Nothing in the world is permanent,
and we're foolish when we ask anything to last,
but surely we're still more foolish
not to take delight in it while we have it.
If change is of the essence of existence
one would have thought it only sensible to make it
the premise of our philosophy.
W. Somerset Maugham (1874 - 1965)
One needs to be slow to form convictions, but once formed
they must be defended against the heaviest odds.
Mahatma Gandhi (1869 - 1948)
A mind, like a home, is furnished by its owner,
so if one's life is cold and bare he can blame none but himself.
Louis L'Amour (1908 - 1988)
Quis sentar-me. Ali, perfeitamente colocado, enquadrado com a situação que deveria ocorrer, nem antes nem depois. Perfeito. Desastroso. Um comboio vindo do Destino que caía sobre os ombros. Sentia-me um Atlas, com mil mundos a carregar sobre as costas, eternamente. Titânico. Mais um... Vi-te deslizar como bruma sobre lago, ténue, tangente, quase etérea, à medida que te afastavas, chegando perto. Quis tocar-te, mas a força que exercias sobre mim era tão subtil como um transatlantico a dobrar a barra. Tremenda. Outros dedos me lançaste, os das palavras, que tocam onde mais ninguém consegue tocar. Céu de mim. Lanço-te as mãos, reflectes, lanço-te ideias, desvias, lanço-te a vida, estacas. As luzes ligadas. É tudo mais que Dali. É sangue espesso, é vida que cai às mãos cheias, em vazio. Dois universos em desafio divino para um empate épico na ausência do meio de Bem.
A cada passo que davas, o meu mundo tremia. Muralhas de sensações, contrafortes de emoção, tudo ruía cada vez que um passo teu te aproximava de mim.
"Então?... Como vamos fazer?..."
Nada. O vazio do meu cérebro dizia que estava tudo tão bem que não valia a pena mudar. Para quê? Mudar o que não existe? Absurdo! Não há geração espontânea, toda a matéria provém de algo, logo, irá ficar tudo na mesma. Porque não há nada. Morreu. Desapareceu. Deixou de existir, foi absorvido para outra dimensão intangível como esse teu íntimo incompreensivelmente blindado a todo o sentimento. Falas em relação, mas que é isso de relação? Uma ligação entre duas pessoas? Todos nós estamos ligados, de uma maneira ou de outra. O sangue é o mesmo, a carne, o número de genes, de ossos, de músculos, de sentidos, de merda, de tudo. As caras são diferentes, e depois?! Os pensamentos são diferentes, e então?! É isso que te faz única, aceito... mas não é isso que te faz diferente de mim, que te faz melhor ou pior. Estás a ver o que me fazes? Tudo isto é ruído, é a queda de uma montanha antes alta, agora debaixo da terra. Há que aproveitar enquanto o vento sopra de feição.
Tentas aquele gesto que sabes desconcertante. É. Mas dentro da ilusão oca em que vivemos, o que há a desconcertar? Sei, foi aquilo que eu te dei um dia e que me devolveste sem eu saber, sem eu querer. Foi num passe de magia, sem tempo nem massa, nem gesto nem Amor, que tudo se decidiu. Num lançamento de dados oblíquo, o resultado saiu-me mal. Levei o copo à boca e quis tragar todo o mundo. Ninguém pode ver isto, ninguém comprou bilhete para assistir a esta tragédia em... quantos actos? Quantos gestos sanguíneos? Quantos gumes tens para mim?... Sabê-lo-ia. Com tempo, delicada e paulatinamente. Cirurgicamente, revelações vibraram entre as costelas, estilhaçando sonhos. Mas que sonhos? Nunca o foram, unicamente fantasmas. Como se gera um fantasma? Com a intangível esperança de nunca se largar o objecto desejado, sem perdão, clemência, apelo, desagrado. Continuas a tentar o velho truque mas este macaco esqueceu-se. São nadas que cantas como sereia para mim, tentando cativar-me rumo a cabos de tormentas mas, minha querida, as pontas do velho mundo ficaram para trás!... Esqueces-te sempre das luzes que ficaram pelo caminho, dos faróis seguidos e esquecidos, impensados, correndo sempre para apanhar uma Luz que te escapa continuamente mas que receias profundamente. Porque te afogas de contra-vontade? Há muito que o meu corpo descansa em paz à sombra das marés, naquele sítio onde os tubarões não se atrevem a ir com medo... foi lá que me foste visitar da última vez, lembras-te? Era um lugar sereno, imutável em tempo e forma, de maravilhas e encantos feito, com sombras dançando com luzes matizadas... como assim não te lembras? Era a tua casa! Vieste de lá! Ninguém esquece o lugar em que a terra o cuspiu para o sonho...
