televisão pode ser editada de modo a ajustar-se aos interesses que estão por detrás de quem dá a notícia. Creio que foi assim que se passou no 11 de Set, em que mostraram imagens do povo palestiniano a festejar, notícia prontamente desmentida pelos próprios, afirmando que as imagens mostradas já eram antigas. É uma questão de credibilidade de quem nos fornece a informação. Politicamente é a mesma coisa: o sistema foi montado tendo em conta uma representatividade de proximidade mas, com o tempo, essa proximidade desvaneceu-se, substituiu-se pela representatividade do partido e, consequentemente, a representatividade dos seus interesses. Tendo em conta que um partido é sempre uma organização um pouco (ou um muito) obscura, não creio que seja um bom augúrio termos pessoas a defender interesses que não fossem os nossos. Conclusão logica: se o fundamento inicial e fundamental se perdeu (já não é verdade), então o sistema é uma mentira. Em termos de sistema de pensamento (lógico ou metafísico) a coisa já pia de outra forma. Envolve um dado importante: fé e a fé, como sabemos, é cega. Num sistema de pensamento temos sempre uma boa parte que é intangível, logo, fica ao nosso critério acreditarmos ou não que seja verdade, mesmo sem provas cabais. E o contrário está também correcto, visto que a mentira é também inverificável. Portanto, em termos absolutos, é viável haver um sistema de pensamento baseado em mentiras. É na inverificabilidade, na intangibilidade que reside a força do sistema.
2ª parte - "Nada que tenha sido feito por uma criança de Deus deixa de ter poder." O que é uma criança de Deus? Fazendo prova de fé, creio que somos todos crianças/filhos de Deus e, como tal, teremos tyodo o poder que Ele nos dá para realizarmos o que tivermos a realizar. Mas ponho-me agora no outro lado da barricada: e se não formos filhos de Deus, mas do acaso? Que poder nos é concedido? Sentimos em nós que temos um poder qualquer mas quem no-lo terá dado? A própria condição humana? A condição de sermos livres, de termos uma vontade? O Poder é independente, por esta ordem de ideias, de sermos crianças de Deus ou não. Independentemente do sistema de pensamento que utilizarmos ser mentira ou não, o poder intrínseco que temos garante que tornemos a matéria da nossa fé real e consistente (não usaria aqui a palavra forte ou fraca).
3ª parte - "Todas as crenças são reais para aquele que acredita." É a integração das duas anteriores! A crença em algo, baseado na fé, tornada realidade pela nossa vontade e poder de o tornar real, ou seja, verificando que existe sobreposição do imaterial, do intuído pela fé, com o que os seus sentidos captam e mente processa (numa palavra, o real) transporta sensivelmente o intuído para a realidade, transmite-lhe força de realidade. Integrando isto com a 1ª parte, não podendo verificar a veracidade concreta do que intui, mesmo que seja mentira, passa a ser real. Não confundir aqui real com verdadeiro, ou lógico com verdadeiro, ou lógico com real. São três conceitos distintos. O verdadeiro pode não ser lógico ou real, o real pode não ser verdadeiro (como só uma mentira o sabe ser) ou lógico e o lógico pode não ser verdadeiro (através de raciocínios distorcidos) ou real (no fundo, uma utopia).

Eu tenho crenças. Para mim são verdadeiras, são reais e têm força. Não as enfio pela garganta abaixo de outros, são para consumo próprio. Um dia alguém poderá mostrar que acredito numa mentira e aí todo o sistema desabará. Tudo bem. Mas faz parte da condição humana acreditarmos em algo superior a nós mesmos, nem que seja no nosso próprio potencial, na nossa existência. Até os nihilistas acreditavam em algo que no fundo era um não-algo: o nada. Admiravam-lhe a infinitude e o facto de nos/tudo transcender, de ele provir e a ele voltar. Mas sempre acreditavam em qualquer coisa. Bom pra eles!

3 comentários:

Anónimo disse...

Isso é que é pensar. Afinal não acabou com o blog e ainda bem.
Boa continuação de escrita.

Unknown disse...

engraçado como a nossa natureza é sempre complicar as coisas mais simples... Mas se assim somos por alguma razão é... Pensar é bom!Chegar a conclusões também. É engraçado como cada pessoa, com diferentes experiencias, tem pensamentos e conclusões um pouco diferentes... E como os caminhos de pensamento são também muito diferentes... Até qualquer dia! Beijinho!

' Claudjinha disse...

a vida não foi feita para ser uma luta... :)