27 de julho de 2009

To deny our own impulses is to deny the very thing that makes us human.
Andy and Larry Wachowski, The Matrix, 1999

Part of the inhumanity of the computer is that, once it is competently programmed and working smoothly, it is completely honest.
Isaac Asimov (1920 - 1992)


Hoje em dia, os computadores estão presentes em todo o lado. Não sou informático, mas sei que a capacidade que define um computador - a sua capacidade de computar, ou seja, de realizar operações lógicas automaticamente - está presente até no mais pequeno relógio digital. É isto que me leva a dizer que seria impensável (mas não impossível, como é óbvio) viver sem computadores. Criámo-los para que nos servissem, de uma forma rápida, eficiente e sem hesitações (e sem culpas por explorarmos alguém, atrevo-me a dizer). Criámo-los para que não fossem humanos. Criámo-los de uma perspectiva total e absolutamente lógica, racional. No fundo, foi como se tivessemos tirado uma parte integrante nossa, purificado e materializado num objecto de uso quotidiano.
Ora, tendo em conta que toda a gente que está a ler este texto trabalha com computadores, sabe-se que é chato ter um objecto que obedece única e exclusivamente às regras lógicas, matemáticas: quando dão para emperrar, porque estão muito ocupados a processar sabe-se lá o quê e não sabem fazer outra coisa na vida, emperram e acabou. E lá ficam eles nos seus cálculos infinitos, a moer palha, sem consciência que o estão a fazer. São uma ferramenta, o que é que se há-de fazer?...
Ser humano é, obviamente, ser muito mais do que isso. Partindo das citações que acima coloquei, é mais do que sermos impetuosos ou ser "squeeky cleanly honest"; é termos vontade própria, sermos, tantas vezes, irracionais, termos birras a sério, termos caprichos, ter dúvidas, no fundo, sentirmos e vivermos completamente as nossas emoções, aprendermos com elas, saber que não podemos passar sem elas, boas ou más, que são o sal da nossa Vida. Muitos neurologistas dizem que as emoções são o resultado do funcionamento normal do cérebro, não o desminto. Mas devo sublinhar que o cerebro não é constituido por uma unidade central de processamento única mas por biliões de células que funcionam ao mesmo tempo como processador e memória. E não funcionam por 0's e 1's. É muito mais complexo que isso. Há zonas dedicadas a determinadas funções, sendo que uma delas é dedicada à Lógica. Quando transposta para a parte consciente, sabemos que estamos a pensar racionalmente, numa lógica linear, com resultados seguros.
Como todas as nossas células nervosas comunicam umas com as outras, é normal que, muitas vezes, as partes que estão a processar informação lógica, estão a fazê-lo em simultâneo com a parte que está a sentir, a processar as emoções. Não questionando a infalibilidade do nosso cérebro, mas sabendo que so podemos consciencializar as coisas a 3D, de uma forma linear, é então que se dá a interferência da razão com a emoção. E é isso que tem a graça toda, é isso que também nos define como humanos. É pensarmos sobre as coisas E sentir emoção sobre essas mesmas coisas. É isto que nos torna tendenciosos, é isso que nos torna tão corruptíveis... é isso que nos torna únicos. Já imaginaram se fossemos máquinas meramente lógicas, com um potencial de processamento quase infinito (mas limitado no tempo) com capacidade de consciência? Pouco nos distinguiria de uma máquina, tirando a óbvia excepção que a máquina seria inorgânica e nós somos seres orgânicos. Mas, que nos diria que estaríamos a proceder bem ou mal? Como apreciaríamos a beleza ou a sua ausência, de algo que experimentassemos? Como determinaríamos quem seria o nosso companheiro, se não o escolhessemos com o coração? Como saberíamos, sequer, o que é o coração? No fundo, que nos definiria como humanos? Toda esta descrição é um exemplo extremado, bem sei, mas é um exemplo extremado de como seríamos se deixarmos a Razão deixar guiar as nossas vidas, deixar que qualquer raciocínio lógico controle as nossas decisões mesmo que o Coração, a fonte da emoção, nos diga que o correcto é NÃO fazer o que é lógico porque, de alguma forma, é isso que é o correcto a fazer. Nós não somos máquinas, nós não somos honestos: somos seres de carne e osso, orgânicos, pensantes, conscientes e sensíveis. Somos tudo isto, e somos Um. Magnífica e divinamente imperfeitos. "Pensentimos". Que pode ser (mais) um sinónimo de Humano...

1 comentário:

Sílvia disse...

Três expressões q adorei: pensentimos, emperrar e computar...
Mto boas!

Gostei mto do texto, c mtas verdades e simbologias...

Infelizmente ou felizmente penso mtas vezes c o coração

Beijos