Sempre foi isso que me encantou, sabes?... O teu desprendimento real, a invulgaridade das coisas que apanhavas à beira-caminho, o como apenas poisavas o teu carácter sobre as coisas e a seguir levantavas voo para aquelas paragens que só nos mapas de Matusalém apareciam. Como vias as pessoas daí de cima? Só vias azul? O mar era extenso não é?... Espera, não vás já para lá, fica mais um bocado, bebe mais um copo que o dia é curto e a vida é longa demais para se viver à sombra do orgulho menor do nada interno. Compreendo... mas que digo, compreendo tanto como aquela barata que vai ali a passar. Se queres ir, vai. Tens a rota traçada, o rumo apontado e a vela enfunada para outros universos a observar, mas não muito, claro - ao mastigá-los, podes sentir qualquer coisa, e isso é coisa que não se deseja - sentimentos (valha-nos Deus nosso Senhor!). Benze-te e que Deus te guarde de tais maquinações e congeminações mundanas, saberes o que o coração do Homem guarda dentro dele... Também és Humana? Desculpa, há tanto tempo que durmo e sonho que passeio por paisagens de mito que me esqueci do que é isso. Dá-me tempo para pensar na tua última pergunta, as coisas às vezes não vêm imediatamente, não sou uma máquina de Turing como tu, com a resposta dada antes da pessoa saber sequer o que vai perguntar. Já lá estavas à espera na curva, sacana...
Limpas a arma do crime com a tua boca. Gostavas de te queimar, ou cortar, ou sufocar, sei lá... já jazo no chão, indiferente ao que possas fazer... estranho como a corrente de sangue corre na direcção dos teus pés, deve ser do hábito. É só um resíduo, não te preocupes, isso depois sai bem com lágrimas, daquelas que não te custam a espremer desses olhos de morte morrida matada... sabes lá tu o que é chorar... Para chorar é preciso estar-se vivo, rapariga, é preciso ser-se humano, é preciso saber-se Amar, com A grande caso não tenhas reparado!! Tens de ter cuidado, olha o sangue, não vá ele contaminar-te de qualquer coisa que não queiras sentir a empeçonhar-te essa pele imaculadamente degenerada em tela figurativa onde pintei os meus prazeres. Foram coisas bonitas. Agora são medos, coisas impensadas pelo Maligno, arrenega! Não te esqueças de os limpar com água benta Neoblanc, que sempre te lava mais branco, mas não muito, não muito porque senão ainda te habituas mal e não há mais para limpar o sangue do chão... e não te esqueças de colocar o mesmo amaciador que puseste quando te conheci naquela terra à margem do Sol. Gosto de me rir disto, da tua cara especada a olhar para os meus restos no chão a serem lambidos por um cão tinhoso com ainda mais feridas que eu.
Conheci-te as costas, bem demais, tão perfeitas como as promessas que me fazias, quentes como as mil e uma noites em que fui Sheherazade cantando para ti uma fábula sempre mutável como o capricho delicioso da Vontade e do Sonho. Trazes um fio agarrado, com o qual espalhas o meu mundo aos quatro ventos para nunca mais se poder juntar coerentemente. Não faz mal; haverá um pouco de mim em cada lua que visitei de mão dada contigo, um pouco de ti também, se calhar, mas isso são beijos de borboleta na areia dos sonhos, ao vento não contam...
2 comentários:
Ainda o estou a digerir...vou pensar nele mais um pouco...mas desde já digo q adorei...
Beijos
Podia dizer que o texto é triste, e não deixaria de ter razão... mas o que fica é um sabor das palavras na boca, e estas palavras, Hélio, estas que escolheste assim encadeadas são pura poesia, e a poesia (a pura, a bela, a que não se faz para agradar, nem para vender) pulveriza sempre a tristeza.
É belo, belíssimo.
Parabéns.
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