20 de julho de 2009


Every man is guilty of all the good he didn't do.
Voltaire (1694 - 1778)

Quando eu era miudo, num daqueles doces dias de sol e diversão, calhou-me num daqueles pacotes de bugigangas sortidas que se compravam nos cafés um calendário com um dito popular. Era ele: "Não faças mal ao teu vizinho que vem-te o mal pelo caminho!". E eu, do alto dos meus tenros 8 ou 9 anos, fiquei a pensar naquilo. Seria verdade? Seria que, se fizesse mal ao meu "vizinho", imediatamente me aconteceria, como que por artes mágicas, uma desgraça? Era, ao mesmo tempo, fascinante e aterrador... O certo é que para mim aquilo soou-me uma espécie de 'justiça divina' e achei melhor não fazer nada de mal a quem não conhecia. Muitas vezes dei por mim a dizer este provérbio aos meus amigos e eles ficavam a olhar para mim mas depois pensavam duas vezes... sobretudo depois de lhes ter saído o tiro pela culatra de alguma travessura.

Os anos foram passando e a vida mostrou-me que, muitas vezes, quem faz o mal ao seu vizinho, não lhe vem o mal pelo caminho. Fui, assim, invadido por um profundo sentimento de injustiça nessas situações, e rapidamente esqueci esse dito popular. Não que me esquecesse de o pôr em pratica - por essa altura, já esse aspecto fazia parte do meu 'código de ética' - "perdi-lhe o rasto" na minha consciência. Mais tarde, ao 'acordar' para certos assuntos mais transcendentais, acabei por tomar conhecimento que uma das Leis do Universo pode ser traduzida precisamente dessa forma. A Física também a traduz: em estática ou movimento uniforme, por cada força de acção, existe uma força de reacção igual em intensidade, oposta em sentido" (corrijam-me se estiver enganado, a minha Física nunca foi muito boa...). Ou seja, esta Lei do Universo está à vista de todos.
Se uma pessoa mantiver isto em mente, e decidir querer ser bom para si, parte do caminho passará por aí - dificilmente será visto a prejudicar alguém. Mas fará essa pessoa isso por temor da retribuição, ou por essência? Não serei eu o juiz disso... Creio que uma pessoa decente escolherá, inatamente, fazer o Bem. Mas uma pessoa boa, sentir-se-á incompleto, incapacitado, limitado se não sentir, se não souber que fez o maior Bem possível. Voltaire, creio, afirmou (talvez) a frase supra-citada a pessoas de decência duvidosa, ou seja, a pessoas que não fizeram todo o Bem que podiam voluntariamente. Mas o sentido que apresentei anteriormente parece-me, também, plausivel... No fundo, que juiz é mais temido: o Outro? ou o Eu?

1 comentário:

Sílvia disse...

Olá Hélio, q podias ter sido Henrique! Vejo q ainda nao bloqueaste os meus comentários...
Gostei do texto mas não pude deixar de me lembrar do filme "Colisão", em q os bons faziam coisas más aos outros e os maus faziam coisas boas. Porque cada um de nós já fez coisas más e boas aos outros mesmo tendo esse código de ética entranhado em si, mesmo q esse bem ou mal seja feito inconscientemente, acontece...pq, felizmente ou infelizmente somos apenas humanos.
Gosto de imaginar esse menino a abrir o pacote de bugigangas....

Beijos
Sílvia